Como somar motivação intrínseca e extrínseca?

Existem vários estudos que estão comprovando cada vez mais que, quando você trabalha com autonomia em alguma coisa na qual você vê significado e propósito, você trabalha melhor – isso é a motivação intrínseca. Tem gente que acha que ela é totalmente suficiente e diz coisas como: “ah, só existe motivação intrínseca”, mas não. Existe também a motivação extrínseca, que é aquela motivação externa; é obter uma recompensa pela realização de determinadas atividades. Ela também tem a sua importância, então você precisa misturar as duas coisas. A palavra motivação é bem sugestiva e dá a entender que seu significado seja criar “motivos para ação”. Motivação, seja interna ou externa, é quando você cria elementos na sua cabeça para você querer fazer algo. Quem não tem motivação fica de braços cruzados e não faz nada, ou só vai fazer quando o chefe mandar, que no caso seria uma motivação extrínseca. A mais forte seria a motivação intrínseca porque você toma as próprias decisões para alcançar os resultados, conforme o livro Motivação 3.0 do Daniel Pink.

A gente fala muito hoje em dia no mercado sobre liberdade com responsabilidade, que é a autonomia, por exemplo, para escolher em que você vai trabalhar na sua empresa, qual vai ser o projeto que você vai liderar etc. Se você é empreendedor, você escolhe os clientes que você quer e isso muda o jogo. Atualmente no meu “modo empreendedor” eu escolho os clientes com quem vamos conversar, prospectar e apresentar o nosso trabalho como Advisor ou editora Brasport. Quando eu trabalhava para outras empresas, nem sempre eu tinha a autonomia que eu tenho na minha empresa. Hoje eu escolho os profissionais de acordo com os projetos e de acordo com a sua força. E é lógico que também vem a responsabilidade de que o risco é maior quando você tem a sua própria empresa.

Maestria é o segundo elemento da motivação intrínseca. O que é isso? É quando você se se dedica mais fortemente e o trabalho sai muito melhor. É você querer se tornar mestre naquela atividade.

E é claro que também tem o propósito, que é quando você enxerga um significado por trás do que você faz. Hoje o significado que eu vejo é ajudar pessoas a destravar o seu potencial. O meu propósito verdadeiro é ajudar pessoas a conquistar sonhos, seja na minha empresa ou nas mentorias. E isso me motiva demais, eu poderia dar aulas de graça, mas eu tenho contas para pagar, e aí entra a motivação extrínseca. É lógico que você também quer ser reconhecido financeiramente, ser bem remunerado, se dedicar e cair de cabeça em alguma atividade, mas também receber um bom retorno pelo seu trabalho bem-feito. A recompensa é uma boa motivação, mas não deve ser a principal. Quem trabalha somente por dinheiro não é feliz, e eu já falei sobre isso nos capítulos anteriores.

E é claro que também existe a motivação extrínseca da punição, por medo de alguma situação desagradável. Por exemplo: “se você não fizer tal coisa, vai ser multado”; “se não pagar o imposto de renda, vai ser multado”; “se eu avançar o sinal, vou ser multado” etc. Isso também é uma motivação extrínseca que vem de fora para dentro. Se ninguém precisasse parar o carro no semáforo, poucas pessoas iriam parar no sinal vermelho. Cá entre nós, tem hora que é um saco parar no sinal vermelho, mas é necessário porque, além de terem pessoas atravessando a rua, existem outros carros que estão indo e vindo, então para evitar acidentes é importante seguir a sua motivação extrínseca de não violar o sinal vermelho – afinal, além do risco existe a multa como punição. As pessoas que bebem e vão dirigir também têm uma multa pesadíssima e podem acabar indo presas (e deveriam ficar um bom tempo lá porque nesse caso é uma grande irresponsabilidade).

Fui parado pela Lei Seca uma vez no Rio de Janeiro, coisa que nunca tinha acontecido antes. A Lei Seca é uma operação que a polícia faz na rua à noite com o intuito de saber se você está ou não embriagado. Nunca aconteceu comigo, mas enquanto eu estava voltando do shopping com a minha família, se eu tivesse bebido, eu poderia ter sido preso como punição. O guarda ainda disse que eu poderia fazer o teste ou não, mas caso eu recusasse eu teria a minha carteira detida e teria de pagar uma multa. Muita gente é movida pela motivação extrínseca e acaba fazendo um monte de besteira, e por isso é preciso que exista a força da lei para punir, ou o chefe tem que cobrar o resultado, pois senão a pessoa não entrega. A grande sacada aqui é perceber que as empresas querem cada vez mais pessoas que se automotivem.

