Cinco perguntas etaristas que recrutadores não deveriam mais fazer para mulheres maduras
Crédito da imagem: Dean Drobot/Canva Images

Cinco perguntas etaristas que recrutadores não deveriam mais fazer para mulheres maduras

Hoje é Dia Internacional da Mulher, e nunca é demais lembrar que as mulheres ainda precisam superar vários desafios para conquistar o espaço que merecem no mercado de trabalho. Um desses obstáculos é o etarismo que, somado a outros preconceitos que elas já enfrentam normalmente – como os preconceitos de gênero, raça e orientação sexual –, torna a vida profissional das mulheres ainda mais difícil.

Nesta edição especial da newsletter Carreira na Maturidade, dedicada às mulheres, quero chamar a atenção para o preconceito de idade que costuma atingir as profissionais maduras justamente no momento do processo seletivo, quando são obrigadas a responder perguntas constrangedoras que, normalmente, não são feitas aos homens.

Nesse artigo, vou listar cinco perguntas etaristas que não deveriam mais ser feitas para profissionais maduras em processos seletivos – esses questionamentos foram elencados por mim a partir de relatos que recebo quase toda semana em comentários de posts e até mesmo em mensagens privadas que recebo no meu perfil no LinkedIn.

Se você é gestor(a) de uma vaga ou está no papel de recrutador(a), faça um favor a si mesmo: leia com atenção e jamais reproduza esse tipo de pergunta em processos seletivos aí na sua empresa. Confira quais são essas perguntas etaristas logo abaixo:

1 – “Qual é a sua idade?”

Por mais inacreditável que isso possa parecer, em pleno ano de 2024 essa pergunta ainda é muito comum em processos seletivos envolvendo profissionais maduras.

É um tipo de questionamento que já seria etarista se realizado para um homem 40+. No entanto, quando a pergunta é feita para uma mulher madura, parece carregar ainda mais preconceito de idade – afinal, o envelhecimento feminino infelizmente ainda é considerado um “problema” na sociedade em que vivemos, que “cultua” a juventude e “cobra” principalmente das mulheres uma aparência “eternamente jovem”. 

Perguntar a idade de um profissional maduro – seja homem ou mulher – na hora da entrevista evidencia um certo amadorismo de uma empresa, já que o(a) recrutador(a) deveria ter essa informação antes da entrevista começar.

Hoje em dia, qualquer processo seletivo minimamente organizado provavelmente contará com uma fase prévia, no qual a candidata madura pode preencher um formulário online e informar a sua data de nascimento – ou seja, sem ter que passar por um eventual constrangimento de ter que responder a pergunta “qual é a sua idade?”.

Que fique claro: além de demonstrar o despreparo do(a) recrutador(a), esse tipo de pergunta no momento da entrevista pode até mesmo sugerir que a empresa realmente pratica o preconceito de idade, e isso é péssimo para a imagem de qualquer “marca empregadora”.

2 – “Por que você ainda não se casou?”

Essa é outra pergunta que, infelizmente, também costuma aparecer muito em entrevistas de emprego. Ao perceber que a candidata é uma solteira com mais de 40 anos, o(a) recrutador(a) questiona o motivo. Trata-se de uma pergunta inconveniente e sem noção porque envolve uma questão de cunho absolutamente pessoal que, seja qual for a resposta, provavelmente não teria qualquer impacto na performance da profissional.

A pergunta traz embutida um enorme preconceito de idade, afinal, pressupõe que “mulheres precisam já estar casadas antes dos 40”. Como assim? Quem disse que uma mulher é obrigada a se casar, seja qual for a sua idade?

Além da pergunta ser inconveniente, é desnecessária: de que forma saber por que uma pessoa ainda não se casou é importante para preencher uma vaga de emprego?

Algumas vezes, essa pergunta ainda vem acompanhada de um comentário pejorativo, supostamente feito em “tom de brincadeira”, como “já que você está solteira, não vá arrumar um homem pra casar logo aqui na empresa, ok?”.

É inacreditável, mas acontece muito no mercado!

3 – “Por que você ainda não teve filhos?”

Outra pergunta inconveniente e frequente nos processos seletivos envolvendo mulheres.

