Carreira: Cadência é melhor que velocidade

Carreira: Cadência é melhor que velocidade

Sou constantemente convidado para conversar sobre carreira com diferentes públicos – de jovens a profissionais com relevante experiência. Talvez por ter vivenciado diferentes culturas organizacionais, segmentos e posições, as pessoas imaginam que eu possa ter uma resposta simples e objetiva de como conduzir suas carreiras. Mas uma coisa que aprendi é que essa resposta não existe. Por outro lado, de tudo o que já pude observar até aqui, eu poderia resumir uma série de comportamentos e atitudes que são bastante comuns em pessoas que conseguiram construir uma carreira da qual se orgulham e, por conta disso, são considerados profissionais de sucesso. Todos nós temos nossas referências. Além disso, o fato de ter tido (e ainda ter) o privilégio de atuar à frente da área de RH me permite observar esses comportamentos em diferentes perspectivas. Longe de ser uma lista exaustiva ou conclusiva, compartilho abaixo a minha visão, sem nenhum embasamento teórico, mas fruto da vivência e de muita observação.

1 – Preocupe-se em fazer seu papel MUITO bem feito – Ambição sempre será um diferencial de qualquer profissional. Mas a ambição não pode ser maior que seu compromisso de fazer muito bem feito o que é esperado da sua função. Buscar surpreender sempre em suas entregas, por menores que sejam, demonstra compromisso.  Do lado oposto, o perfil carreirista, sempre mais preocupado com o próximo passo do que com a função atual, pode ser muito tóxico – não só para o próprio profissional, mas também para o ambiente de trabalho;

2 – Sua carreira é ÚNICA. Não perca tempo fazendo comparações e julgando movimentos de outras pessoas – Do meu ponto de vista, esse talvez seja um dos maiores equívocos que muitos jovens (e até mesmo profissionais mais experientes) cometem. Cada um de nós tem e terá sempre um timing de carreira. Movimentos dependem de uma infinidade de variáveis, inclusive de sorte.  A comparação leva à infelicidade, sempre. Isso porque sempre haverá alguém andando à sua frente. Além desse comportamento, vejo também muito julgamento de profissionais acerca de promoções/movimentações de pares ou colegas. A tendência de quem se compara é sempre buscar aspectos negativos de outros profissionais em vez de enxergar as fortalezas e outros aspectos que podem ter fundamentado a promoção/movimentação;

3 – Passos laterais são tão (ou mais) importantes quanto promoções - Deveríamos encarar nossa carreira como uma grande caixa de ferramentas. Todas as experiências são importantes e nos trazem novas habilidades (técnicas e comportamentais) que tornam mais robusta a nossa capacidade de resolver problemas e tomar decisões. É impossível imaginar que isso só irá ocorrer em movimentos verticais. Aqui, a velha máxima se confirma: “às vezes vale um passo lateral para dar dois passos para frente". Mas fico cada vez mais surpreso com a resistência que muitos profissionais ainda têm com esse tipo de movimento;

4 – Poucos são os exemplos de carreiras de sucesso sem nenhum sacrifício ou abdicação pessoal - Posso estar enganado, mas não conheço nenhum profissional de sucesso que, em algum momento da sua carreira, não tenha aberto mão do seu conforto pessoal. Situações como essas nos fazem crescer como seres humanos, desenvolver habilidades e comportamentos que não florescem quando estamos na nossa zona de conforto. Mas também aprendi, com diferentes exemplos, que o sacrifício e a abdicação são pessoais. Se todos os que o rodeiam perceberem que isso lhe traz sofrimento, você passará a percepção que não está no desafio por propósito, mas sim contando os dias para o “sofrimento” acabar;

5 – Busque sempre ter uma "perna forte”- Ainda que o mercado demande cada vez mais perfis generalistas, com visão holística, é muito importante que você tenha uma "perna forte". Aquela competência que todos sabem que o diferencia. Isso, além de tornar evidente no que você é bom, lhe trará bastante segurança em qualquer movimento, pois você saberá sempre onde se apoiar. Particularmente, tenho bastante preocupação com a ansiedade dos jovens por ciclos mais curtos em suas carreiras. Ciclos curtos não são suficientes para construir “musculatura” e podem formar profissionais que conhecem um pouco de tudo, mas nada em profundidade;

6 – Tenha curiosidade e aprenda sempre. Busque seu autodesenvolvimento – Não transfira para a empresa a responsabilidade pelo seu desenvolvimento. As oportunidades não caem do céu e quando elas surgem, na maioria das vezes, caem no colo dos mais bem preparados. Nesse caso, existem somente duas opções: ou procuramos estar sempre bem preparados ou optamos em ser “vitima” de nunca sermos os escolhidos;

