Cadê o Emprego?

por Marco Krebs*


Os jornais de hoje revelam uma realidade alarmante: somando o número de pessoas desempregadas àquelas que o IBGE classifica de subocupadas (que estão trabalhando abaixo de sua plena capacidade), o resultado é 22,7 milhões. Isso significa que mais de 20% da força de trabalho no país estão sendo afetadas pelo desemprego. Mais da metade delas sem trabalho algum (11,6 milhões), e o restante com sua renda seriamente comprometida pela redução de demanda de mão-de-obra, atingindo particularmente os profissionais liberais (técnicos, prestadores de serviços, médicos, dentistas etc.), professores, entre outros.

É, de longe, a pior situação de desemprego já enfrentada pelos trabalhadores brasileiros na história. A crise atual terá, ao final deste ano, feito o país recuar cerca de 7% seu Produto Interno Bruto nos dois últimos anos. Nem a crise do início da década de 1930 foi tão devastadora.

Como chegamos a este ponto?

Qualquer pessoa minimamente esclarecida sabe que, com toda certeza, não foi o cenário internacional adverso. Não só o mundo, mas os países da América Latina cresceram neste período (e com menos inflação que nós, diga-se de passagem).

O segundo mandato do presidente Lula foi marcado por uma forte expansão fiscal, o que traduzindo do economês para o português, significa aumento significativo dos gastos públicos. Antônio Pallocci, à época já ex-ministro da Fazenda, alertava sobre os riscos de excesso de gastos desde o primeiro mandato de Lula, quando ainda era ministro, e era ferozmente atacado pela então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Dilma chegou a afirmar ainda no primeiro ano do segundo mandato de Lula que o ajuste fiscal com corte de gastos ficaria para o próximo presidente.

Quando assumiu a presidência em 2011, Dilma protelou mais uma vez o ajuste fiscal, alegando que “gasto público é vida”. E foi além. Disse que “não iria trocar crescimento econômico para que o país atingisse o centro da meta de inflação”.

Estava caracterizada a troca de metas de inflação por metas de crescimento, uma das essências do denominado pensamento econômico heterodoxo ou desenvolvimentista, que contrapõe o pensamento ortodoxo.

A corrente de pensamento heterodoxo já foi adotada várias vezes na história econômica do Brasil, invariavelmente com resultados catastróficos. Não obstante, os economistas da Unicamp e dos partidos de esquerda insistem que esta é a fórmula ideal. A receita é a seguinte: os juros são reduzidos de forma artificial, o Banco Central perde sua autonomia e a política monetária fica sob controle do governo (o que ocorreu a partir de 2011). Além disso, expande-se os gastos do governo ao máximo, e uma inflação de 6,5% é considerada “tolerável” e até benéfica por alguns defensores desta corrente.

A inflação pode até ser benéfica, mas depende para quem. Uma coisa é certa: não é benéfica para os mais pobres, que são os que mais sofrem com ela.

O aumento dos gastos públicos foi tal que em 2015 chegou a 43% do PIB, ou algo como 2,6 trilhões de reais. Você leitor pode estar pensando: mas e se os gastos públicos foram em investimentos, como infraestrutura, construção de escolas, reforma do sistema de saúde etc., isto não seria bom? A resposta é sim, seria. Mas não foi o caso! As despesas não financeiras primárias do governo (gastos antes do pagamento dos juros da dívida interna) chegaram a 20% do PIB, e hoje o déficit primário para 2016 está projetado para 175 bilhões de reais, aproximadamente 3% do PIB. Já os investimentos estão em queda livre de 2011 até hoje.

A “nova” matriz econômica levada adiante por Dilma Rousseff e Guido Mantega ainda incluiria uma forte interferência na política de investimentos das empresas estatais, gerando distorção dos preços relativos de energia e combustíveis, por exemplo, o que resultou em inflação represada. Uma série de subsídios equivocados também foi marcante no período.

O resultado das medidas desta matriz desenvolvimentista está nos dados da economia, com recessão de 7% em dois anos e inflação de dois dígitos em 2015.

Mas está principalmente na classe trabalhadora, ou seja, em todos nós, que ironicamente dá nome ao partido de Dilma e Lula. Somos nós que sofremos as consequências graves quando se conduz a economia de um país cometendo erros desastrosos em nome de uma ideologia. Justamente os trabalhadores mais pobres, a quem o PT até hoje diz defender, são os mais penalizados por este tipo de política econômica.

Quem conseguiu manter seu emprego em meio a esta crise devastadora precisa enfrentar a perda progressiva do poder de compra de seu salário. Os 22,7 milhões restantes, possuem subsalários ou salário nenhum.

É muito triste...


*Marco Krebs é engenheiro e economista. 


Daniel Kahane

Senior Attorney Advisor for Program Integrity at HHS, Office of Medicare Hearings & Appeals

8 a

Muito bom!

Grande mestre, colega de trabalho excepcional.

Fernando Martins F. Rodrigues

Coordenador de Controladoria na Hospital São Vicente de Paulo

8 a

Excelente Professor!

Rosendo Ramirez

Advancing patient care | Area Services Manager Spain & Portugal at Fresenius Kabi Med Tech

8 a

Realista.

Lilian Krebs

Owner, Manhattan Technologies Inc.

8 a

Excelente ! Boa sorte aos 22.7 milhões.

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