Clima, economia e desenvolvimento
Objetivos visíveis nos permitem alcançar resultados memoráveis. Sem o sarrafo, Javier Sotomayor não teria alcançado a marca de 2m45 no salto em altura. Em outras palavras, como W. E. Deming descreveu no campo da gestão, “não se gerencia o que não se mede”.
Pois bem, a Cúpula sobre a ambição climática 2020, promovida no último dia 12 de dezembro pela ONU, Reino Unido e França em parceria com Chile e Itália, convocou líderes globais a assumirem novos compromissos associados ao Acordo de Paris. Desta vez, sem espaço para declarações genéricas, ganharam o palco virtual da Cúpula, só os líderes que trouxeram novidades para limitar a 1,5º C o aumento da temperatura do planeta. Falaram apenas os países que anunciaram ter subido seus sarrafos para construir uma recuperação ecológica e resiliente, que o Papa Francisco chamou de ecologia integral.
Frear o aquecimento global é um desafio que exige forte concertação e multilateralismo entre nações. Um dos impactos mais visíveis da mudança climática será o aumento do nível do mar. Com as principais metrópoles localizadas em zonas costeiras, a elevação do nível dos oceanos alterará de forma preocupante a geografia e a demografia dessas regiões.
Na abertura da Cúpula, o secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, foi direto: o mundo deve já declarar uma emergência climática a fim de alcançar a neutralidade de carbono em meados deste século. Seguiram-se a ele anúncios ambiciosos. Britânicos, comprometidos em reduzir suas emissões em 68% até 2030, não financiarão mais a produção de combustíveis fósseis no exterior, exemplo seguido também por franceses. Por sua vez, chineses foram além do compromisso de atingir a neutralidade em 2060 e assumiram reduzir até 2030, 65% da intensidade de carbono da sua economia, aumentar o volume do estoque florestal em 6 bilhões de metros cúbicos e aumentar a capacidade total instalada de fontes renováveis para mais de 1,2 bilhão de quilowatts. Para a União Europeia, responsável hoje por 10% das emissões globais, o sarrafo de emissões de CO2 foi de 40% para 55% até 2030 em comparação com os níveis de 1990. Ambicioso foi também o anúncio canadense que se comprometeu a atingir uma redução de 32% a 40% nas emissões até 2030 em relação a 2005.
E quanto ao Brasil? Bem, segundo os anfitriões, o país não apresentou novos compromissos ambientais e por isso não foi chamado ao palco; definiu o seu sarrafo, mas não teve ambição e manteve a meta assumidas no Acordo de Paris: reduzir em 43% as emissões até 2030 pressionado pelas mudanças no uso da terra que representam 44% das suas emissões, fortemente associados ao desmatamento descontrolado. A atitude do governo brasileiro não passa confiança de que o plano nacional de zerar o desmatamento ilegal até 2030, reflorestar 12 milhões de hectares e assegurar 45% de fontes renováveis na matriz energética nacional é factível.
Ante a falta de ambição e de credibilidade do governo, restou a Gilberto Gil ser a voz brasileira na Cúpula do Clima para convocar a humanidade: juntos pelo nosso planeta.