Como ficou a oferta de crédito para o varejo depois da crise
das Americanas?

Como ficou a oferta de crédito para o varejo depois da crise das Americanas?

O ano começou pegando fogo! Para quem pensava que 2023 iniciaria sereno depois de um ano tão intenso como 2022, caiu do cavalo. Parece que um ano inteiro foi condensado em um mês, tamanha a quantidade de eventos. 

Tivemos a posse do novo governo marcada pela apreensão por possíveis episódios de violência política, o enterro do eterno Rei do Futebol no dia seguinte e os malfadados ataques terroristas em Brasília em 08/01. 

Quando todos já pensavam que não poderia ocorrer tão cedo outro evento que monopolizasse as atenções, veio a crise de 11 janeiro. 

Uma crise que, com o perdão do chavão, caiu como uma bomba no mercado de varejo e para as projeções econômicas para o ano que mal havia começado.

Uma crise que veio sem aviso, surpreendeu a milhões e pode gerar efeito catastrófico para a economia brasileira se medidas cabíveis não forem tomadas. 

A primeira prova de fogo na economia para o novo governo entrou em cena quando Sergio Rial renunciou ao cargo de CEO de um dos colossos quase centenário do varejo brasileiro. 

O caso Americanas: efeito dominó do escândalo é o principal desafio do varejo em 2023

Era uma quarta-feira, o país prosseguia tenso com a invasão ao Congresso no último domingo, acompanhando minuto a minuto as repercussões de mais um dia histórico quando Sérgio Rial decidiu renunciar ao cargo de CEO das Lojas Americanas.  Ele saiu com uma declaração bombástica: um rombo de 20 R$ bilhões no balanço da empresa. 

Segundo Rial, que assumira o cargo em 2 de janeiro de 2023, o grupo vinha escondendo essa dívida calamitosa.

Após essa declaração, o caso virou uma enorme bola de neve com repercussões jurídicas e econômicas a se perder de vista.

Em dez dias, a Americanas viu essa crise deflagrada se tornar um pedido de recuperação judicial, dando início a uma longa batalha entre a varejista e seus principais credores. 

Com o estouro da crise e uma dívida impagável a curto prazo, o conselho de administração do grupo não demorou para tomar as primeiras medidas para controlar o incêndio. 

Centros operacionais foram fechados, contratos com fornecedores interrompidos e informes de não pagamento de dívidas anunciados.

Medidas que causaram impacto instantâneo e potencializaram efeito dominó de larga escala. Não são poucos os fornecedores que tinham como principal cliente as Lojas Americanas. Com o corte de gastos, seus negócios se tornaram inviáveis de um dia para o outro. 

Negócios quebraram ou ameaçam a quebrar, demissões ocorreram e certamente tendem a se multiplicar e o endividamento de negócios e famílias a crescer dramaticamente. 

Condição que costuma afetar todos os setores da economia: desemprego e endividamento em alta, consumo e circulação de dinheiro em baixa.

Para piorar o cenário, o caso das Americanas se mostrou o primeiro de uma série de outras notícias nada alvissareiras para o varejo em 2023.

Gigantes ruindo

As Americanas abriu a porteira das notícias ruins para o setor varejista em 2023. Logo após a crise dos R$ 20 bilhões, foi à vez da rede de vestuário Marisa anunciar uma reestruturação de débitos.

Ainda no mesmo período, o mercado teve conhecimento que um centro de distribuição da Tok&Stok recebeu um pedido de despejo e a tradicional Livraria Cultura teve sua falência decretada judicialmente. 

Vale ainda lembrar que está em andamento outras recuperações judiciais (Ricardo Elétrico e Saraiva).

Não menos importante, após o escândalo do dia 11/01, todos os negócios com envolvimento dos sócios das Lojas Americanas passaram a ser alvo de pente fino nas suas contas. 

Há indícios de que outros importantes negócios também estejam com seus balancetes comprometidos.

O crédito em meio ao caos: limites achatados

A oferta de crédito, como não podia deixar de ser, sofreu um baque contundente e tenderá a ecoar ao longo de 2023. 

A crise das Americanas provocou desconfiança geral do setor financeiro com as empresas do varejo. O efeito disso foi revisar para baixo os limites de crédito do setor varejista.

Para complicar ainda mais o cenário do setor, a taxa Selic subiu mais de 10% em um ano e meio, se encontrando atualmente em 13,75%, uma das mais elevadas do mundo. 

A consequência disso é o encarecimento do crédito tanto para as empresas como para os consumidores. 

A reação do governo para evitar a escalda da crise

Agora é um momento decisivo para o governo entrar em cena e mover as peças do tabuleiro para evitar a dilatação da crise antes que se torne uma hecatombe na economia.

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, declarou intenção de uma abrir uma linha de crédito especial para os fornecedores que se viram bruscamente no olho do furacão. 

Outra medida estudada pelo governo é prorrogar um fundo garantidor que sustenta o Programa Emergencial de Acesso ao Crédito, FGI-Peac, criado durante a pandemia.

O fundo recebeu R$ 20 bilhões do Tesouro Nacional no auge da crise do coronavírus. No entanto, essa medida enfrenta um entrave importante. O FGI-Peac já foi renovado uma vez e o prazo da última renovação se encerra em dezembro deste ano. 

Ou seja, faltam apenas 9 meses para seu término, o que dificultaria enquadrar todos os possíveis beneficiários no programa.

Governo estenderá a mão para os gigantes?

Outra possibilidade para evitar o colapso do setor varejista seria o Estado fornecer suporte para as empresas no epicentro da crise, a exemplo do que fizera o governo estadunidense na crise de 2008.

Porém, essa hipótese para estar completamente fora dos planos do governo. Primeiro há a questão econômica, pois o país amarga um longo período de crise aguda intensificado pela pandemia. Segundo, há a questão política. 

Decerto não cairia bem para ampla parcela da sociedade o governo federal apoiar com recursos públicos empresas envolvidas em escândalos contábeis. A sociedade deveria arcar com os erros, ou talvez, crimes cometidos por terceiros para salvar seus negócios?

Por outro lado, há a questão dos empregos a serem ceifados com a derrocada total desses negócios. Vale considerar que a taxa de desemprego do Brasil continua em patamares altíssimos, assim como a informalidade. 

Qual a sua opinião? 

O fato é que independente das próximas ações do governo, o cenário atual é de crédito minguado e não há sinais de que esse cenário se modifique tão cedo. 

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