Coceiras literárias
Sinto uma coceira, daquelas impossíveis de coçar, que brota internamente na boca do estômago e sobe até a garganta. Coceira que não se coça, mas que se a gente não se livra dela, ela não cessa. Mas e como se livrar?
Coçamos com a mão, oras. Não do jeito que a gente coça as costas ou a ferida que se cicatriza . Coçamos ao mexer os dedos num movimento vai-e-vem constante que, ao invés de ser na pele, é na tela. Ou no teclado. Ou na caneta. Ou no lápis. Se a gente não faz esse movimento, a coceira inferniza e sarneia.
A vontade de escrever é a pulga que torna a coçada inevitável. Escrever é tirar a casquinha, é aliviar ao ver a pele vermelha e com as vergões feitos pelas unhas - e não ter mais aquela sensação insuportável das cócegas travestidas de comichões. A gente faz que nem quando coça a pele: fecha os olhos, projeta a cabeça pra cima, faz o movimento, abre os olhos e pensa: talvez não devia ter coçado, mas a vida é dura demais pra fingir que a vontade não existe. Um viva às coceiras internas que se transformam em palavras envergadas ❤
Coordenadora de Marketing e Experiência na Sicredi Pioneira
3 aAmei Bia! Sempre tão verdadeira nos teus textos 💛