Como foi o mês de abril-24 para os mercados?
Já adianto que não foi muito legal.
O lado bom é que dá para resumir em poucas palavras: foi um banho de sangue.
As bolsas americanas, que vinham voando, engataram uma marcha à ré e despencaram entre 4% e 5%. No ano, porém, ainda estão bem — com exceção do DJIA que está no zero a zero.
Até a bolsa japonesa, que era a sensação dos últimos meses, despencou, assim como as bolsas europeias.
Por aqui, o Ibovespa continuou sua viagem ao centro da Terra, e já cai mais de 6% no ano.
Sobrou até para a renda fixa, que amargou perdas no mês em quase todos os vencimentos, graças ao apetite voraz do governo por gastar o que tem e o que não tem.
Nessa carnificina, só quem se salvou mesmo foi o CDI. Com esse aí não tem tempo ruim, apesar de já não ser tão doce quanto era um ano atrás.
E é isso!
Se estiver com pressa, pode ir tranquilo, pois já te contei o que importa. Mas se tiver um tempinho para a resenha...
Higher for longer
Sabe aquela conversa de recessão nos EUA? Esqueça.
A economia continua fervendo, estraçalhando todas as projeções.
A atividade industrial segue superando as expectativas, o mercado de trabalho segue em pleno emprego e o sentimento do consumidor está no nível mais alto desde julho de 2021.
A única decepção foi o PIB, que cresceu “apenas” 1,6%.
Nesse caldeirão econômico, a inflação empacou na faixa dos 3% e não mostra nenhum sinal de que convergirá para a meta de 2% em um futuro próximo.
Diante disso, o FED (banco central americano) desconversou sobre a promessa de reduzir os juros em junho, e disse que tudo vai depender da inflação (e já não era assim?).
Então o mercado, que não é ansioso nem nada, jogou a toalha sobre a redução dos juros, levando a taxa do treasury (título público americano) de 10 anos para o nível mais elevado desde novembro.
A leitura é de que o FED vai manter o juro elevado por mais tempo (higher for longer).
Diante dessa conjuntura, com o custo do dinheiro mais alto (e por mais tempo), os ativos de risco sofreram de forma generalizada, o que explica o debacle nas bolsas mundo afora.
Toc, Toc... Quem bate? → Tik, Tok...
A poucos meses da eleição presidencial, a política vem fazendo muito barulho nos EUA.
Apesar de todas as polêmicas envolvendo Trump (que está enfrentando um julgamento neste exato momento, por sinal), as pesquisas mostram que ele lidera a disputa, por uma pequena margem, nos estados decisivos, os chamados swing states.
Por conta disso, Joe Biden começou a jogar para a torcida. Ele decretou o perdão de dívidas estudantis, além de dívidas de professores, bibliotecários e trabalhadores da segurança pública, e até se mostrou mais flexível em relação ao uso de maconha.
Essas medidas podem ajudar a melhorar a sua popularidade junto à população mais jovem.
Por outro lado, ele sancionou a legislação aprovada pelo Congresso que proíbe o TikTok no país, a menos que sua controladora chinesa, a ByteDance, venda o aplicativo dentro de um ano.
O TikTok tem mais de 170 milhões de usuários americanos e é uma febre entre os mais jovens (ops!).
O fato é que a oposição à China é uma das poucas coisas capazes de unir democratas e republicanos. Então, tudo indica que o app das dancinhas vai mesmo dançar.
Além dessa decisão, o Congresso americano aprovou um pacote de US$ 95 bilhões para ajudar Ucrânia e Israel. Antes tarde do que nunca (tomara!).
Ah, e para não perder a viagem, o Congresso decidiu usar US$ 5 bilhões das reservas russas que haviam congelado. Não é muita coisa, é verdade, mas é simbólico.
Toc, Toc... Quem bate? → Tik, Tok... Quem bate? → Quem bate no Tik Tok?
É difícil ensinar truques novos a cães velhos (e desconfiados)
Depois de meses numa pendenga danada, a economia chinesa mostrou uma robustez inesperada: o PIB avançou 5,3% no primeiro trimestre, superando as projeções.
