A Construção de um Futuro Sustentável para a Saúde: Reflexões do Conahp 2023

A Construção de um Futuro Sustentável para a Saúde: Reflexões do Conahp 2023

Na última semana, nos dias 18 e 19 de outubro, ocorreu o Congresso Nacional de Hospitais Privados - Conahp 2023, um evento que certamente deve estar na agenda de executivos, gestores e líderes da saúde.


Com o tema "Pessoas que Transformam a Saúde" e as principais referências do setor, o encontro proporcionou um momento único para rever amigos e explorar temas de grande relevância ligados ao momento atual da saúde em nosso país.

Ao reconhecer a importância da ligação entre pessoas e a transformação, o Conahp 2023 reafirmou mais uma vez seu compromisso em liderar as discussões em uma atuação proativa e responsável com o futuro do setor de saúde no Brasil.

Ao longo desta edição #28 da newsletter busquei discorrer sobre os principais tópicos abordados para incitar em você leitor uma reflexão sobre O QUE QUEREMOS E O QUE ESTAMOS FAZENDO para ser mais eficiente nos resultados em saúde?

A transformação é um processo que envolve todos nós e espero que este documento possa te inspirar a participar ativamente na construção de um sistema de saúde mais inclusivo, equitativo e eficaz para todos os brasileiros. O objetivo é disseminar informações sobre temas emergentes que requerem um debate, o que inclui:

  • Necessidades e demanda do sistema;
  • Gestão do acesso;
  • Sistema Único de Saúde (SUS);
  • Integração público-privada;
  • Integração de dados na saúde;
  • Envelhecimento da população;
  • Monitoramento de doenças crônicas;
  • Incorporação de tecnologias;
  • Qualidade X equidade;
  • Modelos assistenciais eficientes;
  • Novos modelos de remuneração na saúde.

Boa Leitura!        
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Ambiente Organizacional: um cenário em permanente mutação.

O setor de saúde no Brasil, à semelhança de outros setores produtivos, há muito realiza suas atividades em ambiente de incertezas. Àquela sensação de estabilidade e segurança no trabalho se transforma, cada vez mais, em uma lembrança do passado. Um dos jargões muito utilizados no mundo corporativo é a história do Leão e da Gazela: “Não importa se você é o leão ou a Gazela, levante-se e corra”. Todo ambiente é por definição complexo e desafiador e a razão para tudo isso é simples, pessoas têm objetivos e expectativas diferentes.

Promover o tipo de cultura baseada nos valores organizacionais, adepta às mudanças e novas demandas do setor requer líderes e profissionais inovadores, compromissados com as estratégias organizacionais, de forma criativa, participativa, guiada pelo exemplo e fugindo do modelo ortodoxo habitual.

 

Eficácia Organizacional como diferencial competitivo

A gestão eficiente vai muito além dos resultados financeiros. Ela deve levar em consideração a estratégia definida, lideranças envolvidas, ambiente de trabalho, satisfação dos sistemas e comunidade onde está inserida, bem como prezar pela responsabilidade ambiental, social e de governança corporativa. Alguns fatores chave podem ser considerados para auxiliar essa jornada, dos quais destaco:

 - Comunicação: um desafio global para todos os setores;

- Maior Envolvimento dos diferentes players: assunto abordado exaustivamente nos debates e certamente elo de transição para uma saúde focada no usuário e não na doença;

 - Objetivos alinhados a estratégia dos negócios: definição de metas coerentes que façam jus a realidade vivida;

 “O entusiasmo da criatividade revolucionária não pertence apenas a empresas presunçosas com as tecnologias mais radicais. Ele pode ser despertado em todos os tipos de setor e em todas as profissões, se os líderes conseguirem reimaginar o que é possível em seu campo." Bill Taylor

A crescente busca por melhores resultados em saúde e aumento exponencial do interesse pela qualidade, faz com que a análise "on time" das estratégias e seu entendimento de forma precisa auxilie na tomada de decisões assertivas, contudo lembrando que “NÃO EXISTE QUALIDADE SEM EQUIDADE”.

