Colaboração radical para construção de uma cultura de doação

Por Flora Bitancourt, empreendedora social, sócia da Impact Beyond, sócia do Socialab no Brasil, diretora do fiiS no Brasil e presidente voluntária do Instituto Movimentarte, parte da rede de empreendedores do Fórum Econômico Mundial, Global Shapers. co-líder da campanha fome de ação e da plataforma MAIS (Mapa do Impacto Social).

Quando falamos de Cultura da Doação, um milhão de coisas vem à mente das pessoas, muitas viram o rosto por pensar que queremos “tirar algo delas” e outras veem como um ato de ingênua bondade.  Mas não é nada disso,  a palavra grega philantropia significa “amor à humanidade”, estamos falando de uma atitude muito mais horizontalizada e focada no bem comum, no desenvolvimento coletivo e não em um lugar de superioridade que chega a desumanizar quem recebe a doação. 

Quando decidimos trazer o FiiS (Festival Internacional de Inovação Social) para o Brasil, esse foi um tema que não poderia deixar de estar presente nas nossas discussões, afinal, instituições e pessoas que transformam a realidade, que geram impacto positivo real na sociedade conseguem manter suas portas abertas graças a doações de empresas e pessoas físicas. Costumamos dizer que o fiiS atua através da colaboração radical para acelerar uma transformação cultural para o bem comum.

Se por um lado o brasileiro é reconhecido no mundo pela sua solidariedade, nosso povo está sempre pronto para “botar água no feijão”, ajudar na escola do vizinho, quando pensamos nesse processo de doação mais institucionalizado, a maioria das pessoas não compreende bem do que se trata.  Segundo a Pesquisa Doação Brasil 2020, nos últimos anos, em 2020, 66% dos brasileiros haviam feito algum tipo de doação, contra 77% em 2015. Entende-se que as pessoas tinham menos o que dividir no período da pandemia. Porém, os dados demonstram que os mais pobres doam mais que os mais ricos.  

Apesar da queda numérica, a cultura da doação vem se fortalecendo, aponta a pesquisa. Mais de 80% dos brasileiros acham que o ato de doar faz diferença, e o percentual de pessoas que acreditam que a doação faz bem para o doador aumentou de 81% para 91% entre 2015 e 2020. 

A cultura de doação no brasil está em construção e muitas organizações estão se mobilizando para trazer soluções práticas para acelerar esse processo, seja com novos modelos de engajamento ou com um chamado para democratização do acesso às doações através de novas tecnologias.   

Alguns parceiros do FiiS São Paulo que trouxeram essa temática para nosso público são exemplos de inovação na área como a Doare , uma Socialtech de doações online com soluções de captação de recursos para organizações filantrópicas e doações corporativas, estamos falando de um negócio de impacto social que atua através do fortalecimento de conexões entre o setor social, pessoas e empresas. O Instituto MOL também inova produzindo conteúdo multiplataforma para conscientizar, engajar e inspirar doadores de todos os portes e causas, também funcionando como uma plataforma de conexão entre causas, negócios e pessoas em projetos que promovem engajamento cívico e geram doações com o objetivo de que as pessoas se sintam mais seguras para doar, que o façam com consciência e propósito. Já o Instituto Phi busca assessorar indivíduos e empresas a fazer de maneira estratégica o planejamento de sua filantropia e, ao mesmo tempo, fortalecendo a gestão de projetos sociais e criando soluções customizadas para o desenvolvimento do Terceiro Setor. Como já deu para perceber, não estamos falando de assistencialismo e sim de investir numa construção coletiva de sociedade onde todos podemos dar e receber. 

Outro momento especial do FiiS foi o Prêmio Melhores ONGs , que tem como missão reconhecer e divulgar as ONGs do Brasil que mais se destacam anualmente pela sua excelência em gestão, governança, sustentabilidade financeira e transparência. Puderam construir um momento de confraternização e reconhecimentos entre ongs que já foram premiadas ao longo dos últimos anos e que fazem a diferença no nosso país. 

O fiiS é um festival que nasce a partir de uma construção coletiva, acreditamos, eu e toda equipe envolvida nesse projeto, na força transformadora da colaboração, e que a união das pessoas é capaz de construir uma realidade de igualdade, alegria e generosidade.