7 – Invista no seu autoconhecimento e busque equilíbrio na sua vida – Talvez esse seja um dos maiores desafios da atualidade. Dedicarmos tempo a nos conhecermos melhor, descobrimos nossos gatilhos, o que nos incomoda e baixa nossa performance ou o que nos conforta e alavanca nossas entregas. Certamente, essa será uma das competências mais valorizadas no futuro. Do meu ponto de vista, é sempre mais fácil se conhecer melhor quando você se dedica também a ter um bom equilíbrio físico, mental e espiritual. Quando olho as referências que tenho de sucesso, vejo profissionais que, em sua maioria, conseguiram equilibrar de forma incrível essas três dimensões;

8 – A empresa é sempre maior que um líder – Embora exista uma máxima de que as pessoas abandonam os líderes e não as empresas (que eu também concordo), o que vejo ultimamente é uma imensa ansiedade e uma baixa tolerância. Todos nós, com mais ou menos tempo de carreira, já convivemos com diferentes tipos de líderes. Uns mais e outros menos inspiradores. E a vida é assim, porque as pessoas são diferentes. O equívoco, do meu ponto de vista, é desistir de uma empresa na qual você acredita, com valores condizentes e alinhados aos seus, sem ter tido o protagonismo de apoiar o líder em seu desenvolvimento. A vida é feita de relações humanas... e assim deve ser também entre líder e liderado;

9 – Cadência é melhor que velocidade – Se quisermos fazer uma analogia, deveríamos encarar nossa carreira mais como uma maratona e menos como corridas de 100 metros. A maratona exige treinos curtos e longos, resiliência, lidar com frustrações, vitórias e muita abdicação e sacrifício pessoal. A certeza de se fazer uma boa maratona é ter tido uma preparação que lhe garanta “musculatura” necessária e um ótimo equilíbrio emocional para alcançar a linha de chegada;

10 – Divirta-se, seja feliz e curta a jornada – O que pude compreender de tantos exemplos positivos e negativos é que curtir a jornada faz toda a diferença. A sua carreira deve estar alinhada com seu propósito de vida. Parece simples, mas não é. E curtir a jornada não significa somente ter dias bons. Certamente dias ruins farão parte da sua carreira. O segredo está no balanço positivo e no alinhamento com o que você acredita ser seu propósito profissional.

Olhando agora, vejo que esse meu balanço de dicas acabou condensado em dez pontos – número mais que cabalístico. Espero que não sejam entendidos como mandamentos nem como o mapa do caminho para o sucesso profissional. A ideia, vale repetir, é dividir experiências. Entendo que ela pode ser útil à jovens e veteranos. Cabe a cada um de nós trilhar a sua própria trajetória, de vida e de carreira e aprender sempre ao longo do percurso. Para quem está no meio da jornada, sempre haverá a oportunidade de fazer correções, se for o caso. Para quem está iniciando, eu volto a destacar que cadência é mais importante que velocidade. Divirta-se!


Jaqueline Benetti Vicentin

IT Business Partner Manager - Commercial & Concrete

4 a

Dez pontos super inspiradores Cris!!!! Obrigada por compartilhar com tamanha propriedade, muito legal mesmo!!! :)

Zaida Goulart

Zaida Goulart/ Gestão Z Consultoria

5 a

Texto perfeito do Cristiano Brasil. Muito perfeito. E não há nada de ensaio aí, é realidade. Sem numerologias mas eu adorei o número 8.

Isaias Jose Oliveira Rocha da Silva

Sales and Customer Service Specialist | Proven Multinational Success | Now in Ireland

5 a

"O que pude compreender de tantos exemplos positivos e negativos é que curtir a jornada faz toda a diferença." Tenho muito orgulho de fazer parte desta empresa. #SOUVC

Amanda Costa

Co-founder da Escola do Caos,empresa de capital humano que mais cresce no país, segundo ranking da Revista Exame,co-founder e sócia do Papum, apresentadora do Podcast Caos Corporativo e editora-chefe da Revista Caótica.

5 a

Belo artigo, Cristiano Brasil! Sou da Nexialistas Consultores e gostaríamos muito de convidá-lo para palestrar em um grande evento de aprendizagem que realizaremos em novembro em São Paulo, como apoio da ABRH. Será uma honra ter você e toda a sua experiência conosco nesse exercício de desaprendizagem, reaprendizagem e aprendizagem! Qual a melhor forma de nos falarmos? Abs! 

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Cristiano Brasil

  • Líder, é o momento de confiar, ousar e humanizar

    Líder, é o momento de confiar, ousar e humanizar

    O papel do líder na pandemia. Aprendizados que transcendem o momento de crise Vivemos um momento cheio de desafios e…

    63 comentários
  • Liderança não é uma ciência exata

    Liderança não é uma ciência exata

    Liderança, definitivamente, não é uma ciência exata. É algo que se aprende com o tempo, com teoria e muita prática, com…

    37 comentários
  • As lições que trago da minha primeira maratona

    As lições que trago da minha primeira maratona

    Completei hoje (23/09/18) a minha primeira maratona e posso afirmar: não foi fácil! Só que hoje, depois de cruzar a…

    47 comentários

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos