CONTRIBUIÇÕES DA UTILIZAÇÃO DE AMBIENTE DIGITAL PARA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

CONTRIBUIÇÕES DA UTILIZAÇÃO DE AMBIENTE DIGITAL PARA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A sociedade contemporânea está imersa em tecnologia em todos os contextos, sejam eles sociais, acadêmicos ou profissionais, no entanto essa realidade ainda é vista com desconfiança por algumas famílias e profissionais os quais buscam afastar suas crianças de certos cenários em que a virtualidade se insere. Aqui, tomaremos por objetivo argumentar sobre a utilização de ambientes digitais e suas respectivas ferramentas apresentados em computadores e aparelhos móveis, no auxílio à alfabetização e letramento nos anos iniciais do ensino fundamental, seus prós e contra, dentro do contexto social atual com suas necessidades específicas agravadas pela pandemia de corona vírus.

Com base na literatura, periódicos acadêmicos e textos jornalísticos que tratam do assunto, a pesquisa, aqui apresentada, buscará expor, de forma sucinta, argumentos para que se possa evidenciar formas e meios de se utilizar o ambiente digital e suas ferramentas com segurança e eficiência buscando sanar dúvidas de educadores e gestores quando da utilização das ferramentas digitais utilizadas em tal contexto para a facilitação e auxílio à alfabetização e letramento nos anos iniciais do ensino fundamental.

Em meio a debates sobre a utilização, ou não, da tecnologia por crianças, não se pode negar as possibilidades oferecidas pelas ferramentas tecnológicas, as quais vão desde a motivação gerada pela ambientação virtual da atividade, até a possibilidade de nivelação de progressos, com feedbacks imediatos, tornando o exercício aplicado, passível de ser refeito e reavaliado pelo próprio aprendente, reconstruindo e adequando seus conceitos e construindo o conhecimento.

Nesse processo, o texto busca salientar a necessidade da constante monitoria do adulto na construção de sentido no como e o por quê das atividades executadas, apresentando-as de forma metodológica, para que não se perca o objetivo intencional de aprendizagem do sistema de escrita alfabética, bem como sua contextualização com seu uso social, ou seja, o letramento, tendo o ambiente digital como ferramenta de mediação da aprendizagem. Atividade essa que, apesar de contar elementos lúdicos para a motivação e manutenção do interesse do aluno em prosseguir no cumprimento da tarefa, não deve abandonar seu caráter educacional.

A alfabetização e o letramento de crianças inseridas nos anos iniciais do ensino fundamental, é sinônimo de desafio para os professores alfabetizadores, que precisam munir-se de bases teóricas e ferramentas capazes de viabilizar não só o aprendizado do sistema alfabético de escrita, mas também o seu uso social, constituindo a alfabetização e o letramento. Os ambientes digitais, com suas inúmeras possibilidades de utilização mostram-se como uma ferramenta promissora, capaz auxiliar no processo de aprendizagem em alfabetização e letramento de alunos inseridos nos anos iniciais do ensino fundamental. No entanto, a discussão que surge com essa utilização amplificada de ferramentas tecnológicas para a educação, também na infância, é se as vantagens que elas trazem ao contexto educacional, supera os riscos de expô-las a esse ambiente virtual. 

Experts da tecnologia evitam e até mesmo proíbem que seus filhos tenham acesso a tais recursos devido a suas próprias experiências, como diz o artigo de Bowles (2018) para o The New York times, publicado no Brasil pela Folha de São Paulo: “Para alguns tecnólogos, ver como as ferramentas que eles criaram afetavam seus filhos parecia uma cobrança de contas de seu estilo de vida”, um dos entrevistados chega a comparar a utilização da tecnologia a drogas pesadas e a dependência causada por elas, no entanto, a mesma reportagem traz depoimentos que discordam dessa postura negativa, como a opinião de Jason Toff, o qual afirma que o iPad utilizado por seu filho de 3 anos “não é melhor nem pior que um livro” (BOWLES,2018). A analogia utilizada por Toff tem sentido quando se analisa a internet, onde se inserem os ambientes virtuais, comparando-a a uma biblioteca com uma grande gama de títulos e possibilidades de acessos a registros os quais podem, ou não, serem adequados à infância ou a outra categoria de usuários, sendo necessária uma filtragem nas informações a serem acessadas. No caso da criança, essa filtragem deve ser feita por responsáveis, familiares e educadores, tornando a navegação segura e eficaz, dentro do objetivo preestabelecido por esse responsável de forma contextualizada. É preciso que o adulto cuidador, seja familiar ou educador, deve promover na criança, antes de tudo, o hábito de se utilizar o ambiente virtual de maneira adequada, assim como se faz quanto aos ambientes reais, os quais também oferecem riscos, sem deixar de considerar as contribuições que esse uso adequado do ambiente digital pode trazer ao aprendizado da criança em processo de alfabetização e letramento.