Quando você se automotiva, você faz as coisas porque você quer e não porque alguém está mandando. Isso é motivação intrínseca. As pesquisas que aparecem no livro “Motivação 3.0” (PINK, 2019a) mostram o seguinte: nós podemos ser motivados por dinheiro para fazer tarefas simples. Para tarefas simples e mais rotineiras, se você der mais dinheiro, a pessoa trabalha com hora extra. Se a atividade for mais complexa, as pessoas precisam ter uma motivação mais intrínseca. Por quê? Porque cada vez mais as atividades simples e rotineiras estão sendo designadas para os robôs fazerem. Um exemplo disso são os caixas de banco que quase não existem mais nas agências bancárias. Eu estive no banco há pouco tempo e enquanto eu conversava com a gerente geral, ela disse que não haverá mais caixa futuramente, pois as pessoas estão conseguindo resolver seus problemas em casa. Antigamente os bancos pagavam para um profissional comumente conhecido como “caixa” para ele transferir o dinheiro e resolver essas coisas para você, mas hoje em dia não tem mais essa necessidade, pois a maioria das atividades é resolvida pelo celular.

Eu costumo falar nas minhas palestras, lives e também nas reuniões com times que as pessoas precisam ter mais motivação intrínseca. Os robôs e a automação estão cada vez mais tomando conta das atividades simples, repetitivas e rotineiras, e não é certo enxergar como se os robôs estivessem roubando o emprego das pessoas, mas sim como se nós estivéssemos roubando o trabalho dos robôs.

Conforme destaquei nos primeiros capítulos sobre IA, as empresas estão substituindo várias atividades pelo robô, que faz com mais eficiência, não tem hora extra, não tem férias, décimo terceiro, não reclama e quase não erra. Então, atividades complexas se resolvem com motivação intrínseca.

Em outras palavras, as atividades repetitivas costumam ser feitas pela motivação extrínseca; se você faz a mesma coisa a todo momento, uma hora você pode cansar. Então é importante você participar também de iniciativas que o remunerem de maneira justa, porque o senso de injustiça tira toda a sua motivação. Se você está fazendo uma coisa que você adora e está entregando muito valor, você deve ser reconhecido por isso.

Se você trabalha em uma empresa fazendo o seu melhor, gerando ótimos resultados e não tem um salário digno ou um reconhecimento, eu sugiro que repense a sua carreira. Porque você pode acabar fazendo as coisas pela metade, e isso não é bom para você. A sua reputação pode estar em jogo.

Salário não deveria ser a principal fonte da sua motivação.

Quando eu tinha 14 anos eu trabalhava em uma lanchonete para ajudar em casa, mas ao longo da minha carreira eu fui vendo onde eu poderia desempenhar melhor meu papel e ser feliz. Eu descobri tudo isso após alguns anos, mas é uma jornada. Então não se cobre para encontrar todas as respostas em um estalar de dedos do Thanos. É um passo a passo, mas tenha na sua cabeça que a remuneração e o reconhecimento são consequências de um trabalho bem-feito. Pense nisso.

Falando sobre escolher as coisas que são melhores para você, quero alertar para o seguinte: cuidado com o tema que entrou na moda no final de 2022 no mundo todo, que é a “demissão silenciosa” (quiet quitting). O que é isso? É um movimento que fala o seguinte: “você vai para a empresa fazer o mínimo necessário e vai falar para o seu chefe que você não quer promoção e vai fazer só o arroz com feijão”. Quem geralmente faz isso é aquela pessoa que não faz as coisas utilizando sua motivação intrínseca, e sim somente pelo dinheiro. Não faça isso. Por quê? Porque você vai marcar o seu nome como alguém que só entrega o mínimo possível e só faz o arroz com feijão, às vezes até malfeito. Depois da pandemia, muita gente pediu demissão. Esse evento até ficou conhecido como “a grande renúncia”. Muita gente, inclusive no Brasil, pediu demissão porque viu que a vida é finita e pode acabar bem rápido. Olha que trágico: precisou de uma pandemia para as pessoas enxergarem o valor da vida.

Depois desse evento, as pessoas começaram gradualmente a voltar a trabalhar porque ainda têm contas a pagar, mas muitas delas criaram o movimento “demissão silenciosa”. Não faça isso, pois nós não nascemos para fazer o básico e o mais ou menos.

Nós nascemos para fazer coisas grandes.

Mas precisamos descobrir o nosso potencial e onde nós nos damos bem. Onde você sente orgulho, entende? Você precisa ir além e fazer mais do que se espera de você, porque isso é brilhar.

Até a próxima edição!