Um admirável mundo novo. O que (re)aprendi em um ano de residência.

Um admirável mundo novo. O que (re)aprendi em um ano de residência.

Caso você não esteja familiarizado, ou não conheça nenhum profissional da saúde, o que nos tempos atuais considero algo bem improvável, você já deve ter escutado o termo "Residência". Longe de ser uma referência às nossas moradias, nesse caso em específico, o termo se refere a uma modalidade de especialização primeiramente ofertada para a classe médica como meio de aprimoramento profissional em subáreas da medicina. 

Contudo, durante as últimas décadas, houve uma expansão dessa modalidade para as outras categorias profissionais da saúde. Quando iniciamos a residência somos residentes de primeiro ano (R1) e quando passamos para o segundo ano nos tornamos Residentes de segundo ano (R2). Recentemente fiz a prova que determina minha transição para o segundo ano, e fui aprovado. 

Antes da boa notícia, antes até mesmo da prova, entre uma conversa amigável e um café, me pus a refletir sobre o que foi esse ultimo ano e o quanto aprendi durante meu primeiro ano de residente. 

Então no artigo de hoje trago algumas dessas reflexões que me motivaram e muitas vezes me surpreenderam ao longo de 2021.

Por que conhecimento bom, é conhecimento compartilhado, ainda mais quando é de coração.

 Não superestime suas expectativas!

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Já ouviram a frase "Não existe amor em SP"? Não sei bem exatamente quando e onde a frase surgiu, mas ela representa bem a expectativa que eu tinha na minha cabeça quando decidi me mudar pra cá. Uma cidade onde você precisa matar um leão por dia, e ainda ficar atento às suas costas pra não ser apunhalado e descartado, onde o moral coletivo preconiza que cada um cuida do seu, e seja o que Deus quiser. Então eu meio que vim esperando o melhor, mas me preparando para o pior. 

 Pra minha surpresa, eu estava errado. 

Além de ser muito bem recebido, fui muito bem orientado e auxiliado nos meus primeiros meses na terra da garoa. Hoje olhando pra trás, percebo que alguns medos eram maiores na minha cabeça do que quando enfrentados cara-a-cara. 

Obviamente, a receptividade positiva não foi unânime (nada é absoluto não é mesmo?), dependendo do setor, recebia um olhar desconfiado, menos atribuições e menos abertura, mas não tive problemas, o importante é se manter aberto e procurar aprender em qualquer oportunidade que se apresente. 

Não subestime sua bagagem!

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Um dos motivadores principais da minha especialização foi a vontade de crescer, aprender, mas acima de tudo, de melhorar. Melhorar como enfermeiro, me tornar um profissional mais completo, mais preparado. Um dos meus erros foi tratar minha bagagem como inapropriada e não suficiente. 

Um pensamento, por menor que seja, tem capacidade imensa de moldar nosso agir, e podar nosso crescimento.

Durante as primeira semanas da residência talvez por medo e insegurança, assumi uma postura majoritariamente passiva apoiada por uma crença limitante de que por ser um primeiroanista eu não poderia ter voz, que cada manifestação minha acarretaria em erro e falha. 

Ridículo? Concordo. 

Mas na época eu não consegui ver tão claramente quanto hoje. Interessante como um pensamento, por menor que seja, tem capacidade de moldar nosso agir, e podar nosso crescimento.  Foi necessário um colega me dar uma chacoalhada pra despertar, me chamar no canto e falar: "cara, cê já é um bom enfermeiro, não precisa ficar se segurando, atue como um."

Mais importante que a jornada, é com quem você compartilha!

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Talvez o principal aprendizado do último ano, é que todos nós dependemos de alguém. Não importa a esfera, emocional, espiritual, profissional, todos contamos com alguém e temos alguém contando conosco.

Nos bons dias, é absolutamente gratificante ter alguém com quem compartilhar nossas vitórias e acertos. Nos dias ruins, é indubitavelmente necessário e indispensável. Tive a sorte de ter ao meu lado uma companheira compreensiva, que mais que incentivo, me deu apoio, e por ser enfermeira, entendia  muito bem a rotina frenética e todos os perrengues que eu passava (e passo).

As pessoas com as quais você se cerca são tão fundamentais quanto os objetivos que você traça.   

Embora a maioria não acredite, é possível (é necessário) ter vida social durante a residência. Manter-se próximo a pessoas que te ajudam, sair com os amigos, e desabafar vez ou outra faz muito bem pro corpo e pra alma. 

Mantenha os olhos no horizonte! 

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Algo que  me ajudou muito, foi manter o foco no futuro. Não sendo um esperançoso utopista, sempre esperando algo melhor na próxima esquina, mas mantendo esse hábito como um lembrete de que há finitude no que fazemos. A residência é uma modalidade que exige muito do físico e principalmente do emocional dos profissionais 

Quando o setor é divertido, leve, te inspira e você aprende muito. Vai passar!

Quando o setor é exaustivo, te sobrecarrega e te cansa, quando os profissionais não te curtem muito. Vai passar!

Algumas vezes, principalmente quando a exaustão chega, fica difícil manter essa perspectiva. Mas vale um esforço pra manter isso sempre em mente, nem que você precise anotar e ler isso só pra você todos os dias. 

Cada ano que passa, tenho aprendido que a vida compõe-se de fases, estágios construídos por momentos que mesmo quando desconfortáveis, podem nos ensinar, marcando em nós elementos que nos tornem profissionais cada vez melhores. 


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Quem sou eu?

Meu nome é Adilson Júnior.

Sou enfermeiro formado em 2019 pela Universidade do Estado do Amazonas, tendo escolhido a enfermagem como profissão. Além do trabalho, sou músico, cinéfilo incansável, desenhista amador, e um escritor recém despertado que viu por meio dessa plataforma uma oportunidade de compartilhar experiências, aprendizados e conhecimento. 

Até a próxima.



Amanda Gonçalves

Nutricionista especializanda em Saúde Pública (SEMSA/UEA) e integrante do quadro técnico de nutricionistas do PNAE/SEDUC-AM

2 a

Excelente e reflexivo texto

ELSON KUNZE

Logística na veia! | Escritor, Professor, Palestrante | Ativista da causa da doação de órgãos e criador do canal "@BoraDoar"

2 a

Muito legal Adilson, parabéns pela escolha dessa profissão tão nobre.

Valérie Kischener Gomes

Docente da graduação de Enfermagem UNIP

2 a

Texto inspirador 👏🏼👏🏼👏🏼 Que a jornada continue inspirando e com bons frutos :)

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