_____No ambiente digital, há vários tipos de revoluções e mutações que ocorrem ao mesmo tempo na ordem técnica, cultural, nos modos de produção e nas formas de ler e escrever; e isso pode repercutir na alfabetização das crianças. Nesse sentido é possível afirmar que o uso das tecnologias digitais na alfabetização, hoje, é fundamental. Esse uso é defendido tanto por aqueles que tomam a tecnologia digital em sua especificidade, como por aqueles que defendem que a alfabetização deve acompanhar os usos sociais da escrita, em qualquer tempo e, na contemporaneidade, o amplo uso das TECNOLOGIAS DIGITAIS repercute no trabalho com a alfabetização, (FERREIRO, 2013, apud ARAÚJO; BICALHO; FRADE; GARCIA;GLÓRIA, 2018, pg 19.)

  Ferreiro (1996) discorre sobre o fato de que, com o passar dos séculos, a instituição escolar retirou a linguagem escrita de seu lugar de direito, enquanto objeto social e histórico, e a transformou em uma ferramenta exclusiva da escola, destituindo-lhe de sua função primordial de representação social da linguagem. Essa dissociação da leitura e da escrita do meio social, dificulta a alfabetização e consequentemente o letramento que é a utilização dos códigos escritos, suas nuances, estilos e gêneros, em contextos sociais a que pertencem. É nesse cenário de contextualização com a realidade apresentada socialmente à linguagem que se insere a necessidade, e a utilidade, do uso dos ambientes digitais na alfabetização de crianças inseridas nos anos iniciais do ensino fundamental.

A linguagem, escrita ou falada, não é inata à espécie, apesar de estar ligada a mecanismos inerentes ao ser humano, a linguagem é uma construção do próprio ser humano dentro de contextos histórico-sociais advindo de suas experiências e estímulos ao qual foram expostos. Estímulos como a necessidade de uma comunicação cada vez mais clara e abrangente.

_____O elemento "histórico" funde-se com o cultural. Os instrumentos que o homem usa para dominar seu ambiente e seu próprio comportamento não surgiram plenamente desenvolvidos da cabeça de Deus. Foram inventados e aperfeiçoados ao longo da história social do homem. A linguagem carrega consigo os conceitos generalizados, que são a fonte do conhecimento humano. ( LURIA, 2010, pg.26)

 

A tecnologia e seus avanços há muito, apresenta-se como novos passos na evolução da linguagem e da comunicação e já está inserida na cultura mundial, não apenas em seu papel de veículo e propagadora da linguagem, mas também como nova linguagem em si mesma e assim ela se mostra dentro da rotina da maioria das famílias contemporâneas. 

Nesse cenário, ainda que de forma indireta, a criança presencia o uso social dos ambientes digitais o que faz com que se perca o sentido de privá-las das experiências mediadas por recursos tecnológicos, desde que não se torne a única prática dessa criança, ou que tais atividades se estendam por longos períodos, seja como recurso lúdico ou educativo.

Katia Arilha Fiorentino Nanci (2017), em sua tese de Doutorado em Educação discorre sobre a necessidade de outras vivências do aluno em contextos de alfabetização e letramento, de forma equilibrada com a utilização dos meios tecnológicos. Contextualizando tais vivências, pode-se levar o aluno a uma maior facilidade no aprendizado da leitura e da escrita. 

O simples uso da tecnologia não se faz capaz de produzir um leitor proficiente, dado que na maioria das interfaces utilizadas em ambientes digitais, seus usuários não atuam como autores, não criam narrativas, mas  apenas interagem com elas e assim não contribuem para o desenvolvimento de leitores proficientes que consigam compreender e interpretar histórias complexas, mas pontua a necessidade de educadores e responsáveis atuarem como mediadores responsáveis por orientar e equilibrar o uso de ferramentas digitais e outros meios de comunicação com conversas, contação de histórias e leituras de outros meios. O uso dos recursos digitais deve ser criterioso e relacionado com outras práticas alfabetizadoras para um aprendizado de qualidade.

