China, a Força do Money Power
A China se movimenta na geopolítica mundial atuando no público e no privado com uma única ferramenta, o moneypower em duas versões - hard e soft.
Aplica a filosofia do estado-empresa no público e empresa-estado no privado, dirigido com mão de ferro com a finalidade de sustentar uma massa de mais de 1,4 bilhão de habitantes, 81 idiomas ou dialetos e 56 etnias, distribuídos num território maior que o do Brasil.
Implantou a estratégia de dupla circulação, investindo mais na economia nacional (80%) com o propósito de garantir a capacidade de produção em setores estratégicos (alimentos, energia e tecnologia), enquanto investe (20%) em pesquisa, desenvolvimento e infraestruturas para manter sua competitividade no mercado mundial. O consumo interno gera investimentos em infraestrutura de produção e logística, que por sua vez financia a expansão do capital intelectual e produtivo pelo mundo, que acaba por voltar à China na forma de mais conhecimento e capacidade de investimento e desenvolvimento. Um círculo virtuoso onde o desenvolvimento interno gera o superavit que garante seu expansionismo econômico mundial.
Internamente, como qualquer empresa, mantém o controle sobre a cultura, produção e pessoal. Não importam os resultados, tamanho, poder político ou econômico da pessoa física ou jurídica, nativa ou não, as regras devem ser respeitadas com punições pesadas aos desvios. Jack Ma e Elon Musk que o digam. Externamente, usa seu poder econômico geopoliticamente junto aos outros países no comércio exterior e infraestrutura.
No privado, age como uma empresa-estado, competindo com os grandes conglomerados mundiais, mais do que com os estados-nações. Enquanto no ocidente, as empresas controlam os governos, na China, o Estado controla as empresas.
Comparando com os resultados de outros países em IDH, tecnologia, bem-estar social, balança de pagamentos, infraestrutura, educação e cultura, o sistema tem funcionado. É o país com mais empresas (200) que qualquer outro no Fortuna Global 500. No ranking Forbes Global 2000, tem 4 entre as 10 maiores empresas do mundo. Está no top 10 bancário, com 4 dos maiores bancos do mundo. É o maior índice anual per capita de novos milionários.
De piratas, se tornaram fonte de inovação. O setor bancário é um exemplo, onde a tecnologia, ferramentas e softwares de todos os bancos do mundo são chinesas.
A China tem 1,4 bilhões de habitantes e um PIB de U$17 trilhões. Oferece saúde pública universal, educação e moradia facilitadas e altamente subsidiadas, transporte público eficiente e muito barato e erradicou a pobreza em 2020. Possui moderna infraestrutura com rodovias e trens de alta velocidade, internet rápida e barata, parque tecnológico de ponta, destacada participação em pesquisa e ciência, tanto que nos últimos anos as grandes novidades tecnológicas vêm do oriente. Tem um interessante sistema de contramedidas para enfrentar crises. Todos têm terras, mesmo quem trabalha na indústria e mora em hutongs nas cidades. Nas fases de queda da produção e desemprego urbano, voltam ao campo e produzem, mantendo sua renda e a estabilidade social.
Os EUA têm 340 milhões de habitantes e um PIB de U$25 trilhões, mas não tem um sistema de saúde ou educação públicas e infraestrutura moderna. Um dos maiores gargalos logísticos estadunidenses é o sistema ferroviário ultrapassado que sofre pressão das construtoras e petrolíferas contra sua modernização. Já vimos e vemos isso no Brasil, desde a ditadura. A desigualdade social é enorme, dois a cada mil habitantes são sem-teto ou sem-teto móveis (moram em carros) e 20 milhões moram em motorhomes. Enquanto isso, 14 dos 20 maiores bilionários do mundo são estadunidenses. Ninguém da China está nessa lista.
Os EUA, baseado no Destino Manifesto de povo escolhido por Deus, doutrina calvinista que embasou sua colonização e fundação, têm 750 bases militares em 80 países e invadiu 13 nações independentes nos últimos 40 anos.
O ocidente usa dólares para fomentar conflitos e sustentar sua indústria de armamentos e de capitais (faturam bilhõe$ com armamentos para a guerra Israel-Gaza e faturarão alguns bilhõe$ na reconstrução do que ajudaram a destruir).
Essa política estadunidense garantiu a paz mundial?
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A China tem conflitos atávicos e uma única base no exterior, em Djibouti, inaugurada sob protestos dos EUA, França e Japão que também mantêm bases no país há décadas.
Faça o que eu digo, não faça o que eu faço.
Diferente dos EUA, a China precisa de paz mundial, inclusive dentro dos Estados Unidos, para prosperar. Os produtos chineses abastecem 60% do consumo da classe média norte-americana, são seus maiores credores mundiais, responsáveis por 20% da sua balança comercial e o capital chinês já representou quase 30% do mercado mobiliário estadunidense, mas o país vem se desfazendo de títulos, principalmente do Tesouro, desde julho de 2023.
Os chineses se movem com cautela dentro de um plano estratégico de ocupação de espaço e conquista de aliados usando seu poder econômico e financeiro, sem uma atuação ideológica, mas pragmática. Suas movimentações no cenário externo alimentam o mercado e financiam a justiça social interna.
Como grande consumidor de commoditties e maior fornecedor mundial de produtos manufaturados e de alta tecnologia, a China espirra e o mundo fica gripado.
Nos últimos 25 anos, a China se inseriu fortemente no mercado mundial. Em 2000, apenas Paraguai, Cuba e alguns países africanos tinham a China como principal parceiro comercial. Hoje, EUA, toda a África, toda a América do Sul, maior parte da Europa e o restante da Ásia tem os chineses como principal parceiro comercial.
Sua paciência oriental criou um planejamento estratégico para 100 anos.
Enquanto EUA e Rússia brigavam na corrida espacial, enfraquecendo a ambos, a China cuidava dos seus interesses terráqueos.
A atuação financeira da China é um marco para o fim da globalização como conhecida. O eixo do poder se move em sua direção como demonstram as adesões de países aos BRICs e à nova Rota da Seda. Está começando uma nova Guerra Fria, não ideológica, mas econômica com a China substituindo a Rússia. As opções de política econômica se afastam da integração global indiscriminada e convergem para uma integração seletiva e controlada.
O dólar se tornou forte referência monetária mundial a partir do final da Segunda Guerra, quando o acordo de Bretton Woods sepultou a ideia de uma moeda mundial lastreada em ouro. Como principal financiador do esforço de reconstrução da Europa e do Japão, os estadunidenses impuseram o dólar, seguindo assim durante a Guerra Fria e a globalização. A partir do salto chinês no início dos anos 90, a crise de 2008 e os conflitos territoriais e religiosos no oriente médio, o dólar vem perdendo espaço. Sua participação como reserva cambial mundial, que já foi superior a 90%, hoje está próxima de 50% e caindo.
Tenho uma teoria de que a cultura, idioma, distância e um certo preconceito evitam que a China seja a meca da imigração mundial.
Onde estará a China quando sua Revolução completar seu centenário, em 2049?
Gerente Administrativo e Comercial | Gerente de Vendas | Gerente Geral | Gerente de Banco
2 semExcelente explanação, Bil. 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