Como a sociedade e os recursos privados estão contribuindo com as necessidades emergenciais?
Todos queremos democracia, educação de qualidade e um bom serviço de saúde pública para dar conta das demandas sociais brasileiras, sendo elas emergenciais ou permanentes.Doações significativas de recursos privados para amenizar a disseminação da COVID19 e evitar o colapso dos serviços públicos de saúde estão sendo realizados com agilidade. Esta é uma crise sanitária global com efeitos drásticos na saúde e com efeitos colaterais na economia e na educação, reforçando ainda mais os desafios das desigualdades sociais.
Diversas doações e ações de captação coletiva estão sendo realizadas no Brasil. Elas têm o objetivo de apoiar os investimentos em instalações e equipamentos hospitalares imprescindíveis para suprir a demanda de pico que estamos tendo principalmente em centros urbanos. Corporações tem como sua principal responsabilidade social garantir compromissos com Stakeholders. Mas muitas grandes empresas, algumas de controle familiar como Ambev, Gerdau, Magazine Luiza, Suzano, Votorantim, Zaffari foram além e rapidamente realizaram doações em valores superiores a R$10 milhões especificamente em função do novo Coronavírus. Conforme dados divulgados pelo Monitor das Doações COVID-19, consolidado pela ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos), o montante total doado até o momento é de aproximadamente de R$ 4 bilhões. Estes montantes atualizados diariamente no site, são fortemente liderados pelos bancos. Holdings, familias e indivíduos somadas representam 5%. O Itaú Unibanco surpreendeu com um investimento complementar de R$ 1 bilhão (3,6% do lucro líquido) voltado principalmente para as demandas emergenciais do SUS (Sistema Único de Saúde) e campanhas de conscientização da população. Ainda assim, vale a pena salientar que todas estas organizações mantêm suas doações regulares de Investimento Social em suas comunidades vizinhas através de seus Institutos e Fundações. Outras empresas contribuíram não só com recursos financeiros, mas cedendo maquinário para confecção de uniformes e máscaras, produção de álcool gel e reparo de respiradores. Doações de produtos de limpeza, alimentação e EPIs também fizeram parte da responsabilidade social emergencial de muitas empresas, sendo muitas delas familiares.
Iniciativas que congregam também doações relevantes de famílias empresárias e pessoas físicas foram estruturadas por organizações consagradas do terceiro setor. O Fundo Emergencial para a Saúde instituído pelo IDIS, Movimento Bem Maior e BSocial com apoio de GIFE, Synergos e tantos outros, assim como Comunitas foram muito ágeis para mobilizar recursos financeiros e investir em leitos de UTIs, aquisição de respiradores e equipamentos necessários para fortalecer os serviços públicos em hospitais filantropicos e evitar o colapso conforme experiência de diversos países. Outras iniciativas como Enfrente, que oferece o mecanismo de matching oferecido pelas Fundaçoes Familiares Tide Setubal, Arimax e Humanize (e outros) ou Movimento Família Apoia Família, foram também estruturados via crowdfunding especificamente para apoiar as demandas emergenciais de saúde. Crowdfunding feito via plataformas como Benfeitoria, Vakinha e Catarse atendem um número enorme de iniciativas diversas relacionadas a situaçāo de vulnerabilidade social pulverizadas em todo território nacional.
Cidadãos e OSCs (Organizações da Sociedade Civil) estão se articulando voluntariamente para doar alimentos e produtos de higiene para quem mais precisa. Algumas iniciativas mais ligadas as comunidades de periferia, com a situação da crise tiveram que inovar. Por exemplo, o “Corona no Paredão” do Gerando Falcões, desenvolveu cartões digitais para distribuir para famílias de baixa renda e assim receber cestas doadas (40.000 famílias até agora) sem causar problemas de contaminação e logísticos e ainda oportunizarem compras no comércio local. Estamos todos mobilizados, por estarmos também nos sentindo mais vulneráveis e com uma insegurança generalizada. Passamos a pensar mais nas fragilidades de todos e estamos mais empáticos. Este processo, nos leva para um novo nível de consciência onde aprenderemos a agradecer mais o que temos e passaremos a repensar nossa forma de agir, de viver e de nos relacionar.
E qual o papel do Investimento Social Privado Familiar? Que diferença estes investimentos podem fazer nos desafios sociais que temos? Acredito que temos muito a aprender com o mindset dos Millennials:
- busca de soluções inovadoras para lidar com os desafios sociais
- soluções integradas para buscar a redução das desigualdades de oportunidades
- novas formas de mobilização digital
- monitoramento e avaliação dos projetos e dos investimentos sociais
-atuar com propósito
Cabe também destacar os crescentes recursos destinados para os Investimentos de Impacto. Startups sociais na área da saúde e da educação tem tido enorme prontidão para ajustar seus produtos e serviços para atender as demandas advindas da pandemia e do isolamento social. Muitos outros pequenos negócios de impacto social serão imprescindíveis neste momento para garantir a movimentação da economia nas periferias. Será que estes negócios de Impacto com causas sociais podem atender a estas necessidades e ainda virem a ser negócios rentáveis?Alocar conhecimento para que empreendedores de comunidades mais vulneráveis construam soluções de mercado que melhorem seu contexto pode ser um novo caminho. O estimulo2020 e o Elos de Impacto são exemplos de iniciativas recém lançadas para este ecossistema.
Sabemos que além de todos os esforços e recursos para dar conta das necessidades imediatas, precisamos de um sistema onde OSCs confiáveis e bem estruturadas, desempenhando seu papel em parceria com governos e sociedade civil, para fortalecimento da democracia. Recursos privados são irrelevantes dentro de tantas demandas, mas estes podem fomentar novos caminhos mais digitais e sustentáveis. O volume de recursos mobilizados em torno dos desafios emergenciais da COVID-19 nos mostra que podemos incrementar os investimentos sociais, melhorar as políticas públicas e fortalecer a sociedade civil organizada. Esta precisa de financiamento privado continuado para exercer o seu papel. Esta crise mobilizou recursos privados para a melhoria dos serviços de saúde pública mas tende a deixar sequelas na economia e na educação nos levando para maiores desigualdades sociais. As decisões de cada governo e a forma como as empresas e os cidadãos vão lidar com os desafios serão decisivos para nossos rumos. Os duros aprendizados desta crise, quem sabe, nos direcionam para uma sociedade mais humana e com mais igualdade de oportunidades.
Conselheiro de Administração Certificado (CCA+ibgc)
4 aGostei muito! Parabéns!
Diretor do Hub América Latina e Caribe do GivingTuesday, doutorando estudando filantropia, professor na FECAP, pai, voluntário e mais.
4 aMuito bom!!
Assistente Financeiro | Administrativo | Cultura | Learnability
4 aArtigo rico em informações, trazendo as vistas as inúmeras ações que se originaram nesta pandemia.