 

Eficiência X Eficácia: Rumo a excelência

A Eficácia é um conceito abrangente que representa o grau de realização de metas. Eficiência, por outro lado, é um conceito mais limitado, que diz respeito ao volume de recursos utilizados para se produzir uma unidade de produto e/ou serviço. De maneira simplista e hipotética, se uma organização atinge determinado resultado com a utilização de menos recursos do que outra, diz-se que ela é mais eficiente. Todavia, devemos lembrar que na saúde não existem “respostas simples para problemas complexos” e fatores como integridade, ética, compliance, melhores práticas, equipe capacitada, dentre outros devem ser levados sempre em consideração.

A realização de ações regulares de planejamento, monitoramento e avaliação e/ou reavaliação, vulgo de Gestão, permite às organizações entenderem melhor sua atuação e então investir na qualidade de seus profissionais, serviços e produtos. No entanto, para que se tenha uma GESTÃO EFICIENTE é preciso um modelo não linear, maior consciência dos sistemas por parte dos gestores (além das paredes dos serviços) e um olhar crítico para a análise de dados e do cenário, não mais baseado na percepção, para a tomada de decisão assertiva e em tempo hábil.

 

Olhar estratégico da gestão de pessoas

O entendimento dos novos modelos de trabalho, comportamentos e necessidades profissionais é primordial para a implantação de ações efetivas voltadas a melhoria dos ambientes de trabalho, saúde e bem-estar dos profissionais e posicionamento do profissional certo no lugar certo.

"Desenvolver a visão estratégica embasada em valores éticos, lideranças competentes, para uma nova realidade de empresa, é exigência para se manter no mundo atual, extremamente competitivo e permeado de incertezas, que exige ao administrador, o compromisso com o desafio de ser um agente de transformação de uma globalizante modernidade líquida, em constante mudança, em que todos somos atores (RODRIGUES e VALDO)".

Já estamos experimentando o impacto de inúmeras mudanças, muitas delas em curso há anos, enquanto outras aceleradas nos últimos meses.  É fato que o desempenho das organizações reflete diretamente o desempenho das pessoas, ou seja, as práticas e a forma como são geridas têm impacto nas atitudes e comportamentos. Nesse sentido, para que os resultados organizacionais sejam positivos e sustentáveis, as organizações devem envolver as equipes e os profissionais de recursos humanos na estratégia do negócio.

 

Gestão do conhecimento

Em um passado não muito distante e para alguns ainda uma realidade, a INCORPORAÇÃO TECNOLÓGICA que se faz cada vez mais presente na saúde, ainda é temida com a ideia de que “as máquinas dominarão o mundo”. Se analisarmos de forma concreta a ideia é exatamente oposta: as pessoas, o capital intelectual e a capacidade de raciocínio se tornarão o nosso bem mais precioso. O trabalhador do conhecimento é aquele profissional que acompanha a evolução do mercado e identifica tendências. Esses profissionais possuem características criativas e empreendedoras, capazes de enfrentar os desafios do futuro com coragem e determinação, mas também com conhecimentos e competências.

A gestão do conhecimento não é e nem pode ser equiparada a gestão da informação, mesmo que de certa forma a gestão da informação seja uma das maneiras de alavancar a geração de novos conhecimentos. Nessa direção, as práticas de gestão de conhecimento podem ser consideradas: gestão por competências, mapeamento do conhecimento organizacional, compartilhamento de experiências, incentivo e formação de profissionais multiplicadores, comunicação assertiva e o próprio organizacional.

Na estruturação de uma equipe de trabalho, devemos considerar que a gestão de conhecimento deve ser capaz de transformar as competências individuais em organizacionais.

 

Gestão estratégica de pessoas

O universo da saúde é orgânico, dinâmico e complexo. As instituições têm pela frente uma longa jornada rumo à geração de valor e sustentabilidade. Garantir o gerenciamento dos riscos, a segurança das informações e da assistência, além de investir no desenvolvimento das pessoas é o primeiro passo para aqueles que buscam um diferencial.

Para Milkovich e Boudreau, a gestão de pessoas pode ser entendida como “decisões integradas que formam as relações de trabalho; sua qualidade influencia diretamente a capacidade da organização e de seus profissionais em atingirem objetivos”.

Engajar pessoas envolve entendimento de propósito, desenvolvimento pessoal e profissional, estímulo ao raciocínio clínico, ambiente de trabalho positivo e uma cultura organizacional sólida. Os líderes e gestores devem atuar pelo exemplo, sendo melhores ouvintes e muito mais direcionar do que impor.

