Valor agregado na enfermagem: um conceito emergente ou ainda submerso?

Com a PL 2564 em pauta nos últimos meses, talvez seja um exercício necessário refletir o quão importante essa discussão é para os profissionais da enfermagem, e mais necessário ainda refletir sobre o porquê temos demorado tanto para alcançar reconhecimento e a tão sonhada valorização equivalente ao nosso labor. 

É sobre esse conceito econômico que eu quero conversar com vocês hoje. Por que conhecimento bom é conhecimento compartilhado, ainda mais quando é de coração! 

Valor agregado

Esse é um termo originário do mundo das finanças que mede performance. Quando aplicado à um produto significa explicar a percepção que um cliente tem de um produto (ou serviço) que atenda suas necessidades. Complicado? Traduzindo: é aumentar o valor de um produto ou serviço tornando seu benefício e inovação claros para aqueles que o consomem, melhorando sua experiência e consequentemente agradando mais o consumidor.  

Tá Adilson, mas não vejo como isso seja aplicável na minha rotina de enfermeiro, isso é papo pra empreendedor e economista. 

Então vamos lá…

Invertendo a chave

Vamos tentar perceber a coisa toda de uma ótica diferente, vamos sair do ponto de vista passivo para um mais ativo, partindo do conceito de agregar valor ao serviço. Para isso é necessário saber como acrescentar benefícios ou adicionar um plus ao serviço que será entregue ao cliente. E aqui está o cerne da questão. 

Quanto valor temos buscado agregar ao nosso serviço? Ao nosso cuidado? Ao nosso Plantão? À nossa categoria? À nossa profissão?

Ao fazer esses questionamentos é necessário ter a noção básica de causa e consequência. De que o que faço ou deixo de fazer implica diretamente na qualidade do resultado do meu trabalho.  

Mesmo tendo pouco tempo de enfermagem consigo identificar alguns padrões que colaboraram para o status quo atual que a enfermagem como um todo ocupa. E esses padrões aplicados a uma rotina repetidas vezes, resultou no quadro remunerativo insuficiente e valorização social débil. 

Subindo o Nível 

Walt Disney uma vez disse: “Não é com mágica que se faz um bom trabalho, é com um bom trabalho que se faz mágica.”

Ninguém melhor que o criador do Magic Kingdom pra estabelecer o óbvio. O segredo do negócio, da procura, do crescimento, da valorização e do reconhecimento é fazer um bom trabalho. Ir além do que está sendo exigido de você. Não se acomodar. É encantar. 

E como podemos aplicar isso à nossa assistência? Bem, tenho percebido alguns comportamentos que tendem “desencantar os clientes” e apartir deles tenho a seguinte percepção. 

Profissionalismo debilitado

Como assim? Está dizendo que a maioria dos enfermeiros não é profissional? Não, não é por aí. Mas precisamos nos policiar quanto à algumas atitudes que prejudicam nossa imagem no dia a dia, como por exemplo: falar de problemas pessoais em frente aos pacientes, ou reclamar dos problemas do próprio serviço na frente dos pacientes ou na frente de outros colaboradores. 

Esse tipo de atitude passa uma imagem de insatisfação para quem está sendo atendido, insatisfação que prejudica bastante o vínculo de confiança entre cuidador e aquele sendo cuidado. Logo fica mais difícil encantar o cliente, deixar sua marca e consequentemente ser lembrado por isso. 

Mindfulness

Já comentei sobre esse conceito em outro artigo meu, mindfulness é um termo que significa em resumo “viver o momento presente.” Esse é um ponto que afeta diretamente o anterior: estar presente no plantão, focado no plantão. 

Não me refiro aqui a esquecer todas as preocupações que estão além do trabalho, isso seria desumano, visto que todos temos obrigações familiares e boletos a pagar. Mas quero falar especificamente de estar focado nos seu serviço dando seu 100% de atenção ao que se está fazendo e no cuidado que se está prestando. 

Estar focado te possibilita perceber quando seu colega precisa de ajuda e te permite intervir antes mesmo que ele peça, o que fortalece seu vínculo e melhora a qualidade da equipe inteira. Ajuda tambem a ser mais acertivo na sua assistência, otimizando seu trabalho e todas as demandas que forem surgindo. 

Essa é uma prática que exige exercício e aplicação diária. Mas é extremamente possível de ser alcançada com excelência. 

Cada um por si e Deus por todos  

Esse talvez seja o ponto mais crítico e que mais tem influência no nosso senso de valor e que mais afeta nossa imagem. 

A falta de trabalho em equipe é uma sombra que assola a enfermagem há décadas e talvez seja o principal Pilar que precisa ser reconstruído. Dentro da própria profissão é comum escutarmos: “ a enfermagem é desunida, por isso não vai pra frente”.

Concorda que aqui temos um grande problema? 

Se a própria equipe, seja em um setor, clínica, hospital, etc. não se valoriza, não se ajuda, tenta constantemente minar a credibilidade alheia, gasta tempo e energia foçada em prejudicar uns aos outros (e aqui incluo deixar de ajudar, isso também prejudica muito), como conseguiremos o respeito que merecemos e o reconhecimento que tanto clamamos? 

Empatia, trabalho em equipe e noção do bem maior são fundamentais para crescermos como profissão. Sem isso, continuaremos como estamos, sem valor. 

Existem muitos outros fatores que implicam no reconhecimento e valorização de uma categoria inteira como a nossa. Não apenas esses supracitados. Mas creio que devemos começar a mudar a pespectiva do “deveriam nos valorizar” para “o que podemos fazer para agregar valor ao nosso trabalho?”

A autorreflexão é o primeiro passo para construção de uma nova enfermagem, refletir sobre o que temos feito de errado, e corrigir aquilo que podemos corrigir. 

Esse é o caminho da mudança. Da melhoria

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Quem sou eu?

Sou enfermeiro formado em 2019 pela Universidade do Estado do Amazonas, tendo escolhido a enfermagem como profissão. Além do trabalho, sou músico, cinéfilo incansável, desenhista amador, e um escritor recém despertado que viu por meio dessa plataforma uma oportunidade de compartilhar experiências, aprendizados e conhecimento. 

Se você quiser me conhecer mais um pouco, fique à vontade para me seguir no Instagram @enf.adilson.