A competitividade brasileira em estado de alerta

artigo escrito por Carlos Arruda, Ana Burcharth e Arthur Ramos

Enquanto o foco da nossa atenção está concentrado nas denúncias de corrupção e nos acordos bilionários de empresários com o ministério público, o Brasil fica à deriva e perde capacidade competitiva e relevância global. É o que indica a edição 2017 do Anuário Mundial de Competitividade (World Competitiveness Yearbook) publicado pela escola de negócios suíça IMD e que tem como parceiro no Brasil o Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral. Ocupando a 61ª colocação dentre as 63 nações avaliadas, o país perdeu quatro posições em relação ao ano passado e 23 posições desde 2010 – ano em que o Brasil alcançou sua melhor posição (38º lugar).

Desde então, as crises sucessivas e a falta de atenção às necessidades de reformas nos sistemas regulatórios, tributários e trabalhista, a baixa eficiência do setor público na gestão das contas nacionais e a falta de uma agenda e políticas capazes de solucionar os problemas do passado e preparar o país futuro têm resultado em um país com baixa inserção internacional, baixa produtividade e piora nas condições de vida da sua sociedade.

O Brasil do presente é menos competitivo que o Brasil do passado. O resultado apresentado pelo relatório deste ano consolida uma tendência brasileira gradativa de perda de espaço no cenário competitivo internacional, figurando como um dos países menos competitivos do mundo, ao lado de Ucrânia (60ª), Mongólia (62ª) e Venezuela (63ª).

Baseado em uma metodologia que combina dados estatísticos nacionais com opinião de executivos que trabalham no país, o World Competitiveness Yearbook 2017 se baseia em dados do Brasil de 2017 (como PIB, taxa de emprego e desemprego, inflação, taxa de juros, percentual do PIB investido em educação, déficit público, dentre outros) e entrevistas realizadas com centenas de executivos no Brasil no período de janeiro a abril de 2017.

Esta combinação de dados estatísticos com opiniões qualificadas permite ao relatório capturar não apenas a realidade passada dos países, mas também as expectativas e percepções do presente. No relatório de 2017 se manteve um equilíbrio de dois terços de dados estatísticos e um terço de resultados da pesquisa de opinião. Ao todo, são analisadas 365 variáveis que, quando agrupadas, formam 20 subfatores e 4 fatores de competitividade.

Estes fatores são: desempenho econômico, eficiência de governo, eficiência empresarial e infraestrutura. Exemplos de subfatores nos diferentes fatores são: economia doméstica, finanças públicas, produtividade e educação. A comparação das variáveis, subfatores e fatores entre os diferentes países permite a criação de um índice que é a base para a formação do ranking final. Assim sendo, temos um índice agregado de competitividade e também rankings para cada variável analisada, com os subfatores e fatores.

Em 2017, o Brasil obteve 55.829 pontos no índice agregado de competitividade, o que representa um avanço de 4.153 pontos em relação a 2016. O aumento, entretanto, foi insuficiente para gerar avanços no ranking geral uma vez que outros países com índices próximos de competitividade avançaram mais do que o Brasil. Relatórios como este nos permitem avaliar não apenas os avanços, ou retrocessos absolutos de cada país, mas também os avanços ou retrocessos relativos. Há um ditado que prega que o importante não é nadar mais rápido do que o tubarão, e sim nadar mais rápido do que os outros nadadores. E, neste caso o Brasil, está ficando para trás.

Em comparação a 2010, o Brasil apresentou uma perda de aproximadamente 10% em seu índice agregado de competitividade. A queda de quatro posições do Brasil se deu principalmente devido a perda de competitividade causada pela recessão e pelo desemprego. O fator desempenho econômico que vem apresentando pioras gradativas desde 2011 chegou, em 2017, à 59a posição. O subfator emprego teve no ano uma queda de 23 posições devido ao aumento do desemprego – que foi do 27o para o 50o lugar – com 12,43% da população economicamente ativa sem trabalho e pior ainda, sem perspectiva de conseguir emprego nos próximos meses. Ainda assim, o Brasil ainda mantém um bom índice de empregados e figura em quinto lugar devido ao tamanho do mercado de trabalho em termos absolutos.

Há anos o país tem ocupado as piores posições em praticamente todas as variáveis e subfatores relacionados com o fator eficiência de governo. Desde 2009, este fator vem apresentando pioras constantes, chegando na última posição em 2016. Neste ano, o Brasil aparece apenas à frente da Venezuela neste fator. Apesar deste quadro lamentável neste fator, em 2017 os dados obtidos junto à comunidade empresarial indicam uma percepção positiva – e, talvez, otimista – em relação à atuação do governo na macroeconomia com controle da inflação, redução da taxa de juros de longo prazo (SELIC), controle dos gastos públicos e atuação do Banco Central. Essa avaliação resultou em um ganho de 16 posições em alguns indicadores de eficiência do setor público.

No grupo de indicadores que avalia o desempenho das empresas do país, o indicador crítico é a produtividade. Medida por uma combinação de indicadores estatísticos (PIB ajustado dividido por hora trabalhada, por exemplo) e indicadores de opinião (percepção da produtividade das cadeias em que a empresa opera em relação aos seus competidores internacionais) nos indicadores agregados de competitividade o Brasil se mantém na lamentável 60º posição.

A perda da produtividade foi, talvez, um dos principais indicadores da perda de competitividade brasileira desde 2010. Neste ano o crescimento do emprego atingido situação de quase pleno emprego em algumas categorias profissionais não foi acompanhada de crescimento significativo da produção e da riqueza do país medida pelo PIB.

 Neste mesmo período, em que o Brasil se beneficiava com o alto valor das commodities exportadas, os indicadores de produtividade e seus correlatos como qualidade da mão de obra, investimentos em inovação e participação das empresas brasileiras em cadeias produtivas globais apresentavam sinais negativos. Os ganhos de competitividade e riqueza gerados na primeira década do século XXI não foram convertidos em ganhos de competitividade e preparação para o futuro do país.

O último fator analisado, infraestrutura, é um reflexo de todos os demais. Sem investimentos em infraestrutura básica, em infraestrutura cientifica e tecnológica e em saúde e educação. O país perde cinco posições ocupando agora a 51a, no terço final do ranking. O alerta neste fator tem sido dado há alguns anos quando analisamos os indicadores associados à qualidade da educação e da mão de obra. A combinação de dados estatísticos (por exemplo, o teste PISA) e a opinião da comunidade empresarial coloca o Brasil na 55ª posição, favorecido apenas pelos indicadores de volume de recursos investidos em educação como, por exemplo, o indicador do percentual do PIB alocado em educação (6,6% , na 8ª posição).

O World Competitiveness Yearbook 2017 deixa um alerta: O Brasil precisa de cuidados. Em um contexto político abalado e extremamente incerto, é um desafio mobilizar pessoas e recursos em prol de um projeto de nação. Sob um olhar crítico, temos uma carga de entraves históricos aliada a uma nova carga política e institucional cujo resultado ameaça encaminhar a competitividade e a economia brasileira para uma década perdida. Enquanto isto o mundo gira e os avanços tecnológicos, econômicos e competitivos de outros países ameaçam nos deixar para trás.



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