Como retornar ao trabalho depois do burnout?
Janeiro Branco encerrado, mas não é por isso vamos descuidar da saúde mental. Alguns recordam com nostalgia a época em que “o ano só começava depois do Carnaval”. Mas agora, o jogo é outro. Passados os primeiros dias do ano, muitos já estão imersos no ritmo de trabalho e produção, mantendo a intensidade de sempre.
A questão do burnout continua sendo um assunto frequente nas organizações, seja pela preocupação em buscar soluções, seja pelas consequências de negligenciar o tema. Repito o que muito tem sido dito e escrito: o burnout é um problema frequente, provoca sofrimento e grandes prejuízos para as pessoas e para as organizações. Uma das consequências é o afastamento do trabalho, que comumente é por tempo prolongado.
Mas depois do afastamento, diversos obstáculos podem dificultar o retorno ao trabalho. Sabemos que quanto mais longo é o afastamento do trabalho (por qualquer causa, não só pelo burnout), maiores são as dificuldades e menores as chances de sucesso para o retorno às atividades. Além disso, os fatores organizacionais que contribuíram para o sofrimento do trabalhador raramente se modificaram no período em que ele esteve fora, favorecendo um ciclo nocivo e até mesmo, perverso.
Empresas responsáveis devem buscar, antes de tudo, promover ambientes de trabalho saudáveis que possam evitar ou reduzir o risco de adoecimento. É verdade que existem fatores individuais, e este é mais um motivo para que as corporações cuidem da saúde e bem-estar dos seus empregados de forma muito próxima e humanizada.
Recomendados pelo LinkedIn
Quais intervenções poderiam ajudar no retorno ao trabalho de pessoas que sofreram burnout? Pesquisadores da Bélgica publicaram na Occupational and Environmental Medicine uma revisão sistemática em busca da resposta para essa pergunta. Oito estudos preencheram os critérios de inclusão da revisão, cujas variáveis eram o número de dias perdidos, o número de horas trabalhadas por semana e quanto tempo as pessoas permaneceram trabalhando sem novos afastamentos. No que se refere às intervenções, os autores encontraram cinco estudos que focavam na intervenção apenas no empregado (oferecendo apoio individual ou seguimento com especialistas), um estudo que atuava no local de trabalho (em questões organizacionais) e dois outros que usaram uma estratégia combinada, oferecendo apoio individual e agindo nas questões das relações de trabalho. Apenas o estudo com intervenção no ambiente de trabalho mostrou resultados consistentes para um retorno às atividades sustentado por 18 semanas.
Esses dados, embora limitados em razão do pequeno número de pesquisas, mostram a importância da atuação nos fatores da organização do trabalho na problemática do burnout, o que inclui o sucesso do retorno ao trabalho. As intervenções individuais têm um papel essencial e não devem ser desconectadas de outras ações de saúde e bem-estar em geral, mas mudanças na cultura e nas relações interpessoais precisam ficar constantemente no radar das organizações.
Artigo completo: Lambreghts C, Vandenbroeck S, Goorts K, Godderis L. Return-to-work interventions for sick-listed employees with burnout: a systematic review. Occup Environ Med. 2023 Sep;80(9):538-544. doi: 10.1136/oemed-2023-108867
Médico especialista em Medicina de Família e Comunidade e Medicina do Trabalho. Consultas 11991723418
11 mDos casos de Burnout que acompanhei e tratei (como médico da pessoa, com terapias e muitas vezes medicamentos), os que tive bom desfecho foram os que houve mudança na organização do trabalho mesmo. Sem essa mudança, os sintomas rescidivaram rapidamente no retorno.