CONEXÕES ENTRE VIDA, CONHECIMENTO E SOCIEDADE

Palestrante do Fórum Social Mundial Fritjof Capra, autor de O Ponto de Mutação, disse acreditar na possibilidade de se construir um novo sistema econômico baseado no estudo dos modelos celulares. E menciona que o Brasil tem uma oportunidade única da criação de um novo modelo de governo que leve em consideração a dignidade humana e a sustentabilidade econômica.

Na década de sessenta, trabalhava com física de partículas, ao conhecer o zen-budismo. Percebeu que essa filosofia oriental tinha muitos pontos em comum com os conceitos da física moderna. Teve, então, a coragem de defender a identidade entre as duas concepções, escrevendo o Tao da Física.

A partir de então se tornou um dos precursores da Nova Era científica. Como todo pioneiro e transformador de paradigmas foi excomungado pelos colegas e expulso das universidades.

Em sua mais recente obra As Conexões Ocultas, considerada o Ponto de Mutação do século 21, Fritjof Capra desenvolve uma compreensão que integra as dimensões biológica, cognitiva e social da vida, e defende, com sólidos e consistentes argumentos, que tudo está interligado em redes complexas.

A síntese do pensamento do autor, traduzida pela expressão "Tudo, absolutamente tudo, está conectado" inspira o otimismo que deixa escapar quanto à construção de um novo modelo político e sócio-econômico nos governos desde que sinalizem para a perseguição obsessiva da missão de colocar a dignidade do cidadão como núcleo central de sua proposta. O que significa ir além do discurso sobre as interdependências entre os diversos segmentos da sociedade.

Entender e praticar o conceito da interdependência entre a vida, o conhecimento e a sociedade é um avanço para a construção de uma metodologia de ação que chegue ao cidadão onde ele vive.

Admitir que o criador de cabras do semi-árido, a artesã do litoral, o pescador, a costureira do alto sertão, o pequeno comerciante ou o dono da oficina do menor rincão deste país, não são agentes passivos, dependentes de decisões tomadas por competentes burocratas a partir de Brasília.

São partícipes ativos do desenvolvimento. Por sentir na pele os muitos equívocos cometidos pelos bem-intencionados gestores públicos, têm plena consciência de que "o conhecimento através de uma conversa é mais importante do que todas as artes", como afirma o espanhol Baltasar Gracián.

Aproveitando o otimismo também da sociedade brasileira, é chegada a oportunidade de os gestores públicos emitirem menos discursos políticos, e ouvirem mais os pensamentos e opiniões dos beneficiários finais das ações de governo.

Como seria salutar que, na concepção e aplicação de estratégias, seja para combater a fome, o analfabetismo ou o desemprego, fosse obrigatoriamente adotada a premissa de que "temos a informação e o conhecimento, mas a sabedoria e a criatividade estão generosamente presente na população, principalmente a mais sofrida". É preciso, pois, ouvi-la!

Além do entendimento de que tudo está conectado, e da aceitação de que a sabedoria popular surpreende, por sua criatividade e praticidade, oferecendo consistência aos programas voltados para as pessoas no lugar onde elas vivem, é recomendável que outros paradigmas sejam destruídos.