A comoditização da saúde mental
Tenho acompanhado com algum ceticismo e certa preocupação (confesso) a proliferação de inúmeras plataformas voltadas ao cuidado e à promoção de saúde mental.
Talvez possa causar estranheza a você, leitor, essa minha preocupação. Afinal, para alguém que advoga em favor da saúde mental, essa proliferação em tese seria uma boa notícia, não? Será mesmo?
Infelizmente, as reclamações de clientes e profissionais atuantes na área saúde mental que em algum momento fizeram uso de algumas dessas plataformas são públicas e a cada dia avolumam-se mais. Basta consultar sites de proteção ao consumidor e se alarmar com os relatos de instabilidades nos acessos a algumas plataformas, cobranças indevidas, erros e atrasos nos repasses dos honorários aos profissionais. E o que era para ser uma fonte de cuidado, torna-se mais uma fonte de estresse.
Estamos vivendo na área da saúde mental um movimento crescente de comoditização dos serviços. Precisamos, sim, democratizar o acesso ao cuidado em saúde mental, que infelizmente ainda é um privilégio para poucos. Mas isso só se faz com ética e respeito por aqueles que prestam e contratam serviços de saúde mental.
Evidentemente as propostas de valor das plataformas diferem entre si e seria leviano generalizar. Cabe a cada leitor tirar as suas próprias conclusões a partir da sua experiência pessoal. Ao mesmo tempo, alegra-me saber que também existem pessoas que estão sendo beneficiadas.
O objetivo deste post não é condenar as plataformas como modelo de negócio, mas sim alertar consumidores e profissionais sobre algumas práticas, no mínimo, questionáveis. E quem sabe, com alguma esperança, sensibilizar esse mercado que se dedica a cuidar daquilo que temos de mais delicado: as nossas vulnerabilidades.