Connecting the dots
Ao longo dos últimos anos, as tecnologias digitais têm vindo a transformar a economia e a sociedade, afetando todos os setores de atividade e a vida quotidiana de todos os europeus. Os dados estão no cerne desta transformação, que não deverá ficar por aqui....
Numa sociedade em que a quantidade de dados gerados pelos cidadãos está em crescendo, a forma como se recolhe e utiliza todo este manancial de informação deve ter como princípio basilar os interesses dos cidadãos, em consonância com os valores, as regras e os direitos fundamentais dos mesmos.
Os cidadãos só irão confiar e aderir a inovações baseadas em dados se estiverem seguros de que qualquer partilha de dados pessoais estará sujeita à plena observância das regras rigorosas da UE em matéria de proteção de dados. De igual modo, o volume crescente de dados industriais não pessoais e de dados públicos na Europa, combinado com evoluções tecnológicas na forma como são armazenados e tratados, constituirá uma potencial fonte de crescimento de inovação que não pode ser descurado.
Os cidadãos devem estar habilitados a tomar melhores decisões com base nos conhecimentos adquiridos a partir dos dados, devendo estes estarem disponíveis para todos os intervenientes – públicos ou privados, grandes ou pequenos, startups ou multinacionais. Esta europa digital e alavancada nos dados (European Data Economy) deve refletir o melhor de si mesma: deve ser aberta, justa, diversificada, democrática e confiante. Confiante num mundo que através dos seus próprios dados consegue extrair o conhecimento necessário e suficiente para tomar as melhores decisões.
Recentemente foi publicado o estudo desenvolvido pela Capgemini Research Institute (CRI) - "Connecting the dots", que tem como objeto a análise de como as diversas organizações do sector publico podem beneficiar de um ecossistemas de dados ("Public sector data ecosytem").
Como preambulo convém definir o que se entende como ecossistemas de dados no sector publico…. Assim sendo e no âmbito deste estudo foi considerado um ecossistema de dados no setor público como: “Um sistema de colaboração de dados envolvendo uma entidade do setor público juntamente com outras organizações privadas e/ou públicas e/ou cidadãos. Estas iniciativas de colaboração de dados devem beneficiar as organizações públicas que participam do ecossistema e/ou outros beneficiários-alvo, como os cidadãos, e ajudá-los a atingir os seus objetivos e estratégias."
Os dados são e serão a base estrutural de muitos produtos e serviços digitais. Com o IOT e o 5G, o potencial de crescimento de dados é exponencial. Existe a estimativa que para 2025 sejam gerados 175 Zetabytes de dados e que a economia dos dados impulsione o PIB EU27 em mais 270 mil milhões de euros até 2028.
Tendo como base a relevância dos dados para a economia futura da EU bem como a Estratégia Europeia para os Dados (2020), a CRI realizou mais de 1.000 entrevistas a responsáveis de diversos institutos públicos dispersos por 3 continentes (Norte América, Europa e Asia), onde se incluiu a participação de cerca de uma dezena de institutos públicos portugueses.
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Face ao universo de entidades inquiridas, cerca de 27% já se encontram em fase de implementação ou já implementaram ecossistemas de dados e os benefícios inerentes a esta implementação detetados foram:
No entanto, apesar dos benefícios detetados, a partilha de dados continua limitada e de difícil adoção. Face ao estudo efetuado, os principais obstáculos à adesão são:
-Tecnologia (58%): falta de recursos/compatibilidade da infraestrutura de dados existente, falta de padronização das normas de compartilhamento de dados, ameaças de segurança cibernética, capital necessário para a infraestrutura de tecnologia e sua manutenção;
-Confiança (56%): resistência dos cidadãos ao compartilhamento de dados, ceticismo em relação às práticas de manipulação de dados dos parceiros do ecossistema e falta de confiança na qualidade dos dados internos e externos;
-Cultura (54%): falta de colaboração entre agências governamentais e uma cultura de trabalho em silos, falta de talentos e habilidades necessárias, falta de uma cultura digital para apoiar o compartilhamento e colaboração de dados e falta de liderança dedicada para orientar as iniciativas de compartilhamento de dados
O futuro da civilização passa pela partilha e capacidade de extrair conhecimento dos dados gerados. Para tal e tendo como base este princípio, a própria EU lançou em Fev de 2022 (“Data Act”) um conjunto de medidas para que os diversos países consigam criar e alavancar uma economia focada nos dados. Uma das propostas incluídas neste documento inclui a possibilidade de o sector publico aceder e utilizar os dados provenientes de empresas publicas e privadas.
Os dados, a sua partilha e a sua utilização podem não ser o holy grail, não obstante, podem claramente impulsionar uma economia alavancada nos dados (European Data Economy). Este será um enorme desafio para os próximos anos e daí a importância de se refletir e se debater a forma de implementar "data ecosystems" que permitam a partilha dos dados respeitando as normas europeias, mas também as melhores praticas.
A transformação digital tem trazido benefícios significativos para a economia e a sociedade europeia, mas é fundamental que a recolha e o uso de dados sejam realizados com respeito dos valores e direitos fundamentais dos cidadãos. A colaboração entre empresas, governos e a sociedade civil é essencial para garantir que a transformação digital alavancada nos dados seja conduzida de forma responsável e benéfica para todos. A Europa digital deve ser construída com base na inclusão, diversidade e transparência, e deve ser um modelo para o resto do mundo.