Carta de uma Psicóloga

Me tornei Psicóloga em 2010 e iniciei minha carreira em 2008. De lá para cá foram muitos lugares, algumas empresas e muitas, muitas pessoas. Pretendo sempre me lembrar de todas elas.

Acredito que cada ser humano carrega um mundo único dentro de si. Assim, vejo nas pessoas um universo infinito de detalhes, sentimentos, possibilidades... Pessoas são histórias.

E talvez, só quem trabalha as olhando assim tão perto, tem ideia de como há beleza escondida até nos episódios mais tristes. Essa beleza é o que nos move. A possibilidade de tornar ainda mais belo também!

E assim, silenciosamente, todos os dias eu me sento a minha mesa, ligo meu computador, e vejo cada rosto, sem ter ideia de qual vai ser a história da semana. Tem novidade, problema, surpresa boa, reviravolta, história triste, piada, monotonia. Tem de tudo.

E que ironia né? Como pode tanta coisa acontecer num dia, sem meu corpo se mover da cadeira... Tudo aqui, na minha tela, na minha sala quieta, na minha conexão com cada cliente, que transcende o sinal da internet.

A verdade, é que a gente começa nosso dia no silêncio, com aquele tanto de energia no corpo e na mente, sem saber se vai dar... Afinal, a agenda só nos dá dimensão da quantidade de tempo de trabalho, mas não da profundidade ou complexidade do tema.

Logo, a gente (que também é gente) se assusta, se surpreende, se interessa, se preocupa. E aí, como faz? Pensa rápido, controla o rosto, segura a expressão, resgata a técnica, anota o detalhe-chave, busca depressa a palavra “certa”. E diz.

Somos ouvido, com certeza. Mas também precisamos ser voz. Num equilíbrio desafiador que, para cada pessoa, aos poucos, vamos encontrando a dose certa (ou tentando).

Nem sempre é simples, nem sempre o que a gente transmite é o mesmo que estamos sentindo. Nem sempre o dia foi fácil... Mas quem escolhe essa profissão decide se doar, decide dividir, decide mergulhar no outro e às vezes fingir que aquele problema não se parece com o nosso, que não temos nossos próprios gatilhos, nem saudade, nem medo, nem dúvida. Enfim, a gente decide.

Ser psicólogo, clinicar, cuidar de pessoas é uma escolha diária. Desafiadora, dolorosa às vezes, prazerosa tantas outras, recompensadora a cada conquista do cliente.

Ser psicóloga segue sendo até hoje - entre erros e acertos, dias tristes e felizes - a minha melhor escolha .

Obs.: aos meus clientes, de hoje e sempre, obrigada pela confiança.