A China arrasa na inteligência artificial - e o que o Ocidente tem a ver com isso
Todos temos fechado os olhos para os avanços que os chineses já alcançaram nessa tecnologia. E, mesmo que esse desenvolvimento seja fascinante, ainda há riscos que precisam de nossa atenção
Por Rodrigo Guerra*
Enquanto ficamos batendo palmas para tudo o que Elon Musk e Jeff Bezos fazem, os chineses estão revolucionando a tecnologia, especialmente a inteligência artificial. Não, eu não estou aqui para ovacionar um país socialista, com Estado totalitário, centralizador, controlador da atividade econômica e que restringe as liberdades individuais, mas é preciso deixar claro que eles possuem um conhecimento relevante que está sendo ignorado por boa parte do Ocidente, até mesmo pelos norte-americanos.
Por isso, meu convite à você que está me lendo agora é apenas um: olhe para a China sob uma nova ótica quando o assunto é inovação e empreendedorismo. Eu já comentei antes sobre um um cara que acho muito fera e penso que todos deveriam ler, o Kai-Fu Lee, que é um gênio da inteligência artificial e autor do livro “IA Superpowers”. Mas hoje vou além dessa recomendação de uma pessoa física e conto que a China já estabeleceu metas em inteligência artificial para os anos de 2020, 2025 e 2030 e impulsiona iniciativas no país através de startups, colocando muito dinheiro e dando liberdade para criação - ainda que provavelmente passará a controlar tudo lá na frente.
É por isso que todas as tendências apontam que as maiores transformações de inteligência artificial virão da China, incorporando valores da cultura oriental, com a qual não estamos habituados e da qual tendemos a ter um certo distanciamento. Se você ainda não conhece algumas das marcas mais conhecidas por lá, cito agora as empresas chinesas privadas de mais destaque: o Baidu, que desenvolve a direção autônoma, o Alibaba, com plano para cidades inteligentes, e o Tecent, cuja visão computacional está focada nos diagnósticos médicos.
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Daí, pergunto, como você acha que devemos lidar com isso? Ao mesmo tempo em que tudo é fascinante, me parece também bastante perigoso.
A primeira questão, claro, é avaliar a ética para o uso de dados, matéria-prima de toda inteligência artificial. E nesse quesito, novamente, os chineses se adiantaram e em 2017 criaram o “New Generation Artificial Intelligence Plan” (AIDP), uma espécie de conjunto de leis nacionais para o uso da tecnologia, algo como o marco legal para a inteligência artificial que nós, brasileiros, só aprovamos em 2021.
A estratégia, resumidamente, também impunha prazos de cinco anos para o desenvolvimento de cada um dos três pilares que eles consideraram mais relevantes ao tema: 1) concorrência internacional, 2) crescimento econômico e 3) governança social. Me parece um plano sólido. Só que, não custa lembrar, o Judiciário chinês não detém a liberdade de democracias como a nossa e, portanto, está sujeito à supervisão e interferência do Legislativo, que no caso deles é o próprio Partido Comunista.
Portanto, reflita comigo. A inteligência artificial é uma tecnologia que pauta comportamentos e promove a chamada “economia do desejo”, fazendo as pessoas desejarem desde produtos e serviços até estilos de vida e valores, certo? E hoje temos o seguinte cenário: uma parte de toda essa tecnologia está nas mãos de poucos bilionários no Ocidente, já o restante, aparece agora nas mãos de um Estado centralizador e totalitário com uma cultura da qual pouco conhecemos. Um paradoxo e tanto, concordam?
*Rodrigo Guerra é especialista em finanças e inovação. *Essas duas áreas não costumam ser associadas, mas quando estão lado a lado, elas conseguem transformar projetos inovadores em prática diária nas empresas. No Unbox, do qual é fundador, realiza uma curadoria de conteúdos fundamentais para impulsionar as mudanças urgentes e necessárias de pessoas, negócios e da sociedade.
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