#18# O futuro do cuidado: prioridades da saúde baseada em valor

O ambiente de trabalho reflete a cultura organizacional, que por sua vez influencia diretamente na tomada de decisão de executivos, gestores, colaboradores e profissionais da saúde. A construção de um relacionamento sólido entre organizações e profissionais envolve questões bastante complexas como: autonomia, direito, ética e bioética. Compreender e incluir esses princípios nas atividades diárias da assistência à saúde requer grande habilidade, articulação e uma comunicação transparente e assertiva.  

Desde o início dos anos 2000 sabe-se que a maior parte dos erros relacionados à assistência não resultam de imprudência ou incompetência individual, mas de falhas dos sistemas, processos e condições de trabalho ruins.  Na publicação “To err is human” concluiu-se que entre 44.000 a 98.000 pessoas morrem a cada ano em consequência de erros médicos evitáveis.

“Se existem duas culturas que parecem incapazes de dialogar – as ciências e humanidades – e se isto se mostra como uma razão pela qual o futuro se apresenta duvidoso, então, possivelmente, poderíamos construir uma ponte para o futuro, construindo a bioética como uma ponte entre as duas culturas". Potter VR. Op. cit. 1971. p. 6.

Para tornar os sistemas mais seguros e aptos para uma melhor atuação profissional é imprescindível a participação direta das lideranças, visto que são responsáveis por conectar a estratégia à operação. Criar um espaço onde profissionais sintam-se confortáveis e seguros para entender o propósito organizacional e produzir o seu melhor, requer uma liderança habilitada e capaz de acompanhar integral e continuamente alguns pontos, dos quais destaco: 

·      Riscos ocupacionais: a cultura de segurança é a base para a criação de um ambiente seguro, garantindo a qualidade de vida e o bem-estar dos profissionais;

·      Avaliação, controle, monitoramento e a estruturação de ações de educação e prevenção de segurança e saúde no trabalho: essas ações auxiliam na promoção de um ambiente harmonioso, considerada uma pré-condição para o exercício de um cuidado seguro e de qualidade;

·      Proteção física e psicológica dos profissionais:  programas de apoio ajudam no enfrentamento a problemas de sobrecarga e estresses no ambiente de trabalho, com impacto direto na atuação profissional e maior efetividade operacional;

·      Envolver as equipes médicas: devem ser inseridas como parceiras estratégicas e responsáveis pelo alcance das metas;

·      Ouvir mais e desenvolver os profissionais da equipe: traz maior autonomia e encoraja os profissionais a ter maior propriedade e independência nas tarefas que executam;

·      Ouvir usuários e familiares: aplicar as contribuições em comitês de liderança e no desenho e melhoria dos processos de atendimento;

·      Desenvolver uma cultura de melhoria que inclua o compromisso de toda a organização com o aprendizado contínuo;

·      Liderar pelo exemplo: tempo e atuação são características chave nesse processo.

Eliminar erros e melhorar a qualidade assistencial para o alcance de melhores desfechos e a geração de valor a menores custos é a grande busca do setor. Essa construção requer lideranças capacitadas e orientadas a uma cultura organizacional totalmente dedicada à melhoria, que concentre recursos, processos e a mensuração de resultados em tempo real, capazes de prover respostas reativas e garantir ações para uma melhor oferta de serviços, identificando novas oportunidades de atuação. Por fim, nota-se que a valorização do capital humano no desdobramento de estratégias, construção e disseminação da cultura organizacional é uma característica comum às organizações de sucesso.