Comunicação Dialógica e Produtividade
Uma boa comunicação interpessoal é fundamental no ambiente laboral e a sua ineficiência pode gerar controvérsias e mal-entendidos que impactam negativamente na produtividade das organizações. Embora existam pessoas que podem ser identificadas com uma maior predisposição para gerar conflitos, a maioria procura colaborar e resolver as situações de forma produtiva.
No entanto, quando ocorrem eventos indesejáveis, geralmente devem-se à falta de habilidades de comunicação efectivas. Por esta razão, o treino em técnicas de comunicação dialógica tem-se revelado decisivo para evitar a conflitualidade involuntária e para a resolução eficaz de controvérsias, melhorando assim a produtividade laboral.
Dialética e Dialógica (diferentes técnicas e finalidades)
Mais adequada para um contexto de debate, na dialética as partes procuram persuadir-se mutuamente da validez de um ponto de vista específico. O objetivo é trocar ideias, avaliar diferentes perspectivas e selecionar a melhor. Normalmente, os participantes tornam-se defensivos e reativos, o que pode resultar num modo de comunicação frequentemente associado à persuasão manipuladora.
Por outro lado, a comunicação dialógica, que também pode ter como finalidade a persuasão ética, procura informar e entender em vez de convencer. É uma conversa em que os participantes procuram compreender e respeitar a perspectiva uns dos outros, promovendo a colaboração e cooperação. O objetivo é encontrar o caminho para chegar a uma solução criativa que atenda às necessidades de ambas as partes, focando-se num processo de escuta, perguntas e paráfrases pertinentes para aprofundar a compreensão mútua, mantendo a relação de equilíbrio entre as partes.
Por não termos sido educados nela regularmente, a comunicação dialógica não é tão comum nas nossas vidas diárias como a comunicação dialética. Portanto, requer um processo de aprendizagem inicial semelhante ao que seria necessário se tivéssemos que começar a dirigir pela esquerda em países com essa regra. No entanto, ninguém pensaria em desaprender a conduzir pela direita, porque é algo que será sempre útil e necessário.
O treino
Embora algumas organizações possam ser relutantes em oferecer programas de formação longos, devido à possível ausência temporária dos colaboradores nos seus postos de trabalho e à dificuldade de medir o retorno do investimento em certos tipos de formação, é importante destacar que mesmo o treino introdutório em técnicas de comunicação dialógica pode produzir resultados rapidamente visíveis e benéficos. Para esse fim, deve privilegiar-se a aplicação e o treino das habilidades, acompanhando-as apenas da transmissão de conhecimentos teóricos essenciais. Assim como a aprendizagem empírica básica de tocar um instrumento pode proporcionar experiências emocionais positivas que incentivam a mudança de comportamento e atitude em relação à música, os primeiros passos na prática da comunicação dialógica proporcionam experiências que abrem novas perspectivas sobre a comunicação interpessoal.
No decurso de um treino introdutório básico, as pessoas já podem identificar os diferentes padrões de comunicação e compreender como estes podem afetar a forma de comunicar com os outros. Só o facto de aprender a fazer perguntas de forma efectiva e parafrasear de forma adequada, solicitando a confirmação do ponto de vista do interlocutor, cria uma experiência que evidencia os efeitos positivos de um diálogo mais fluido e empático.
A formação inicial centra-se em demonstrar que a comunicação interpessoal não requer apenas a transmissão de informação, mas também o estabelecimento de um diálogo durante o qual deve ser prestada a máxima atenção ao interlocutor. Este foco na atenção às palavras do outro para compreender a sua perspectiva melhora a qualidade do diálogo, contribuindo para a sintonia e bem-estar emocional das pessoas envolvidas.
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Diferentemente de uma conversa com uma base dialética mais comum, a metodologia de Diálogo entre Cérebros apresenta-se como uma oportunidade para aprender a construir e percorrer, de forma estruturada, um caminho que possa levar à descoberta conjunta de soluções e acordos mutuamente benéficos.
Do treino à espontaneidade
A opção de desenvolver mais ou menos as suas habilidades para alcançar outros níveis de aquisição de competências é, obviamente, individual. No entanto, a primeira abertura de novas perspectivas é inevitável e a tendência natural é explorar possibilidades e descobrir novos horizontes. O primeiro passo em qualquer caminho é o mais importante e a abertura a novas habilidades e competências é geralmente o início de uma jornada enriquecedora de crescimento pessoal.
Se a primeira combinação bem-sucedida de notas e acordes surpreende positivamente ao criar uma sonoridade que motiva o aprendiz, a articulação das primeiras técnicas de comunicação dialógica também produz uma experiência emocional positiva, ao revelar como é possível desenvolver as nossas habilidades comunicativas para criar um diálogo mais fluido e harmonioso com os outros. Invariavelmente, se o treino é bem conduzido num ambiente predominantemente prático, desperta o desejo natural de continuar a desenvolver e aperfeiçoar essas habilidades vitais para o bem-estar individual e coletivo.
O objetivo ideal seria que todos chegássemos a um nível de prática que nos permitisse mudar espontaneamente o nosso modo de comunicação, adaptando-nos tanto quanto possível às situações e contextos que se nos apresentam. No entanto, não podemos perder de vista a frase atribuída a Oscar Wilde: "A espontaneidade é uma arte meticulosamente elaborada".
Referências:
Yue, C. A., & Thelen, P. D. (2023). Words matter: The impact of workplace verbal aggressiveness on workgroup relationship conflict, work-life conflict, and employee-organization relationships. Public Relations Review, 49(1), 102292.
Andreu Perez, L., Kim, N., Martino, V., & Lee, S. (2022). Constructive Roles of Organizational Two-Way Symmetrical Communication: Workplace Pseudo-Information Gatekeeping. American Behavioral Scientist, 00027642221118294.
Wang, Y. (2022). When relationships meet situations: Exploring the antecedents of employee communication behaviors on social media. Social science computer review, 40(1), 77-94.
Founder & CEO na Afroseminarium | Professor | Comentador RTP África | Mentor | Palestrante | Formador| Membro Direção Alumni ISCSP
1 aInfelizmente o nosso sistema educativo está mais programado para ensinar a falar do que a comunicar e muito menos a comunicar com assertividade, deixando de lado sempre o respeito pelo contraditório. É uma questão de "boa prática" comunicativa em termos interpessoais, fundamentalmente no que concerne à gestão de conflitos. Saber separar as ideias do criador das ideias é uma estratégia de comunicação eficaz, que ajuda a atenuar a pólvora dos conflitos presentes e latentes, para que efetivamente sobrevivam as melhores em benefício da harmonia nas relações interpessoais em contexto de trabalho. Nada estaria perdido se a solução passasse também pela formação em comunicação dialógica, que subscrevo. Gratidão pela partilha, Pedro Meireles Sobral.