Cara ou coroa
Eleanor Roosevelt disse: "A filosofia de uma pessoa não é melhor expressa em palavras, é expressa pelas escolhas que a pessoa faz. E as escolhas que fazemos são, no final das contas, nossa própria responsabilidade."
Meu primeiro rodízio na residência iniciou-se no pronto socorro, mais especificamente, a triagem. Alguns sentem medo e insegurança em relação à responsabilidade inerente a esse setor. Outros, sentem frustração e até tédio quando alocados no primeiro elo de atendimento de qualquer unidade de saúde.
Independente da sua preferência, a triagem tem uma importância ímpar no processo de atendimento hospitalar e na gestão do cuidado como um todo. E é sobre isso que queria conversar com vocês hoje.
Por quê conhecimento bom é conhecimento compartilhado, ainda mais quando é de coração!
O lugar mais importante
Conversando com alguns colegas durante o plantão me deparei com a seguinte frase: "A triagem é o lugar mais importante do pronto atendimento." Ouvir essa frase de um enfermeiro experiente me deixou reflexivo, principalmente porque revela um paradoxo.
O que se vê usualmente em serviços de pronto-atendimento, é um senso de subestimação da função da triagem, tanto que o que se vê são geralmente enfermeiros inexperientes responsáveis pelo atendimento. Pra você que está lendo isso, e já tem alguma experiência, e que cá entre nós, sente que é um saco ficar perguntando o que o paciente sente, onde dói e aferindo sinais, é bom relembrar a importância de uma triagem eficiente.
Razão e Sensibilidade
Não, não vou fazer uma resenha sobre o ramance progressista da Jane Austen. Mas quero te chamar atenção pra as duas principais ferramentas pra uma triagem eficiente. Sensibilizar seu raciocínio clínico é uma necessidade quer você queira ou não, que será desenvolvida.
Pra você que está finalizando a faculdade, iniciando a residência ou o trabalho, e tem certa apreensão (ou até pânico) quando o assunto é pronto socorro e triagem, queria compartilhar algumas dicas que podem facilitar sua adaptação. E te direcionar para desenvolver melhores habilidades pelas oportunidades que essa função vai te exigir.
1- Conheça o perfil da sua unidade
O que considero talvez o primeiro passo antes de iniciar na triagem é entender o perfil do hospital que você está trabalhando. Com o desenvolvimento quase que em escala industrial do setor terciário na última década, a ultraespecialização da assistência foi uma consequência não tão surpreendente. Grandes hospitais focaram atender patologias especificas, tendo se estruturado, física, administrativamente e profissionalmente em torno de perfis clínicos e epidemiológicos específicos de uma determinada região ou população, sendo assim saber qual é esse perfil, vai ser muito útil pra você, independente do setor que você estiver.
Por exemplo, o hospital no qual estou trabalhando atualmente, é focado em atendimentos cardiológicos, então estudar a clínica de emergências cardiovasculares, IAM e ECG me ajudaram muito a otimizar meu atendimento. Atravessando a avenida, há outro hospital, especializado em gastrologia e oncologia. Há 500m há outro, especializado em pediatria. E assim por diante, cada hospital tem seu perfil e entender qual ele é, é muito importante.
2- Aprenda os protocolos
Não só as estruturas físicas e corpo clínico dos hospitais são construídos em torno do perfil populacional, como uma ferramenta indispensável na gestão de saúde hospitalar: protocolos assistenciais.
O uso de protocolos já se provou mais do que eficiente em atendimentos emergenciais. Otimizam o atendimento e padronizam a qualidade da assistência. Dominá-los é o segundo passo mais importante no seu dia-a-dia de trabalho, mesmo que você não domine o manejo clínico de alguma emergência, saber o protocolo te ajuda a agir e direcionar o paciente pra um atendimento adequado. Mesmo que você não esteja com o raciocínio clínico tão afiado assim.
3- Estude
Parece óbvio? Bem, muitas vezes o óbvio precisa ser dito.
Ninguém é obrigado a dominar todos os manejos clínicos e condutas terapêuticas, mas estudar os protocolos baseados no perfil de atendimento do hospital, são os primeiros passos. O principal benefício e a principal capacidade que a triagem desenvolve é o raciocínio rápido e a priorização. Saber quem atender primeiro e o quão rápido atender.
Uma avaliação pouco sensível com clínica mal feita pode prejudicar um paciente que necessita de atendimento, sendo lesivo e até fatal. Uma triagem muito sensível, "deixando passar" qualquer queixa, pode levar a uma superocupação dos leitos e poltronas do pronto atendimento, gerando um entrave no fluxo, possivelmente privando uma eventual emergência.
Um enfermeiro sem senso de priorização pode literalmente travar o pronto atendimento e sobrecarregar tanto a equipe médica quanto a equipe técnica, gerando transtorno pra quem atende e pra quem é atendido.
Você não está sozinho!
Não importa o quão inexperiente você seja, quanto tempo tenha de formado, qual seu domínio da prática clínica, situações inesperadas e inéditas sempre vão aparecer. O importante é lembrar que a enfermagem é uma equipe. Você não está sozinho e deve pedir ajuda se não souber tomar alguma conduta.
Não há mal nisso! Melhor que manter o orgulho e prejudicar o paciente.
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