Como construir uma cidade pensando no futuro com colaboração?
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Como construir uma cidade pensando no futuro com colaboração?

Estamos em tempo de eleger um novo prefeito em um momento de muitas incertezas. Precisamos escolher um que traduza mais assertivamente nossas expectativas. Quais são elas? O que queremos?

Conheci e pude participar de uma experiência muito interessante em 2001: Santo André estava finalizando o processo de discussão, em toda a cidade, de um plano de desenvolvimento sustentável. Uma cidade orgulhosa de sua história industrial, ao ter uma excelente qualidade de vida e de trabalho digno, juntando-se para discutir uma nova trajetória diante da desindustrialização inevitável que acontecia naquele período.

O plano teve nome – Cidade Futuro. Um conjunto de objetivos, metas e indicadores, construídos e discutidos com toda a cidade por meio da regionalização municipal e de conferências. Houve, inclusive, chamamento específico para a participação dos jovens por meio de campanha de comunicação Futuro da Galera, e de festivais culturais.

O objetivo comum desta cidade? Olhar para suas potencialidades e fragilidades, e conduzir uma nova trajetória nos 10 anos seguintes. Para isso, foi criado um fórum de acompanhamento que se reunia uma vez por ano em conferência para acompanhar o desempenho das atividades planejadas.

Junto com outras políticas públicas de desenvolvimento ambiental, econômico e urbano, Santo André passou a avançar com sua qualidade de vida se tornando uma das melhores cidades residenciais da região metropolitana de São Paulo, oferecendo e acolhendo serviços de qualidade.

Tecnologias participativas e colaborativas foram aplicadas. Todas as expectativas eram ouvidas e atendidas por meio de espaços de discussão e consensos. Em cinco anos, mais de 70% das metas previstas, para 10 anos, haviam sido executadas.

O governo municipal foi eficiente? Foi, mas, em um primeiro ciclo de planejamento, era de se esperar que os objetivos definidos atendessem às expectativas de curto-prazo. Novos ciclos de planejamento aperfeiçoariam o processo, construindo a visão sistêmica e coletiva sobre a cidade, cultura do planejamento e de revisões das potencialidades, fragilidades, riscos e, sim, ameaças àquela cidade.

De 2001 para os dias atuais, muita coisa mudou, principalmente a tecnologia, que vem acelerando nossa forma de produzir e de nos relacionar. Além disso, temas por muito tempo postergados agora vêm pautando a ação mundial, como mudanças climáticas, perda da biodiversidade e saúde.

Novas tecnologias, inteligência para a gestão pública, economia circular, adaptação e resiliência às mudanças climáticas, digitalização das empresas e dos serviços de saúde, mudanças de hábitos dos cidadãos no pós-pandemia, empreendedorismo, entre outros assuntos, estão sobrepondo a agenda anterior ainda em processo de execução, como direito à moradia, saneamento, mobilidade, manutenção do SUS e geração de emprego.

Além disso, 2020 é o ano em que o pilar econômico do triple botton line entra com força nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS). O capitalismo de stakeholder joga mais atenção sobre a sociedade civil organizada que está ampliando sua agenda, incluindo, questionando o status quo e empoderando a diversidade.

Um processo de engajamento, que promova a participação, colaboração e aprendizado contínuo passa, agora, a ser fundamental para o sucesso da gestão pública. Vimos ao redor do mundo muitas manifestações sociais nas ruas, porém, poucas possuem relação direta com a gestão local. Grandes movimentos têm impacto regional, nacional e internacional, como a agenda de enfrentamento ao racismo, diversidade e de gênero.

Construção participativa

Tendo em vista que as empresas vêm reportando seus compromissos com os ODS e que os acionistas e investidores reportam o quão responsáveis são nas questões ambientais, sociais e econômicas (ASG ou ESG em inglês), seria possível colocar todos os atores e atrizes, de diferentes segmentos sociais, com objetivos comuns, na mesa de construção participativa.

O que precisa para pensar o futuro com colaboração? Todos devem querer se comprometer em participar, mas principalmente, a equipe da prefeitura precisa se organizar e disponibilizar políticas, processos e acessos para a participação e colaboração social. Obviamente, existem diversas iniciativas que pensam a cidade, mas alguma organização precisa agregar, juntar, compor e garantir que as ações aconteçam e que possam ser acompanhadas. O melhor ator para exercer este papel na sociedade é o governo local.

Algumas cidades podem sair na frente, principalmente as maiores, uma vez que possuem instituições, redes, plataformas e polos de inovação onde se desenvolvem muitos facilitadores de processos de colaboração ou cocriação. Destaco aqui o Fab Lab, espaços de inovação e cocriação para a cidade e com a cidade, trazendo as universidades como parceiras.

Nada está escrito sobre pedra – estes são caminhos. Mas estamos muito conectados para não iniciarmos um processo de autoconhecimento local, aprender como funciona a gestão pública com mais profundidade, eliminar o preconceito quanto ao funcionalismo público e aprender a priorizar de forma coletiva.

Sobre mim

Carreira profissional desenvolvida nas áreas de Sustentabilidade, Gestão Ambiental e Responsabilidade Social, atuando em fundações privadas, governos e empresas dos setores Papel e Celulose, Florestal, Química e Mineração. Gerenciei portfólio de programas e projetos multidisciplinares de larga escala, em diferentes níveis de complexidade e conflitos, tratando de cooperação e relações internacionais, gestão hídrica, saneamento, restauração florestal, agricultura sustentável, biodiversidade, políticas públicas de diversidade, engajamento social, investimentos sociais e de valor compartilhado. Contribui em projetos de PNUD-IBAMA, Suzano Papel e Celulose, Fundação Espaço Eco (BASF) e Fundação Renova (VALE, BHP Billitton e Samarco). Sou Mestre em Engenharia pela FEAGRI/UNICAMP, tenho MBA em Gerenciamento de Projetos pela FGV e sou Especialista em Engenharia de Irrigação pelo CEDEX/YRIDA-Espanha.

Tiago Henrique Silva

Environmental Manager / ESG / Speaker / Agro-Ecological Extensionist / Researcher in Smart Cities +/Adviser & Ambassador RI ESF-BR-NL. DRC / Prom.ODS.age30 / Advisor COMPIR / Social Entrepreneur/ Master plan

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Ola Sara seu artigo reflete a situação atual que estou travando em minha cidade estamos iniciando a discussão em torno do plano diretor base para organizar a gestão pública no foco que os cidadão apontam pelas demandas iniciei um convocação e criamos um comitê cidadão para colaborar tecnicamente com está discussão de forma atingir a comunidade em gênero, geracional multidisciplinar e multi-institucional um caminho difícil quando questões atrasadas da gestão pública ainda estão dominadas por visões coronelista,patrimonialista e clientelista girar a roda para outra direção e possível com muito engajamento de cidadão realmente emancipados os quais neste caso tenho encontrado espero ter um boa case para contar após está jornada.

Patricia Lemos

Gerente de Projetos Sênior.

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Parabéns!!!!

Simone Vernaglia Martins

Meio Ambiente / Sustentabilidade/ Certificações/Estudante Engenharia Produção

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Excelente Sara!!

Achei fantásticas suas colocações!!! Principalmente quando disse que os municípios precisam fazer algo com o que tem disponível!!!

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