Congresso Nacional de Hotéis debateu os rumos do setor
Um dos mais tradicionais eventos da indústria hoteleira e do setor de turismo do país, a 60ª edição do Congresso Nacional de Hotéis (Conotel), aconteceu, de 16 a 18 de maio, em Fortaleza. O importante evento, depois de dez anos, voltou a se realizar fora do eixo Rio-São Paulo e, deste ano em diante, promete se tornar itinerante. Em 2019, Goiânia será a sede da 61ª edição.
Depois de três dias de debates sobre os caminhos para que o setor hoteleiro retome os trilhos do crescimento, após três anos de perda de receitas, o Congresso foi encerrado com a análise de números que indicam um cenário pouco alentador para o segmento no curto prazo.
Chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o economista Fábio Bentes afirmou que o segmento de serviços, em especial o turismo, ainda não conseguiu superar a crise econômica que teve início em 2014. Pelos cálculos de Bentes, após ter registrado uma queda de 6% da receita real no ano passado, o setor, este ano, deve enfrentar uma nova redução das receitas, da ordem de 4%.
“O que podemos constatar a partir do desempenho recente é que a crise ainda não acabou. Ainda existe muito terreno para ser recuperado após a fortíssima queda da atividade dos últimos anos”, declarou o economista. Segundo ele, entre 2015 e fevereiro de 2018, a perda de faturamento do turismo no Brasil chegou a R$ 157 bilhões. Sua conclusão é que “neste ritmo, o setor de turismo só conseguirá se recuperar da atual situação em 2020”.
Além de incertezas políticas e econômicas, outro problema que ajuda a retardar a retomada do crescimento verificado até 2014 está o aumento da sensação de insegurança. Um recente estudo da CNC concluiu que só o Rio de Janeiro, no ano passado, perdeu R$ 1 bilhão com os impactos negativos da violência.
Após lembrar que o turismo responde por 8% do emprego formal no país, Bentes demonstrou que, entre 2015 e 2017, cerca de 7 mil estabelecimentos de hospedagem fecharam as portas em todo o país, encerrando milhares de postos de trabalho formal.
A questão fundamental fica por conta do governo que, na sua política de corte de gastos, brinda o Ministério do Turismo com o menor orçamento entre todos os Ministérios. Dessa forma, o turismo não é prioridade comercial, econômica e de geração de empregos. Enquanto isso, outros concorrentes da América, sem se falar em Estados Unidos e Canadá, países como o México, Peru e Colômbia, investem muito mais que o Brasil na divulgação da qualidade do turismo em seus países.
O estudo “Competitividade do Brasil no Turismo Global, do Euromonitor Internacional, apresenta a Argentina, México, Peru e a República Dominicana como alguns dos principais concorrentes do Brasil atualmente. Segundo as estatísticas do Euromonitor, 6,8 milhões de turistas estrangeiros estiveram no Brasil em 2016, com a ajuda da Copa do Mundo de Futebol e Olimpíada.
Atualmente, a expectativa do Brasil é alcançar, até 2020, 7,4 milhões de visitantes. O México contou, em 2016, com 34 milhões de turistas, prevendo, para 2020, receber 40,5 milhões de visitantes. Quase seis vezes mais turistas internacionais que o Brasil.
“O ranking de competitividade 2017 do Fórum Econômico Mundial, outra importante fonte do turismo, aponta que a República Dominicana está em 7º lugar entre os países que mais prioriza o turismo, o México na 30ª colocação, a Argentina na 66ª, o Peru como 69º colocado e o Brasil, na lanterna, em 106ª colocação.”
Questão de Orçamento
Em 2011 o orçamento do Ministério do Turismo, sem as emendas parlamentares, foi de R$ 808 milhões. O orçamento da pasta para 2018 é 70% menor do valor com que há seis anos foi contemplada. Desde 2011, o volume destinado ao MTur no orçamento anual vem caindo ano a ano. Em 2012 o MTur foi contemplado com R$ 734 milhões. Em 2014, R$ 611 milhões foram destinados ao turismo, enquanto em 2015 o valor caiu para R$ 450 milhões. Para 2018, a pasta foi contemplada com R$ 247,6 milhões.
A Embratur (braço do Ministério do Turismo para promover o Brasil lá fora) tem boa vontade, mas o orçamento é muito pequeno. Teria que ser de R$ 1 bilhão, para participar de mais feiras, desenvolver aplicativos de turismo, comprar horário no Discovery Channel, se promover nas companhias aéreas, nas revistas internacionais de turismo e ativar com mais força o setor de turismo das embaixadas e consulados espalhados por todo o mundo.
E, assim, o Brasil vai perdendo a liderança na América do Sul na recepção de turistas internacionais, ano a ano. Enquanto o Brasil investiu menos de U$ 20 milhões em 2017, a Argentina destinou à sua propaganda do turismo 80 milhões de dólares, o Peru, 95 milhões e a Colômbia, 100 milhões de dólares.
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Raul Machado Carvalho – Editor
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