Assim como em todas as práticas pedagógicas, para que se alcance os resultados desejados, o trabalho desenvolvido em ambiente digital deve ser metódico, considerando a capacidade e a necessidade dos alunos diante dos objetivos propostos, bem como a interação com as ferramentas digitais, como no processo descrito a seguir:

_____Ao longo do trabalho com a turma no ciclo de alfabetização, fomos desde o início oportunizando às crianças acessar os sites de jogos digitais. A princípio, quando os alunos chegavam ao laboratório de informática, o computador estava aberto na página do jogo. Com o tempo, fomos lhes ensinando a ligar a máquina e a entrar nos jogos. Ou seja, à medida que avançavam nas habilidades e competências com a escrita, desenvolviam, da mesma forma, habilidades para lidar com os recursos digitais e seus gêneros textuais com autonomia, ou seja, as crianças foram alfabetizadas letrando-se digitalmente.(ARAÚJO; BICALHO; FRADE; GARCIA;GLÓRIA, 2018, pg. 127).

 

O ambiente digital mostra-se ainda mais efetivo e atraente ao aprendente, por suas características de ludicidade e dinamicidade inerentes ao espaço virtual, trazendo a necessidade de se pensar não apenas no conteúdo a ser aplicado, mas como ele vai ser apresentado. Pensar e criar, dentro das várias possibilidades existentes nas ferramentas tecnológicas, a forma mais atraente e eficiente de elevar o interesse do aluno pela aprendizagem. A utilização de Interfaces atrativas com recursos interativos que cativam a atenção do aprendente, são caminhos possíveis na promoção de um aprendizado efetivo.

_____Para ser efetiva, a aprendizagem mediada por tecnologia deve ser projetada para envolver os aprendizes de maneira ativa e é neste momento que a tecnologia desempenha seu papel principal.Tecnologias interativas avançadas oferecem novos tipos de oportunidades para o ambiente de aprendizagem. Neste particular, os Objetos de Aprendizagem surgem para aproveitar essas oportunidades e devem promover o processo de interação em sua totalidade.(PREVEDELLO, 2011, pg. 53)

  Por meio de jogos, interação remota entre pares em ambiente digital seguro, ferramentas de criação autoral de textos e imagens, entre várias outras possibilidades viabilizadas pelo ambiente digital, a alfabetização e o letramento nos anos iniciais do ensino fundamental torna-se mais atrativa aos olhos dos alunos os quais se sentem motivados a utilizar as ferramentas apresentadas a ele e a praticar com mais entusiasmo as atividades didático pedagógicas, ampliando assim, as probabilidades de que as informações adquiridas durante as atividades virtuais sejam apreendidas, tornando-se conhecimentos adquiridos, fortificando sua consolidação, para que sejam utilizados em contextos sociais reais.

Deve-se enfatizar que o conceito de interação apresentado neste texto,, referindo-se às ações entre aprendente e computador não está pautado no real significado da palavra, dado que esta, a palavra interação, refere-se à ação entre dois sujeitos e se a utilizarmos desta forma, estaremos personificando a máquina (ZAGUETTI, 2017) e não é o caso. A interação em ambientes digitais pressupõe a possibilidade de o indivíduo agir com a máquina, dentro de uma programação preestabelecida.

Não é função do professor a programação do ambiente digital a ser utilizados por seus alunos, mas faz parte de suas incumbências, esquematizar de forma metodológica como e quais recursos e plataformas são adequadas para proporcionar a aprendizagem de forma efetiva e intencional, sem se prender à ilusão de que o ambiente digital, por si só, fará o trabalho de apresentar e consolidar o conhecimento no aprendente. O professor alfabetizador deve estar ciente de seu papel enquanto facilitador dos processos de alfabetização e letramento e deve concretizar tal papel de forma metódica e intencional para que o processo ocorra com êxito.

O meio virtual, com seus ambientes digitais e suas ferramentas trazem consigo uma nova possibilidade de ação para a facilitação dos processos de alfabetização e letramento. Sua dinamicidade e a ludicidade com as quais é possível apresentar as atividades didáticas pedagógicas têm o potencial de encantar o aprendente, levando-o a praticar os exercícios de forma prazerosa, potencializando as probabilidades de que tais atividades produzam, de fato, o aprendizado.

Sabe-se que em ambientes digitais, o acesso a informações é facilitado e tal facilidade pode oferecer riscos, caso utilizado inapropriadamente, mas com o direcionamento adequado tais ferramentas oferecem vantagens significativas para a aquisição de habilidades e conhecimentos necessários ao desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, bem como o seu uso social, tornando propícia sua utilização em ambientes escolares dos anos iniciais do ensino fundamental.


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