A Criatividade Aplicada
Como uma árvore que resiste ao vento e verte rumo à luz, minha vocação - aquela do latim vocare, do chamado - levou-me a conviver com pessoas criativas, um tanto dissonantes daquelas mais “exatas” ou “biomédicas” que compuseram e compõem minha escola ou minha família. Amo a todos, sem exceção, e muito cedo consegui entender a diferença entre desdenhar e admirar. Escolhi a segunda opção e gosto muito da ideia de aprender com todas as pessoas. Às vezes é difícil abandonar preconceitos; mas isso é sempre necessário.
Nesse meio criativo, maravilhoso por natureza, é fundamental que ego esteja separado de obra. Quantas vezes vi jovens talentos criativos passando, ganhando prêmios, curtindo seu apogeu, mas não sustentando isso que muitas vezes acreditaram ser tudo sorte mas que, no fim, era apenas um diretor de criação organizando - ou usurpando - o talento daquele jovem, abastecendo o ego do novato naquele momento. Leva-se a boa ideia mas e o legado? Esse fica com o diretor, com a organização.
Estamos em um momento de emancipação, onde as agências estão cada vez mais pulverizadas e o talento é ainda mais valorizado. Mas prego que esse talento tenha o distanciamento necessário - a tal da perspectiva - para ter a autocrítica de avaliar se estão também ouvindo os caras de “exatas” e “biomédicas” que eu citei lá em cima. Será que é possível o talento criativo entender, de uma vez por todas, que o que aquele diretor de criação buscava para aquela marca é entender o “espírito” da persona que a consome e, muitas vezes, aquele talento criativo tinha - e tem - muito maior entendimento e proximidade com tal persona do que o próprio diretor? Ou seja, nunca foi sorte, sempre foi a maturidade.
O recado aqui aos novos talentos é um só: qual o problema que precisa ser resolvido? O médico tem uma vida a ser salva, o engenheiro tem um prédio a ser construído, uma marca tem um produto para tirar uma dor de uma pessoa. Entenda o seu comportamento e escreva a peça para ela, com as palavras dela.
Eu costumo dizer que ideia é que nem bumbum, todo mundo tem. Mas ideias que realmente vêm para ajudar o mundo são raras, pois não passam por esse filtro da necessidade do mundo, pela empatia. E entender a raridade da ideia é uma técnica também, que só alguns maturam.
Do que o mundo precisa? Por que não vir de um criativo, de tantas ideias brilhantes, algumas curas?