Entretanto, ao analisar os números com lupa, é possível notar que o grosso do resultado veio de investimentos industriais e exportações, uma política conhecida de longa data.
Os chineses têm inundado o mercado internacional com produtos a preços imbatíveis, despertando a ira de diversos países, que questionam as práticas protecionistas de Pequim.
Ao analisar o mercado interno, porém, a história é outra. As vendas no varejo mostram fraquezas e o mercado imobiliário continua em crise.
Para piorar, muitos chineses relutam em fazer dívidas, já que a política para devedores no país é brutal. Se o cidadão não andar no trilho, nem um trem de alta velocidade ele consegue pegar, além de se tonar quase um pária.
A China precisa ajustar o seu modelo econômico o quanto antes, pois dificilmente conseguirá sustentar o seu crescimento apenas com exportações.
O Ocidente já começou a engrossar as regras para os produtos chineses e, se Trump ganhar a eleição, esse movimento vai se intensificar ainda mais.
Xi Jinping sabe que precisa de novas cartas, mas é difícil ensinar truques novos a cães velhos — e rabugentos.
“Eu desconfio de todo idealista que lucra com seu ideal”
Em abril, começaram as eleições para definir o presidente da maior democracia do mundo.
Mas fique tranquilo, você não perdeu nada, pois o resultado só sai no mês que vem.
Também pudera: não é tarefa fácil computar os votos da maior população do globo.
Além disso, ao que tudo indica, Narendra Modi deve ganhar a parada com folga, garantindo seu terceiro mandato seguido.
Ele e seu partido, o BJP, tem conduzido uma verdadeira caçada aos opositores, na autêntica pegada maquiavélica “aos amigos tudo, aos inimigos, a lei”.
Além disso, o presidente Modi tem patrocinado com força o Hindutva, uma ideologia política que defende o nacionalismo e a supremacia cultural hindu na Índia.
Nesse espírito, o estado indiano tem amassado as minorias e privilegiado a maioria hindu, o que, diga-se de passagem, gera dividendos políticos gigantescos para o Sr. Modi.
Daqui de longe, como um mero espectador e sem a propriedade para realizar uma análise aprofundada, tudo o que me resta é desconfiar.
Coincidentemente, outro dia assisti a um trecho de uma entrevista antiga de Millôr Fernandes no Roda Viva, onde ele falava sobre um certo trovador da esquerda caviar: “eu desconfio de todo idealista que lucra com seu ideal”.
Cabelo de um, cabelo de outro, quem não puxar primeiro...
O bicho continua pegando no Oriente Médio, motivo pelo qual tive que dedicar-lhe uma seção à parte.
No começo do mês, Israel lançou um ataque a embaixada iraniana na Síria, matando um alto oficial do Irã.
O país persa saiu da surdina e decidiu atacar Israel diretamente (sem usar suas tradicionais marionetes), lançando uma chuva de drones e mísseis sobre o país judeu. Contudo, não atingiu nenhum alvo importante; foi só para fazer fumaça e mostrar força.
Israel, para não ficar por baixo, lançou mísseis à cidade de Isfahan. O ataque não foi decisivo, mas ocorreu próximo a instalações nucleares iranianas, com o objetivo de demonstrar força e a capacidade de atingir o inimigo onde mais dói.
Apesar do pega pra capar, a interpretação é que as duas partes ficaram satisfeitas com o show pirotécnico e que as tensões não devem escalar entre elas.
Eu tenho cá minhas dúvidas, já que Netanyahu está inflexível e deve ordenar a invasão da cidade de Rafá nos próximos dias.
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O Secretário de Estado americano, Antony Blinken, está na região, tentando costurar um acordo improvável entre Israel e Arábia Saudita. Seria uma baita demonstração de força dos EUA...
Enquanto isso, manifestantes pró-palestina tocam o terror em universidades americanas. Se eles estão certos eu não sei, só me pergunto por que nunca protestaram contra os líderes do Hamas, que escravizam a população enquanto vivem como reis no Catar.
Money que é good nóis num have …
Depois desse rolê pelo mundo, precisamos voltar pra casinha.