Ter ou não ter filhos é uma decisão muito pessoal e nenhuma mulher é obrigada a ter filhos. Se você, recrutador(a), faz esse tipo de pergunta para uma mulher com mais de 40 anos, está sendo bastante preconceituoso(a), afinal, passa a impressão de que entende que a candidata já deveria ter sido mãe por causa da idade que tem.

E se a candidata informar que não teve filhos por conta de algum problema de saúde? Como você, recrutador(a), vai reagir diante disso? Você tem noção de quanto essa pergunta pode ser inconveniente e até mesmo traumática e desrespeitosa?

Portanto, fazer esse tipo de pergunta a uma mulher com mais de 40 anos é inadequado e, de novo, totalmente desnecessário para verificar se uma profissional é ou não capacitada para ocupar qualquer posição em uma empresa.

4 – “Você é uma profissional que está há bastante tempo no mercado. Tem certeza de que sabe usar essa ferramenta digital?”

Não é proibido um(a) recrutador(a) fazer esse tipo de pergunta a qualquer profissional madura (ou profissional maduro) em um processo seletivo.

O problema é quando essa pergunta vem acompanhada de um sorriso irônico, de um tom de voz estranho ou de um olhar de desconfiança que pode passar a ideia de que o(a) recrutador(a) está diante de uma candidata “ultrapassada” – somente porque ela tem mais de 40 anos e supostamente “não sabe usar ferramentas digitais”, um clássico “mito” do mercado de trabalho que também é um claro sinal de etarismo contra profissionais maduros.

Se você é “gestor(a) da vaga” ou recrutador(a) e entende que saber usar essa ou aquela ferramenta digital é crucial para ocupar uma posição na sua empresa, faça a pergunta à candidata madura de forma objetiva, sem qualquer tipo de ironia, desconfiança ou viés preconceituoso. Se for preciso, informe que você irá comprovar o conhecimento da profissional nessa ferramenta digital por meio de um teste que será realizado ao longo do processo seletivo. Simples assim.

Só não faça algum tipo de insinuação etarista, que dê a entender que a candidata é “incapaz” de usar uma ferramenta digital somente por ser uma mulher de mais de 40 anos.

5 – “Você vai atuar em uma equipe jovem, com profissionais mais novos. Com a sua idade, você acredita que vai ter energia para realizar esse trabalho?”

Além de tola, essa pergunta é completamente preconceituosa, pois sugere que uma profissional com mais de 40 anos não teria condições físicas de realizar um determinado trabalho ou atuar com profissionais mais jovens do que ela.

É válido lembrar que o mundo mudou. Estamos em 2024! Hoje, uma pessoa de 40, 50 ou até 60 anos é bem mais ativa e cuida muito melhor da sua saúde do que uma pessoa da mesma faixa etária cuidava 20 anos atrás – principalmente as mulheres, que normalmente já cuidam da própria saúde melhor do que os homens. Há várias pesquisas que comprovam isso.

Há muitas mulheres com mais de 40, 50 ou 60 anos com ótima saúde e preparo físico até mesmo melhor do que jovens mulheres na faixa dos 20 ou 30 anos. Portanto, perguntar se uma profissional 40+ tem "energia” para realizar algum trabalho é, sim, preconceituoso.

Eu espero que esse artigo tenha sido útil, principalmente pra você que é gestor(a) ou recrutador(a) e talvez esteja perpetuando o preconceito de idade contra as mulheres na sua empresa – até mesmo sem saber – por conta de atitudes e perguntas equivocadas. Nunca é tarde para mudar seu comportamento em relação às profissionais maduras em processos seletivos.

Obrigado por ler esse texto até aqui. Se ainda não assina essa newsletter, clique no botão acima para receber as próximas edições. Se gostou do texto, curta, comente, compartilhe a ajude a acabar com o preconceito de idade no mercado de trabalho, principalmente contra as mulheres maduras!

Feliz Dia Internacional da Mulher!


