Coronavirus e retomada do crescimento

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

O ESTADO DE SÃO PAULO

Economia e Negócios Quarta Feira, 25 de março de 2020. 

Josef Barat

Além de sofrimento e angústia, a propagação do coronavírus (COVID-19) acarretou a difusão de uma gigantesca e imponderável crise econômica. De inicio, a economia mundial sentiu o impacto da forte redução da produção na China, consequência da epidemia em seu território. Posteriormente, a constatação de uma pandemia fez com que amplas restrições fossem impostas à circulação, consumo e produção na Ásia, Europa e Américas. Desarticularam-se as cadeias produtivas e atividades econômicas em escala mundial. É claro que o papel crescente da China no comércio global, nas cadeias produtivas e de suprimentos e viagens, tornou o impacto inevitável e global. 

Se as perspectivas de crescimento econômico mundial pareciam ser animadoras, repentinamente se tornaram sombrias. Surtos subsequentes se espalharam pelo mundo, gerando frustração no crescimento de outras economias em diferentes escalas. Países altamente dependentes das cadeias produtivas do turismo e serviços, ou industrias globalizadas nos seus suprimentos de componentes e insumos, de uma hora para outra tiveram essas atividades postergadas ou paralisadas. As perspectivas de crescimento ainda são incertas. Se os picos da pandemia forem moderados e contidos, a redução do crescimento global será menor que o inicialmente previsto. Há o risco, porém, de que a difusão do coronavírus seja mais duradoura e intensiva, o que enfraqueceria as perspectivas mai s otimistas.

É claro que ações governamentais proativas e bem coordenadas poderão dar suporte à recuperação econômica mais ampla. Neutralizados os efeitos do coronavirus, como é esperado, haverá um forte impacto na retomada da confiança nas políticas públicas e consequentemente nos investimentos, ambiente de negócios e geração de oportunidades de emprego. De todo modo, as perspectivas de crescimento para a China, Europa e Estados Unidos foram reduzidas acentuadamente, com cautelosa previsão de retomada gradual da produção para níveis projetados antes do surto.

Se a pandemia teve um impacto significativo na indústria, aviação civil, turismo e negócios, expressivos também foram os prejuízos causados às atividades de educação, entretenimento e lazer. Os sistemas educacionais foram afetados, levando ao fechamento generalizado de escolas e universidades. Governos de 73 países implementaram, de imediato, o fechamento de parcial ou total de escolas, o que afetou 420 milhões de alunos em todo o mundo. Segundo dados divulgados pela UNESCO, um em cada cinco estudantes ficou fora da escola. Acrescente-se, em vários graus, o fechamento de cinemas, teatros e restaurantes, bem como o cancelamento de grandes festivais e shows. Curiosamente, o aumento expressivo do streaming e do estoque de filmes da Netflix evidenciaram a conscientização geral da necessidade de permanência nos domicílios.

Este panorama geral da gravidade da pandemia, mostra que, apesar da histórica e renitente tradição de isolamento e resistência à inserção no mundo globalizado, o Brasil não é uma ilha e tem fortes conexões mundiais em viagens internacionais, como também em grande multiplicidade de cadeias produtivas. Infelizmente, o impacto da crise provocada pelo coronavirus atinge o país no momento em que já se constatavam sinais incipientes, mas muito positivos de retomada do crescimento.

A reação das autoridades responsáveis pela Saúde Pública brasileira foi, de modo geral, rápida e eficiente. Para um país com 210 milhões de habitantes, sendo que 85% em áreas urbanas, as ações tem sido eficazes em termos de informação e conscientização. O Brasil tem, afinal, grandes infectologistas e sanitaristas em centros de excelência. Que os economistas sigam os mesmos padrões dos profissionais de saúde e convirjam para a rápida retomada do crescimento e do emprego. Se as picuinhas, provocações e descaso com a gravidade do momento, se “Esquerda” e “Direita” (propositalmente entre aspas), tiverem a grandeza de manter o foco no bem estar e conceder uma trégua aos brasileiros, teremos condições de superar esse momento difícil para todos.

__________________________________________________________________________

Economista. consultor de entidades públicas e privadas, Coordenador do Núcleo de Estudos Urbanos da Associação Comercial de São Paulo


 






Parabéns amigo J. Barat. Escreva p meu e.mai l marcio.wohlers@gmail.co.

Muito bom Barat.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Josef Barat

  • Negação e descaso: o preço que pagamos

    Negação e descaso: o preço que pagamos

    Josef Barat O Estado de São Paulo Edição de 20 de Abril de 2020 Os últimos dados da OMS para o Brasil, mostram que…

    13 comentários
  • Uma agenda possível pós-pandemia

    Uma agenda possível pós-pandemia

    Josef Barat O Estado de São Paulo Edição de 03 de Novembro de 2020 A pandemia imporá mudanças nas agendas econômica…

    3 comentários
  • Tempestade mais que perfeita

    Tempestade mais que perfeita

    O ESTADO DE SÃO PAULO - Economia e Negócios Quarta feira, 19 de agosto de 2020…

    3 comentários
  • Respeito à Ciência, por favor

    Respeito à Ciência, por favor

    O ESTADO DE SÃO PAULO - Economia e Negócios Terça Feira, 19 de maio de 2020. Militantes de movimentos anti-ciência…

  • Entender a Amazônia

    Entender a Amazônia

    Josef Barat O ESTADO DE SÃO PAULO - Economia e Negócios Quarta Feira, 26 de fevereiro de 2020. Após a Segunda Guerra…

  • Por que não crescemos?

    Por que não crescemos?

    O ESTADO DE SÃO PAULO - Economia e Negócios Quarta Feira, 29 de janeiro de 2020. Josef Barat Algumas perguntas são…

    3 comentários
  • Uma saga de sucesso

    Uma saga de sucesso

    O ESTADO DE SÃO PAULO - Economia e Negócios Quarta Feira, 06 de Novembro de 2019…

    2 comentários
  • Urbanização: o desafio de Sísifo

    Urbanização: o desafio de Sísifo

    O ESTADO DE SÃO PAULO - Economia e Negócios Quarta Feira, 11 de Setembro de 2019. Josef Barat A tradição brasileira…

  • Querelas do Brasil

    Querelas do Brasil

    O ESTADO DE SÃO PAULO - Economia e Negócios Terça Feira, 13 de Agosto de 2019. Josef Barat A canção de Aldir Blanc e…

    2 comentários
  • Aviação civil: crises recorrentes

    Aviação civil: crises recorrentes

    Josef Barat O ESTADO DE SÃO PAULO – Economia e Negócios Terça Feira, 02 de Maio de 2019. O que ocorreu com a Avianca é…

    2 comentários

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos