Como o Coronavírus pode colapsar a Saúde
19 De Março De 2020
Segundo o Relatório de Situação número 58, da Organização Mundial da Saúde (OMS) na última quarta-feira (18), o número global de infectados pelo novo coronavírus ultrapassou a marca de 190 mil.
A Ásia a China ainda lideram o número de casos, por serem o epicentro da epidemia, com mais de 80 mil infectados. A Coréia do Sul está em segundo lugar, com mais de 8 mil casos.
Na Europa, Itália e Espanha ainda seguem com as situações mais preocupantes: mais de 31 mil e 11 mil casos, respectivamente. Já os Estados Unidos somam mais de 3 mil casos.
No Brasil, no último dia 18, o número de infectados avançou consideravelmente: de 291 para 428. Ainda há 8.819 casos suspeitos e o estado de São Paulo confirmou a quinta morte por Covid-19.
Com o rápido avanço da doença, os sistemas de saúde do Brasil e do mundo são colocadas em cheque. A quantidade de leitos pode ser insuficiente, tanto para o tratamento dos novos infectados quanto para o tratamento de casos rotineiros.
Dados atuais: o coronavírus não se trata de uma gripe comum
O coronavírus possui uma taxa de mortalidade de 3,5%. Ou seja, a cada 100 infectados, 3 ou 4 tem chances de morrer.
Porém, essa é apenas uma média geral, sem distinção por faixas etárias. Há um consenso muito forte de que aqueles com mais de 60 anos e aqueles com condições pré-existentes são os mais impactados.
Dessa forma, a taxa de mortalidade varia por faixas etária. Entre 10 e 39 anos, é 0,2%. A partir dos 40 anos ela começa a subir: 0,4% entre 40 e 49 anos, 1,3%.
Entre 50 e 59 anos, 3,6% entre 60 e 69 anos, 8% entre 70 e 79 e quase 15% para os que tem mais de 80 anos. Esses são conhecidos como “grupo de risco.
A média também varia de acordo com os países e as medidas tomadas para conter o avanço do novo coronavírus. Na Coréia do Sul, por exemplo, apesar do número considerável de casos, 0,7% foram fatais.
Outro fator relevante são as medidas tomadas pelo governo para realização de exames e práticas preventivas. Mais de 100 mil testes foram feitos, além do número de testes por milhão de cidadãos ser superior a 2 mil.
Além disso, a expectativa de taxa máxima de mortalidade para a Covid-19 é de 4%. A mínima é de 0,5%.
A mesma taxa para gripe sazonal, por exemplo, é aproximadamente de 0,1%. Ou seja: o coronavírus não causa uma doença similar a gripe comum.
Além disso, também é consenso de que para maioria das pessoas a doença se manifesta de forma leve e até com ausência de sintomas. Estima-se que as infecções não documentadas de sintomas foram a fonte de infecção para 79% dos casos documentados.
A superlotação nos sistemas de saúde e o novo coronavírus: o caso da Itália
A mortalidade não é o cenário completo. A Itália, por exemplo, relata que 10% dos casos não precisam apenas de hospitalização, mas também de cuidados na UTI. Mais: os cuidados são necessários durante um período de três a seis semanas.
No território italiano, o avanço rápido da assusta quando comparado a outros países. A França, por exemplo, registrou o primeiro caso da doença antes do vizinho e tem pouco mais de 150 óbitos, já na Itália são mais de 2500 mortes.
Esses resultados podem estar ligados a falta de medidas mais radicais do governo italiano.
É possível ver, por meio das redes móveis de celular, que 40% dos moradores de Milão ainda se movem diariamente. Esse percentual é alto para o país que mais sofre pelo surto da nova doença na Europa.
Contudo, a falta de medidas mais rígidas relacionadas a circulação não é o único problema: o sistema de saúde na Itália está a beira de um colapso.
Na região da Lombardia, os hospitais estão praticamente em lotação máxima. Na cidade de Brescia, tendas foram erguidas por um hospital para atender pacientes que precisam ficar em observação.
Em Bérgamo, o hospital João XXIII tem 530 leitos que estão lotados e 80 são de terapia intensiva, onde a maioria está entubada. Até o necrotério da cidade está superlotado e vários corpos foram enviados para crematórios de outras cidades.
As consequências da superlotação do sistema de saúde italiano são brutais. A taxa de mortalidade da doença causada pela Covid-19 chegou, nesta segunda-feira (16/03) a 7,7%, enquanto na China a média é de 2,3%.
O grande número de idosos no país também tem forte influência. Isso acontece porque eles constituem o principal grupo de risco em relação a letalidade do vírus.
O novo coronavírus na Itália: 10% dos casos não precisam apenas de hospitalização, mas também de cuidados na UTI.
O que o Brasil pode aprender com os italianos?
As estimativas da Itália são de que, no início do surto, o número de infecções reais era quatro vezes o número de casos do que era possível confirmar na época.
Dessa forma, o número de casos reais no Brasil pode ser muito maior do que número de confirmados. Mesmo com a recomendação da OMS de realizar testes em massa, o país está priorizando os casos graves.
Segundo o Ministério da Saúde, a medida visa economizar testes para as pessoas com mais complicações. Contudo, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, afirmou que o governo estuda fazer a importação de kits para testes rápidos.
Assim, a coisa mais importante a se fazer é “achatar a curva da pandemia”. Caso contrário, os nossos sistemas de saúde não conseguirão lidar com o número de doentes. Na prática, isso significa reduzir a velocidade de contágio do vírus, distribuindo o número de casos ao longo do tempo.
Essa medida é fundamental para que o sistema de saúde brasileiro não entre em colapso como ocorreu na Itália. As consequências, portanto, seriam avassaladoras. No Brasil, a tendência não será diferente caso a epidemia ganhe força.