O processo da gestão de pessoas inclui:

1)     Atração: Ponto de partida. Quais características e competências se busca para assegurar contribuições efetivas à execução da estratégia organizacional?

2)     Treinamento e desenvolvimento: Necessidade de atualização contínua do capital intelectual, de modo a lidar adequadamente com novos processos e sistemas. Essas ações possuem a função de conhecer, envolver e reter talentos à medida em que promovem condições para o desenvolvimento de carreira. De maneira geral e feito de forma estruturada, o T&D contribui para a melhoria do desempenho nos níveis individual, de equipe e organizacional.

3)     Carreira e sistemas de recompensas: O enriquecimento de funções e o job rotation são possibilidades para a carreia dos profissionais. Portanto, as competências individuais, se devidamente direcionadas, propiciarão o desenvolvimento individual de carreira e, simultaneamente, da organização. Especificamente em relação às pessoas, é inegável e não podemos deixar de lado o retorno financeiro.

 

O papel do desempenho efetivo de pessoas

Gerenciar o desempenho traz informações que permitem ao gestor apoiar a tomada de decisão baseada em fatos. Se analisarmos do ponto de vista tradicional ao contemporâneo, até a década de 1980 o foco era “quase” que exclusivo nos compromissos financeiros, o que implicava a utilização da avaliação de desempenho por meio de medidas contábeis. Atualmente, o gerenciamento permite a INTEGRAÇÃO DE DADOS e a interligação de estratégias, objetivos e metas de áreas e processos. Assim, não depende mais apenas dos aspectos técnicos e racionais, mas de lideranças capazes de promover as condições fundamentais ao correto alinhamento, tais como:

·       Construção de uma cultura de alto desempenho.

·       Abertura para o aprendizado contínuo

·       Ambiente favorável à transformação de valores em ações que adicionam valor.

·       Empreendimento de esforços que visem ao crescimento organizacional sustentado.


O ciclo do desempenho Humano:

As lideranças devem planejar suas ações de tal modo que construam elos entre a estratégia organizacional e o trabalho das equipes. Os objetivos, metas e resultados são aspectos visíveis, logo, a interligação entre eles deve ocorrer por meio de indicadores direcionadores que atuarão como uma “bussola da gestão”. Mas, resta saber como construir medidas adequadas ao acompanhamento do trabalho e a avaliação do nível da contribuição humana para os resultados organizacionais. Essa resposta não pode e nem deve vir de um check list que deu certo na organização A ou B, mas do entendimento das prioridades estratégicas, que é único e individual para cada organização. A interpretação equivocada dessas orientações impossibilita uma atuação gerencial integrada. E o que é pior, esforços individuais e do coletivo podem ser nulos e não gerar qualquer benefício.

Após esse momento vem a etapa de acompanhamento, que tem como finalidade a manutenção do foco das ações gerenciais frente as demandas essenciais prioritárias já definidas. A implementação e o trabalho em curso encontram-se no rumo adequado para o atendimento das necessidades? É importante o feedback contínuo e caso seja necessário mudar o rumo, fazê-lo em equipe de forma compartilhada e com clareza de fala.

A avaliação e diagnóstico do desempenho individual e/ou equipe decorre da identificação, análise e avaliação das divergências entre o desempenho previsto e o obtido e, ainda, pela verificação de seu impacto no desempenho organizacional. Para que esse seja construtivo ao desenvolvimento das pessoas e da equipe é necessário ter nitidez quanto a relevância das seguintes condições: capacidade de domínio do negócio, foco contínuo nas necessidades, comunicação aberta e transparente e vincular a obtenção de resultados às recompensas. Um número considerável de pessoas acredita que recompensas financeiras exclusivas sejam as mais eficazes para estimular a motivação no trabalho. Todavia, pesquisas recentes na área de psicologia desmistificam essa crença longínqua, sugerindo que a adoção simultânea de recompensas extrínsecas como acréscimos financeiros na remuneração e, também intrínsecas como estímulos aos sentimentos de autoestima, realização e competência, afetam positivamente a satisfação, a motivação e o desempenho.

