Cadê o meu Sonho?

Cadê o meu Sonho?

Estou olhando para uma mesa que tem um delicioso café feito na prensa francesa, um pão caseiro que fiz com meu fermento natural, queijo e presunto. Mas daí eu me pergunto: “Cadê os meus sonhos?”.

Apesar de serem palavras iguais em nossa língua portuguesa, não estou aqui falando do sentido filosófico e de metas de vida, nem tão pouco do subjetivo ou inconsciente, que temos quando estamos dormindo.

Quero saber cadê o meu sonho de creme, ou, ainda, de doce de leite e chocolate (toffee).

Já provei diversos deles em toda minha vida, mas sendo sincero com você, nunca fui muito fã daquele frito, com uma casquinha mais escura e passado no açúcar e canela, que normalmente fazemos em casa (que minha vó Clemência não me leia falando isso, pois o dela era assim).

O que sinto falta mesmo, e que eu não encontro aqui onde moro na Califórnia, é de um sonho que experimentei pela primeira vez quando ainda nem tinha entrado na faculdade de Arquitetura e Urbanismo, no início da última década do século passado.

Por volta de 1994, eu frequentava um cursinho pré-vestibular no centro de Curitiba. Ao lado havia um pequeno quiosque da “Sonhos e Sonhos”, e uma tarde saindo da aula resolvi me aventurar.

Assumo que não fui um cliente assíduo, mas desde a primeira mordida, aquela textura e sabor ficaram tatuados na minha memória. Ele era macio. Incrivelmente macio.

Guardo ainda a lembrança de ele ser coberto por uma camada de açúcar de confeiteiro, que o deixava completamente nevado e que tinha ainda uma gota no topo, que identificava o recheio que estava por vir após a primeira mordida.

Além disso ele fazia sujeira. A mesma neve que encobria a bolinha de massa recheada passava para a sua roupa em questão de segundos, produzindo além da sensação de prazer ao comer, uma sensação infantil de lanche com bagunça.

Hoje, desse sonho só tenho a lembrança e o desejo. Tenho a consciência de que o máximo alcance que me aproxima dele é um esforçado donuts americano, com alguma cobertura glaceada e um recheio nota 7.

Mas sigo sonhando com ele. 

Assim são os sonhos (não o doce, mas nossos desejos). Muitas ve-zes inalcançáveis, mas lindos se tivermos a consci-ência da sua distância para a nossa realidade.

Você também deve ter seus sonhos.

Precisamos refletir e dialogar sobre isso. E mais importante, devemos entender o objetivo deles na nossa trajetória. 

Caso contrário, o que tinha tudo para ser um desejo feliz, pode nos direcionar para uma perigosa armadilha que nos levará a decepções e frustrações.

Sonhar deve despertar a intenção, a imaginação e a vontade. E perseguir nossos desejos ajuda a dar sentido para a existência.

Recordo aqui o que o escritor Ariano Suassuna fala em uma de suas palestras, sobre como considera pobre a língua inglesa, comparada com o nosso português. No vídeo, ele apresenta como exemplo um copo de vidro, que em sua concepção, na língua britânica seria “Glass of Glass”, pois as duas palavras representam copo e representam vidro. (copo de vidro)

Sempre concordei com esse ponto de vista, mas escrevendo para vocês aqui hoje, humildemente vou discordar de Suassuna.

Ariano, meu caro. O que sinto falta é mesmo de um “Sonho de Sonho”. 

Se na musicalidade da língua fica pobre, na lembrança, ela é extremamente rica.

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