Covid - 19 - Será que estamos combatendo corretamente?
Passados alguns meses da globalização da pandemia, começamos a ter massa crítica de informações quantitativas para avaliar as estratégias adotadas pelos diversos países.
Com o avanço da pandemia até a data deste artigo - 01 de Junho de 2020 - começamos a ter informações quantitativas com a necessária massa crítica, tanto em número de infectados quanto de óbitos, para avaliar a evolução e respectiva contenção, onde houve, e assim projetar os efeitos econômicos e sociais nos próximos meses.
Poderíamos trabalhar com vários indicadores, como óbitos ou casos absolutos, mas optamos por concentrar as análises na evolução dos novos casos diários, taxas de isolamento e casos por 100.000 habitantes em países selecionados.
Vejamos a figura abaixo, com países selecionados, que norteia as análises e conclusões:
Estes gráficos, extraídos do Dashboard de 01.06.2020 da Universidade Johns Hopkins, mostram a evolução dos casos diários de países selecionados. Inseri a flecha lilás para indicar o momento de início da quarentena e a flecha preta para mostrar o início da flexibilização das regras.
Podemos concluir que o Brasil teve uma taxa muito menor (que a de outros países) de redução na mobilidade das pessoas.
Os valores indicados em %, mostram a redução de movimento nas estações de transportes obtidas pelo Google, e disponíveis na internet pelo Google Mobility, estimando a média dos meses de abril e maio. Este número, dá a referência da taxa de isolamento que se obteve em cada país. A partir desta informação, já podemos concluir que o Brasil teve uma taxa muito menor de redução na mobilidade das pessoas, entendendo-se que a circulação do coronavírus é inversamente proporcional ao valor, ou seja, a Nova Zelândia entre estes países, teve maior redução de movimentação de pessoas e portanto esperava-se a maior eficácia, o que de fato mostra o gráfico de casos diários.
Porém o Brasil ainda na curva ascendente já começa a flexibilizar ainda mais a atividade econômica.
É comum ver um início forte de casos em um ritmo muito elevado e em seguida também uma rápida estabilização e reversão de curva para queda consistente de casos diários. Porém o Brasil não segue este modelo, iniciou uma curva suave mas sempre crescente por um longo período, e que agora começa a se acelerar rápido.
Dos seis países selecionados, cinco esperaram uma queda consistente nos casos diários para o início da flexibilização, considerando garantir menor risco de contaminação das pessoas e de uma segunda onda. Ainda precisaremos esperar mais para entender a eficácia de longo prazo. Porém o Brasil ainda na curva ascendente já começa a flexibilizar ainda mais a atividade econômica gerando maior interação entre as pessoas e reduzindo as ações de isolamento e distanciamento social. Dará certo para reduzir a quantidade de casos? Quais são os riscos de uma aceleração ainda maior da curva, que leve o país a uma situação sanitária de difícil administração já em curto prazo?
Caso nada se altere significativamente (em 15 dias), o Brasil poderá ter superado (a quantidade de casos por 100.000 habitantes), e o que é muito grave, ainda na curva ascendente, os valores da Itália e Alemanha.
Com base nas taxas atuais de crescimento de cada país, projetei a quantidade de casos para 100.000 habitantes para daqui a 15 dias, a conferir se vão se confirmar. Caso nada se altere significativamente, o Brasil poderá ter superado, e o que é muito grave, ainda na curva ascendente, os valores da Itália e Alemanha, estará no mesmo patamar do Reino Unido e levemente menor que a Espanha. E em 30 dias, poderemos ter um índice de casos por 100.000 habitantes muito superior a todos os países, e ainda com a sub notificação que no Brasil é elevada.
Países que fizeram maiores esforços e contaram com disciplina da população para efetivar o isolamento, parecem estar tendo sucesso e podendo retomar mais rapidamente as atividades econômicas. Sabemos dos problemas econômicos e sociais do Brasil e suas características particulares, porém não vamos aprofundar o tema neste artigo.
Com isso, é possível que o Brasil demore mais que a média dos países para reduzir a quantidade de casos, e consequentemente para voltar a uma situação normal de segurança sanitária, com reflexos econômicos e sociais.
Esperamos sinceramente que estes prognósticos e conclusões não se comprovem e que, mesmo com a flexibilização que vários estados iniciaram hoje, entremos na curva descendente, pois é o que todos precisamos e queremos.
Podemos fazer algumas perguntas e tentar respondê-las:
- Será que o Brasil adotou, até o momento, o melhor caminho para conter a pandemia?
- Está havendo efetivamente uma definição de estratégia na esfera do poder executivo federal através do ministério da saúde, direcionada ao combate da Covid 19, baseada em ciência infectológica, que possibilite orientar as ações dos governos estaduais em desenvolver ações táticas e aos governos municipais implementar as ações operacionais?
- Estamos no momento certo para uma "flexibilização", se é que tivemos em algum momento um isolamento na medida de outros países?
- A filosofia de combate adotada no Brasil, cujo foco abertamente dado pelo executivo federal é priorizar a minimização dos impactos econômicos, entendendo que a pandemia se resolverá de forma definitiva pela imunização de rebanho, realmente resultará em minimizar os impactos econômicos?
- Poderíamos buscar uma forma de criar um modelo de flexibilização seguro, que combinasse ações científicas de saúde que garantissem evitar a saturação do sistema de atendimento, preservação da segurança sanitária da população, com alavancagem das atividades econômicas?
- Em caso de um insucesso do Brasil no combate ao Covid - 19, tomando como referência os resultados obtidos pela média dos demais países e dos benchmarks, como Coreia, Nova Zelândia, Austrália, Áustria, Uruguai, quais serão as consequências políticas e econômicas para o Brasil, no contexto de credibilidade de governança e consequente atração de capitais e investimentos ao longo dos próximos anos?
Nosso objetivo com este artigo não é abrir discussões ideológicas, mas sim, fazer com que o leitor reflita sobre a situação com base em análises científicas e quantitativas, concordando ou discordando, para que possa com isso, planejar suas ações de curto e médio prazo. Sua opinião é muito bem vinda, pois todos precisamos estar unidos para superar a esta situação com sucesso.
Diretor, Grupo IMAM (Supply Chain + Logística + Intralogística / TOC + LEAN + 6 Sigma / Tecnologia / Educação Corporativa) ✨TOP 50✨ Excelência Operacional + Smart Logistics
4 aPerfeito Salzano, não precisamos abrir questões ideológicas... mas, podemos abrir questões educacionais de nossa população, desde os mais humildes, passando pelos “intelectuais”, até o nosso querido presidente? 😩😩😩