Crescimento e performance: as notas são assim tão importantes?
A Escola é extraordinária. Abre janelas para o conhecimento e para o mundo. E, com elas, portas para a diferença e para o pensamento. Garante muito mais igualdade de condições e oportunidades do que aquela que existe lá fora, ajudando a esbater um bocadinho o fosso das desigualdades sociais e económicas. Servirá, no essencial, para ajudar a conhecer o mundo, o outro e a si mesmo. E, por isso e muito mais é, claro, fundamental no crescimento de qualquer criança ou adolescente.
É, neste contexto, natural que se faça das performances dos alunos um indicador importante do que corre bem e de tudo aquilo que precisa de ser repensado. As notas serão, de facto, indícios importantes de bem-estar individual e coletivo das comunidades escolares (e das famílias e comunidades em que estão inseridas). Funcionarão, também, como uma espécie de primeiro barómetro do quão a Escola (e, em última análise, a sociedade no seu todo) está a conseguir abrir janelas de crescimento às gerações mais novas. Já não fará grande sentido – parece-me - empolar a sua relevância, seja para lhes conferir o estatuto de objetivo dos objetivos de qualquer crescimento, seja para lhes dar o papel de selo dos selos de qualidade (ou de falhanço) do desenvolvimento.
Quer isto dizer que tirar boas notas não é importante? De modo nenhum! Significará antes que tão ou mais (!) importante do que alcançar bons resultados escolares é aprender a respeitar o Outro, e a exigir-lhe respeito. É poder amedrontar-se e, ainda assim, entusiasmar-se com o conhecimento de si, do outro e do mundo. É reconhecer que o pensamento, a inteligência e o conhecimento são muito mais processos relacionais do que bafejos de sorte, que presenteiam uma casta de privilegiados: sim, todos (!) pensamos (muito) melhor com quem nos sente, com que nos escuta, com quem pensa connosco. E, (também) por isso, os professores são extraordinariamente importantes! É ter a vivacidade de ir a jogo com tudo (na matemática, nos amores ou no futebol), na convicção de que a hipótese de derrota não desiludirá, de morte, quem realmente importa. É perceber que a forma como se tolera a dor da falha (da negativa ou da desilusão amorosa, por exemplo), e se reage a ela – de modo mais humilde e vigoroso, ou mais sobranceiro e desistente - nunca é independente de quem (no mundo interno, e na vida lá fora) a ajuda a metabolizar. É aprender que, para se acreditar verdadeiramente nas próprias competências, se precisa de quem, por si, acredite primeiro! É aprender a conhecer e a lidar com um corpo que, tantas vezes, se sente mais como uma construção precária do que como uma casa sólida e confortável. É ter as experiências relacionais que permitam construir a convicção de que se é “gostável” (pelos pais, no grupo de amigos, nos amores, pelos professores, etc.), muito para lá das falhas ou dos feitos. É aprender a sentir com o coração inteiro, e a expressá-lo de forma clara.
A ser assim, fará sentido intervir no insucesso escolar? Sem dúvida! Se o tomarmos como um sinal de alarme de que aquela criança ou adolescente se está a desencontrar das suas competências cognitivo-emocionais, sem nunca perder de vista o papel extraordinariamente relevante que podem ter as condições socioeconómicas, o envolvimento e a dinâmica familiar, assim como a própria dinâmica das relações em contexto escolar.