 

Sistema de Saúde que Atenda às Necessidades da População

O sistema de saúde brasileiro é complexo e passa por grandes desafios. Para atender uma demanda crescente torna-se imperativo uma abordagem multifacetada e atuação universal, integral e equitativa, o que envolve garantir que todas as camadas da sociedade tenham acesso a serviços de saúde seguros e de qualidade.

Em uma das mesas com o tema INTEGRAÇÃO PÚBLICO PRIVADA NA PRÁTICA, enquanto um dos debatedores falava do diagnóstico cada vez mais tardio de câncer, uma fala me chamou a atenção, que foi: “como podemos falar de diagnóstico precoce de câncer, se com toda a estrutura das unidades básicas de saúde e equipes de saúde da família sequer conseguimos monitorar pacientes hipertensos e diabéticos". Essa fala reforça o papel e lugar de destaque que a atenção primária deveria ter na promoção da educação populacional, na mudança de hábitos e comportamentos, monitoramento da população, promoção de políticas preventivas e desenvolvimento de estratégias de gestão eficientes que possam atender às necessidades variadas de uma população bastante diversificada como a nossa.

O Brasil passa por um processo de envelhecimento da população. Este é um fenômeno mundial, mas sua gestão se torna particularmente desafiadora em um país de dimensões continentais como o nosso. O envelhecimento traz consigo um aumento na prevalência de doenças crônicas e demandas por cuidados de saúde de longo prazo. Se não trabalharmos de forma equilibrada os diferentes níveis de atenção, desafogamento do setor terciário muito mais oneroso, foco na saúde e não na doença, integração dos serviços, remuneração baseada em desfechos e co-responsabilização entre as partes, será que a saúde sobreviverá?

 

Não existe qualidade sem equidade

A busca por qualidade nos serviços de saúde é legítima. O Brasil enfrenta disparidades significativas na saúde, com acesso desigual a tratamentos e serviços. Durante o evento um momento bastante gratificante e enriquecedor foi a divulgação da parceria entre a Associação Voluntários da Saúde, ANAHP e Fehosp para o desenvolvimento de lideranças das Santas Casas com foco na ampliação da performance das equipes e dos resultados institucionais, através de um repertório de conteúdos, ferramentas e práticas de gestão de pessoas, processos e resultados. É nosso dever como profissional da saúde retribuir, cada qual da sua maneira, todo o conhecimento e expertise adquirido ao longo dos anos. Por mais momentos como esse!

Grupo de membros da Associação Voluntários da Saúde presentes no CONAHP 2023


A evolução dos modelos assistenciais é constante, assim como a capacidade de adaptação para o enfrentamento de desafios emergentes. A Atenção Primária à Saúde (APS) é o pilar fundamental para toda essa transformação, sendo essencial não apenas na promoção à saúde, prevenção de doenças, monitoramento de doenças crônicas, mas na coordenação integral do cuidado ao longo da jornada do paciente. Para isso, é fundamental considerar a participação ativa da comunidade na tomada de decisão, estruturação de políticas de saúde, abordagem centrada no paciente e na construção de um sistema mais inclusivo e eficiente.

Em resumo, o Conahp 2023 foi um marco importante para um ano que tem se mostrado bastante desafiador para a saúde. A abordagem de questões complexas forneceu um espaço vital para discussões construtivas em prol de um futuro para o sistema de saúde. No entanto, vale ressaltar que a implantação dessas soluções requer compromisso, colaboração, envolvimento e ação contínua de todos os players. Agradeço aos que conseguiram ler essa análise até aqui e uma coisa é certa: Nada se faz sozinho! Espero que essas discussões continuem a inspirar ações concretas e positivas em direção a um sistema de saúde que atenda às necessidades da população, promova a equidade e forneça cuidados de alta qualidade a todos os brasileiros.

José Antonio

Consultor de gestão sênior

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Bruno parabéns pelo sumário executivo. Quero lhe perguntar se há prioridades, e, se houver, alguma delas será implantada nos próximos dois anos. Obrigado.

Patricia Pessoa Pousa

Executiva de Gente e Gestão em Saúde | Palestrante, Consultora, Mentora em Gestão de Pessoas | Assessora LinkedIn | Doutora em Mundo do Trabalho e Saúde Mental na FCM Unicamp | Enfermeira | Professora pós-graduação

1 a

Excelente Bruno C. Farrás, estava no CONAHP e seu artigo reflete com eficácia os temas, muito grata.

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