Infelizmente, o assunto não é novo: rombo fiscal.
Apesar da ladainha ser antiga, o buraco é cada vez mais embaixo, porque, ao que parece, o governo resolveu dobrar a meta.
A despeito de todo o esforço do ministro Tributando Taxxad, cuja criatividade para criar novos impostos parece ilimitada, as contas públicas não fecham.
Isso porque a capacidade de queimar dinheiro do governo — seja com programas sem transparência ou com afagos para os amigos do judiciário — é imensurável.
Diante desse Leviatã insaciável, não admira que as contas tenham apresentado um déficit primário (nem colocamos os juros na conta) de R$ 1,5 bilhão em março. E isso com a balança comercial batendo recordes... Imagine...
O desafeto incompetente que não sabia tocar lira
Como se não bastasse toda a irresponsabilidade fiscal e as lambanças diplomáticas, o Luloso parece ter perdido sua habilidade mais reverenciada, a articulação política.
As relações com o Congresso foram pro vinagre.
Por um lado, como não consegue convencer seu padrinho a gastar menos, seu Taxxad tem forçado a barra para acabar com programas caros ao Congresso, como o Perse e a Desoneração da Folha.
Será que depois de tanto tempo de experiência, ele não aprendeu que nada é mais permanente no Brasil do que uma medida provisória?
Por outro lado, o Ministro das Discórdias Institucionais, aquele que tem o nome da Padilha, tem cutucado o Presidente da Câmara com vara curta.
Mas Lira não vai comer calado. Mesmo sabendo que o danado tem as costas largas (pois o Luloso saiu em defesa do soldado em rede nacional), Lira avisou que não vai deixar barato para o “incompetente desafeto”.
Quem vai ganhar o arranca-rabo eu não sei, mas pode ter certeza de que é você quem pagará a conta.
E no card principal do UFC: X vs. X9
Parece que finalmente o Imperador do Brasil, quer dizer, o Ministro Supremo, ou melhor, o Ministro do Supremo, encontrou um adversário à altura, pelo menos até o danado vazar para Marte.
Elon Musk não comeu reggae e colocou a boca no trombone: “este juiz traiu descaradamente e repetidamente a constituição e o povo do Brasil. Ele deveria renunciar ou sofrer impeachment”.
Só para deixar claro, Vossa Excelência: não fui eu quem falou, se liga aí nas aspas; coloquei até em negrito.
O dono do X disse que a rede social foi forçada a bloquear “determinadas contas populares no Brasil”, e que estava proibido de divulgar quais foram afetadas, sob pena de receber multas diárias se não cumprisse a ordem.
Bom, direito não é a minha praia, mas que parece pouco republicano, parece.
O ministro “pagou na mesma moeda” e, um dia depois, incluiu Musk entre os investigados do inquérito das fake news.
O que não vai faltar é oficial de justiça interessado em entregar essa intimação nos States. Agora, se o homem for para Marte, de quem é a jurisdição?
Na minha condição de peixe pequeno, fico só de quebrada assistindo a treta. Eu quero mais é que o mar pegue fogo para eu comer peixe frito (metaforicamente, é claro).
Eles que se resolvam. Como dizia Chorão: eles são gente, mas não são gente como a gente.
Poucas e (nem tão) boas (assim) – versão jabuticaba
Fechando o bafafá político, a ala radical do PT não conseguiu(ainda) derrubar o CEO da Petrobras, e a empresa anunciou que vai rolar dividendo; por enquanto é só metade, mas é melhor do que nada.
Já o presidente do Conselho da Petro foi suspenso por decisão judicial. Além de ser peixada do Ministro de Minas e Energia, o homem é Secretário Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Ou seja, ele batia o escanteio e corria pra cabecear.
A Petro anunciou uma nova descoberta de petróleo em águas ultraprofundas da Bacia Potiguar, na Margem Equatorial. Difícil vai ser convencer a Marina Silva de que os carros não são movidos a amor.
O ministro Zanin (aquele que não tem nenhum vínculo com o governo, e foi indicado apenas por mérito e não por brotheragem) derrubou, de forma unilateral, a Desoneração da Folha, deixando o Congresso pirado. Isso ainda vai dar pano para manga...
