Conselhos Consultivos: vale a pena?

A governança corporativa é um um tema consolidado no meio empresarial e muito bem definida e divulgada pelo IBGC, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (criado em 1995), que é uma entidade respeitada e que produz materiais gratuitos e de alta qualidade sobre o assunto. Se entrarmos nos portais das companhias de capital aberto, encontramos normalmente um ícone “Governança Corporativa” com informações sobre a forma como as empresas são dirigidas e monitoradas em vários aspectos: Organograma, Conselho Deliberativo, Comitês temáticos, Políticas de remuneração de executivos, Compliance, Politicas relacionadas a pessoas e assim por diante. A 6a. Edição do Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa acabou de ser publicado pelo IBGC e detalha bem todos estes aspectos. É consenso que uma governança bem estabelecida agrega valor ao negócio.

Dentro do tema Governança, a existência de Conselhos Deliberativos é importante e obrigatória pela Lei das SAs e pelas regras do mercado de capitais da B3. E esta obrigação faz todo sentido, pois de fato há conflitos de interesse entre diversas partes interessadas nas organizações, que vão de acionistas majoritários e minoritários, executivos de mercado, investidores entre outras partes. Conselhos Deliberativos parecem ser fóruns adequados para tratar destros conflitos e aumentar a chance de perenidade das empresas. Atualmente, as atribuições e responsabilidades dos Conselhos ficam cada vez maiores e os Conselheiros são mais valorizados e cobradas (vejam o caso recente da OpenAI e das Americanas com muitas criticas aos Conselheiros). A principal missão de um Conselho é construir o futuro, aprendendo com o passado, acompanhando o presente e projetando o futuro.

Mas será que faz sentido ter um Conselho Deliberativo ou Consultivo numa empresa de médio porte? Em primeiro lugar não é obrigatório ter Conselhos em empresas não listradas em Bolsa e portanto é uma escolha empresarial. Tenho observado uma tendência para que isso ocorra, pois a empresa muda seu status e há uma percepção de que a existência do Conselho agrega valor. Penso que vale a pena ter um Conselho Consultivo para começar numa empresa de médio porte, mas há vários aspectos que precisam ser considerados com cuidado.

O primeiro aspecto envolve as relações interpessoais numa empresa de médio porte, que normalmente no Brasil são empresas familiares (de dono). Os fundadores muitas vezes são os patriarcas e ou matriarcas das famílias e é comum que haja uma mistura em relação a sociedade, família e gestão. Um ambiente assim pode não ser meritocrático, envolve relações familiares e de lealdade, tem muitas vezes um modelo decisório informal e não fluido e neste contexto é desafiador ter um Conselho (mesmo que apenas Consultivo) que agregue valor para o negócio. O empreendedor tem muita convicção e muitas vezes está mais disposto a falar do que ouvir.

Outro fator importante é a clareza sobre os principais desafios empresariais e a visão de futuro sobre o negócio. Qual é o maior problema do momento? Funding para crescer ou pagar dividas? O negócio está em risco? Há uma questão sucessória premente? O nível de conflito está muito alto? É comum que sócios da mesma empresa e da mesma familia tenham visões e diagnósticos bastante diferentes sobre o negócio e é difícil encontrar um caminho quando não se sabe aonde se quer chegar. 

Outra reflexão sobre a empresa envolve o sistema de informações existente. A contabilidade é consistente e está atualizada? A organização tem um dashboard com seus principais indicadores operacionais e estratégicos confiáveis e atualizados, com histórico de evolução em relação a própria empresa e ao mercado? Os gestores tem a empresa na mão? É difícil melhorar o que não se mede. 

Concluindo, creio que antes de criar um Conselho Consultivo, é fundamental que seja feita uma reflexão pelos sócios da empresa sobre os seguintes pontos: nível de maturidade individual e coletivo, alinhamento sobre os propósitos pessoais e do negócio e visões de futuro. Esse processo pode ser obtido com ou sem ajuda de uma Consultoria (em alguns casos um psicólogo é mais importante que um estrategista) e facilita a trilha para a evolução. Instalar um Conselho Consultivo ou Deliberativo não é o primeiro e nem o segundo passo para avançar na Governança Corporativa, vale realmente a pena criar primeiro as condições para que a agregação de valor de fato aconteça.