Como ser emocionalmente ágil?

Ser ágil não significa ser flash.  Nem rapidinho. Não é sobre entregar a mesma coisa, num menor prazo. Vai muito além disso...

Ser ágil tem mais a ver com se movimentar com facilidade e destreza, conseguir se adaptar, mudar a direção. Tem mais a ver com flexibilidade do que com velocidade.

É muito comum a gente confundir “ser ágil” com “ser rápido”.

Ser rápido e sair correndo tem a ver com “se jogar” da janela no meio do incêndio. Ragir no piloto automático, de qualquer jeito, no impulso, sem pensar....

Nos meus atendimentos de coaching tenho ouvido cada vez mais um: “preciso ser mais ágil” . 

É uma necessidade para gestão dos negócios e carreiras. Desenvolver culturas e mentalidades ágeis tornou-se um grande desafio - para conseguir inovar, se diferenciar ou até mesmo sobreviver no mercado.

Uma empresa ágil, um líder ágil, um RH ágil, um time ágil... não é ser rápido, é ser adaptativo!

Porém, hoje quero te convidar a mergulhar um pouco mais profundo nesse tema, refletindo sobre: “Como ser emocionalmente ágil?”

Susan David, psicóloga, professora de Harvard e autora de “Agilidade Emocional” começa assim o seu livro:

“...Enquanto navegamos pela vida, nós humanos, temos poucas maneiras de saber que rumo tomar ou o que vem pela frente. Não temos faróis....Não temos vigias na proa ou radares na torre atentos a possíveis ameaças submersas....

Em vez disso, temos nossas emoções – sensações como medo, ansiedade, alegria, euforia – que nos ajudam a navegar pelas complexas correntes da vida....”

Inspirada por essa provocação, instigo você a refletir comigo sobre: “Como seria se conseguíssemos usar as nossas emoções como faróis?” Principalmente quando estávamos navegando em mares incertos e turbulentos...

Trabalhando fortemente no último ano com gestão do stress e saúde mental, tenho ouvido diariamente de RHs, líderes e times, o quanto temos dificuldade de mostrar nossa vulnerabilidade e de lidar com as emoções que nos geram desconforto.

É como se a gente quisesse engarrafar as nossas emoções e fazer de conta que está tudo bem. Que somos “super heróis e heroínas”.

Tendemos a “deixar pra lá”. Fingimos que nada aconteceu. Somos rápidos em ignorar nossas emoções. Mas não somos ágeis em lidar com elas....

Escondemos para parecer mais fortes. Grande ilusão!

Muitas vezes, enfrentamos os nossos medos (de errar, de não ser bom o suficiente, de não ser aceito, de não ser reconhecido, de perder o controle, de naufragar etc) entrando em lutas infinitas e sem resultado!

O que ninguém nos contou é que, quanto mais a gente coloca nossas emoções “embaixo do tapete”, mais elas se fortalecem.  Quanto mais brigamos com nossos medos, mas eles brigam com a gente....

É como se as emoções desagradáveis fossem nutridas pela nossa “luta”....e como num efeito “bola de neve” elas vão só crescendo...

A gente esconde emoções e elas voltam - mais fortes.

Vou um pouquinho além. Para nos ajudar a “esconder as emoções que não gostamos” criou-se  quase que uma “tirania da positividade”, que diz que “temos que pensar positivo o tempo todo”. Um tipo de otimismo exagerado e irreal.

Sim! Otimismo é ótimo, é inclusive uma das áreas da resiliência, porém para ser saudável, precisa ser realista. É acreditar, com consciência dos riscos, tendo sempre mais do que uma alternativa.

É preciso paralisar essa nossa “luta interna”. Temos que parar de brigar com as nossas emoções. Quanto mais “engolimos” e pensamos positivo para fugir dessa sensação desconfortável, mais o nosso termômetro do stress vai subindo.... podendo até chegar a “febre do esgotamento”.

Porém, podemos agir preventivamente!

Temos várias ferramentas e caminhos. Um deles é aprendermos a ser ágeis emocionalmente. Mas como? Voltamos aqui ao título desse artigo...vamos então à solução!

Agilidade emocional tem a ver com ESCOLHAS CONSCIENTES E FLEXÍVEIS e para desenvolvê-la, Susan David nos ensina 4 movimentos.

Compartilho, com as minhas adaptações e contribuições, esses passos, que juntos, formam o SISTEMA NASA:

§ 1: NOMEAR: nomeie o que você está sentindo, reconheça o que te incomoda.

Encare, olhe de frente as suas emoções, medos e pensamentos desagradáveis com coragem e compaixão. Te convido aqui a começar a notá-los e anotá-los. Quem sabe indo até um passo além - já começando a identificar os seus padrões que mais se repetem diariamente. Sem julgamento, o primeiro passo é você reconhecer que eles existem. Pare de fugir deles! Coloque “luz”!

 § 2: ACEITAR: não lute contra eles, não finja que eles não existem.

Aceite que está tudo bem, às vezes não estar bem. Que é normal sentir stress, medo, raiva, tristeza....Acolha-os com coragem e compaixão e lembre-se que eles querem só  te proteger e mostram muito sobre você!

§ 3. SAIR: desapegue deles e os observe de forma imparcial.

Agora, de forma consciente, “sair” dessa emoção e pensamento. Te convido a olhar para cada um deles apenas como uma “peça” do seu tabuleiro de xadrex, repleto de possibilidades de movimentos. Você é mais do que essa emoção que está sentindo. Exercite aqui aquele famoso “olhar de helicóptero”, de cima, de fora da situação e da emoção. Esse é um treino desafiador, que com a repetição vai ficando mais fácil...

§ 4: AGIR: responda ao outro, à situação, de forma coerente com os seus valores.

Tendo identificado sua emoção e pensamento, aceitado e conseguido observar de fora, você será capaz de escolher a sua melhor resposta, saindo do modo “piloto automático”.

É essencial que você tenha clareza de quais são os valores prioritários nesse momento da sua vida para poder fazer essa escolha de forma consciente. Do que você não abre mão? Essa resposta que você deu ou dará vai contra ou favor dos seus valores?

Aí sim, com essa expansão de consciência, siga em frente, com autorresponsabilidade, com agilidade, com flexibilidade!

Espero que essas dicas e passos do Sistema NASA possam te gerar novas reflexões e insights para que você desenvolva a sua AGILIDADE EMOCIONAL.

Gestão do Stress é aprender a navegar com mais leveza e consciência, levando nossas emoções e medos à bordo, sabendo o momento de pausar, se observar, adaptar, sair de cena!  Isso é ser ágil emocionalmente!

Ah, e quanto a NASA, a agência espacial, será que é somente uma “mera coincidência” esse acrônimo?

Talvez sim.... mas, pensando bem.... assim como a NASA vêm expandindo fronteiras, que tal também expandir seus horizontes, observando mais sobre o seu mundo interior?

Por Ellen Ravaglio, psicóloga, coach e co-criadora do Programa Gestão do Stress da VIKAAS Liderança & Gestão.