Numa derrota para o governo, o Congresso barrou a proposta de retomar o imposto sindical. Seu bolso agradece.
O governo anunciou uma proposta de R$ 1.502 para o salário-mínimo em 2025, uma alta de 6,37%.
O número de Recuperações Judiciais disparou no agronegócio. Tem até empresa saudável recorrendo à medida. Agora, qual o critério que os juízes têm usado para aprovar, só Deus sabe. Uma coisa é certa, se a moda pegar, ninguém vai querer emprestar grana para o setor. O Agro vai ser Pop, mas um Badboy Pop.
Poucas e (nem tão) boas (assim) – international version
No dia 8 de abril, rolou um eclipse solar total, mas só deu para ver nos países do norte. Nem o universo tá a fim de conversa conosco. Desconfio que Taxxad tava querendo tributar o escuro.
Enquanto brigava com Xandão, se preocupava com BYD, viajava para a China, preparava o lançamento de outro foguete, dava conta dos 10 filhos e tentava chegar em Marte, Musk anunciou que a Tesla vai mostrar seu Robotáxi em agosto (de Deus?).
O ouro atingiu um novo pico, sendo negociado a mais de US$ 2.362 a onça-troy. Também, com a dívida dos EUA subindo mais do que plano de saúde, todo mundo está correndo para a segurança do metal precioso.
A China, por exemplo, não para de comprar o “ferro amarelo”; ainda mais depois que os EUA meteram a mão nas reservas da Rússia.
O metal dourado tá saindo mais que pão quente; tá vendendo até no atacarejo dos EUA (rede Costco). Você já comprou quantas barras (de chocolate não vale)?
Por falar em ouro, finalmente rolou o halving do Bitcoin (o “ouro digital”), um evento que acontece a cada quatro anos e reduz pela metade a recompensa de mineração. Quanto à valorização, esqueça: subiu no boato e caiu no fato.
Sabe a ideia do Bozo de tirar uma soneca na embaixada? Se eu fosse ele, não iria mais não. O Equador ligou um f*d@-se para a diplomacia internacional e conduziu um ataque a um suspeito na embaixada mexicana — meteu o pé e invadiu sem avisar.
A ironia é que há alguns anos, o próprio Equador deu asilo político a Julian Assange, o fundador do famigerado WikiLeaks. Dois pesos, duas medidas. Se a moda pegar...
O iene atingiu seu nível mais baixo em 34 anos. Se tá ruim para os japoneses, imagina pra gente.
BitBolsa? Com inveja do Bitcoin que negocia 24x7, a NYSE, bolsa de Nova York, iniciou uma consulta com os participantes do mercado sobre a possibilidade de operar 24 horas por dia. Haja disposição... e dinheiro.
Parece que o aquecimento global não é conversa fiada, não. A tragédia que estamos assistindo no Rio Grande do Sul é um forte exemplo.
Basta lembrar que o ano de 2023 foi o mais quente da história. Só nos EUA, 28 desastres meteorológicos geraram perdas de mais de US$ 1 bilhão cada.
Acontece que, infelizmente, tem muito mais por vir.
Cerca de um décimo das residências globais está sob ameaça do aquecimento global. As mudanças climáticas podem “corroer” US$ 25 trilhões em valor de mercado desse que é o ativo de investimento mais importante do mundo.
A IA continua com tudo, mas é bom ficar de olho. Diante do crescimento exponencial, estão faltando dados relevantes na internet para expandir o “treinamento” das máquinas.
Diante disso, há relatos de que algumas corporações começaram a fabricar dados "sintéticos", isto é, estão empregando IA para gerar conteúdo que, por sua vez, servirá para treinar esses mesmos sistemas de IA. O que vem depois de pós-verdade?
Eu sei é que nesse boom da IA, a Microsoft, que é sócia da Open AI (dona do ChatGPT), já vale mais de US$ 3,2 trilhões (com T de terabyte), e é a empresa mais valioso do planeta.
E é isso!
Muito obrigado e até a próxima!
Administrative Analyst - Project Support at BYD Brasil
7 mShow!!! 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