Stefan Ligocki, 47 anos, é palestrante, consultor, professor, mentor e criador de conteúdo nas áreas de Diversidade Geracional, Mercado da Longevidade, carreira na maturidade, marketing, vendas e gestão da marca pessoal. Especialista em Mercado da Longevidade pela FGV, é fundador e diretor da Mais 40+, empresa de educação corporativa e consultoria nas áreas de Diversidade Geracional, Mercado da Longevidade e carreira na maturidade. Em 2024, foi eleito LinkedIn Top Voices, prêmio concedido pelo próprio LinkedIn aos criadores de conteúdo mais relevantes da plataforma.

Desde 2022, Stefan Ligocki faz parte do LinkedIn para Creators, o programa oficial de criadores de conteúdo do LinkedIn Brasil. Em 2023, foi considerado o terceiro criador de conteúdo que mais cresceu em popularidade e relevância no LinkedIn Brasil, de acordo com estudo da empresa francesa de avaliação de mídias sociais Favikon.

Ligocki já realizou mais de 230 cursos e palestras em 60 cidades do Brasil, capacitando mais de 15 mil profissionais de marketing, vendas e recursos humanos de cerca de 400 empresas e organizações, entre elas Unimed, Sicredi, Unicred, SAP, ArcelorMittal, SBT e SEBRAE, entre outras.

Para contratar palestras, cursos ou consultorias de Diversidade Geracional, Mercado da Longevidade, marketing ou vendas, acesse o meu site pessoal ou o site da Mais 40+.

Acompanhe todos os meus conteúdos seguindo o meu perfil aqui no LinkedIn. Acompanhe outros conteúdos sobre marketing, vendas e gestão da marca pessoal também no Instagram @stefanligocki

Rosemere Gomes Pizzolato

Gestora de Operações de Atendimento

9 m

Temos que falar muito a este respeito, já passei por questionamentos sobre minha idade em uma entrevista sem qualquer contexto. Uma pergunta solta por não ter idade no currículo. Questionários de teste onde pedem seu nome e idade!? pra que se é pra avaliação de competência, pq idade?. Se faz necessário muita evolução , para que o profissional sênior tenha o seu devido valor reconhecido.

Nirley C.

Gestão de Clientes | B2C | B2B I CS | CX I Onboarding | Call Center | Líder de equipe

9 m

Parabéns pelo artigo Stefan Ligocki! Fiquei pensando no nível de senioridade das empresas/recrutadores que fazem essas perguntas... São amadoras e até vergonhosas! Minha torcida é que, cada vez mais, os prateados sejam respeitados por sua história e capacidade.

Rozimar Medeiros Pereira

Gerente | Analista de RH | Administrativo | Generalista | Gestão De Pessoas | DP | Gestão de Risco | Assistente Administrativo | Saúde suplementar | ANS | Hospital | Clínicas | Faturamento | Power Query | Power BI | CRM

9 m

Participei de uma entrevista recentemente, a Gestora fez a apresentação dela e me pediu que eu me apresentasse, quando informei a idade dos meus filhos, ela parou de fazer o q estava fazendo (acho que ela estava escrevendo) com ênfase perguntou a minha idade, na hora gaguejei pois foi nítido o tom de voz dela, continuei falando das minhas experiências meio nervosa, infelizmente ela não direcionou os olhos para mim, ficou escrevendo e lendo. Ali percebi que não iria passar no processo. Frustrante, quando eu era nova, não arrumava emprego por não ter experiência, hoje tenho experiência mas tô velha, e muito nova pra me aposentar. Surreal.

Marcelo Carlo Oliveira

CEO na Olivia Lobell International | Ajudamos Você Construir Um Negócio de Coaching de 6 & 7 Dígitos & Além Por Ano Com um Método Comprovado em 16 Países 🌍 e Milhões Gerados Pelos Clientes 💵

9 m

Que tema relevante para abordar no Dia Internacional da Mulher! Parabéns pela iniciativa de combater o preconceito de idade. 👏 Stefan Ligocki

Renato Concilio

Scrum Master | Agile Master | Líder de Projetos | PSM I | OKR | Mgt 3.0 | KSD | PKE | VMO

9 m

Bom artigo Stefan Ligocki! Mas o preconceito de idade, atinge também os homens. Tenho 61, em dezembro do ano passado, uma recrutadora perguntou minha idade. Quando eu respondi, ela perguntou se não estava na hora de eu me aposentar!

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