A criatividade vai acabar com o problema dos caminhoneiros. E com a profissão deles também.
Os caminhoneiros assustaram o Brasil.
No início até tiveram apoio público. E sua paralisação foi vista como catarse da insatisfação nacional. Porém, um medo inegável surgiu na semana que passou. Esse era o papo que eu levava com um preocupado "Uber" :
“Agora, o país vai fazer tudo o que os motoristas de caminhão mandarem?” questinou o motora 5 estrelas, ontem.
Tenho uma resposta: em breve, não. Logo, os senhores da boleia perderão seu poder. Embora eu não acredite em uma mudança estrutural (continuaremos a depender de estradas), aposto que o poder (desmedido?) logo escapará das mãos de quem tem carteira C, D ou E.
Baseio esta visão num conceito clássico da economia, Destruição Criativa. Resumidamente, o austríaco Joseph Schumpeter, nascido no fim do século XIX já dizia que inovações surgem e substituem opções consagradas. Notem, ele não diz, talvez. Simplesmente, afirmava que tudo sempre será substituído por opções mais inovadoras, sempre. É só uma questão de tempo.
Os caminhoneiros também? Sim. Bino, Pedro e todos seus colegas. Nenhum dos entusiasmados fãs da Sula Miranda (duvido que sejam de verdade) escaparão da cruel foice da inovação.
Já se vão dois anos desde a primeira entrega da Uber em seu veículo sem motorista, feita pela então recém-adquirida Otto, que atravessou o Colorado com um caminhão autônomo levando consigo uma carga de cerveja. Foi um teste, com cara de propaganda, é verdade. Mas, provou ao mundo que o projeto não era brincadeira.
De lá para cá, as novidades do setor são muitas.
Mercedes, Volvo, Embark, Waymo (Google) e tantas outras seguem na corrida. Embargos legislatórios, discussões morais, todo tipo de imbróglio entra no jogo. As dificuldades são tantas quanto para o caso do automóvel (percebeu que, pelo nome, um automóvel devia ser autônomo desde o começo?!?). Contudo, os self-driving, avançam.
Como ensinou Schumpeter, a inovação vence. Na lógica do velho austríaco, se a novidade entrega o mesmo benefício, com custo menor e mais eficiência, vai substituir a antiga solução. Um raciocínio de uma elegância invejável, não?
É uma questão de tempo até que o Brasil torne-se uma opção de mercado para veículos autônomos, sejam de passeio, de transporte, pequenos, médios, grandes... seja o que estiverem fabricando. As placas indicativas apontam em uma direção onde caminhões não terão motoristas com jornadas de 20 horas por dia e serão movidos a energia solar - não se fala mais em diesel.
Nesta altura, você deve ter pensado em alguns argumentos que refutam a tese acima. Entendo seu ceticismo. O Brasil é, historicamente, retardatário na corrida pela automatização. Nos EUA, por exemplo, já se vão 5 anos desde que a Oxford Martin School preconizou a substituição de 45% dos empregos por computadores (IAs + robôs), até 2033.
Mas, voltemos ao charmoso (por minha conta) Schumpeter. O professor já avisava, mesmo com a popularização do automóvel, ainda haveriam pessoas que continuariam a usar carroças (elas estão aí até hoje). Mas, o mercado sempre muda radicalmente diante da nova solução e todo sistema passa a ter prazo de validade.
Nenhum piquete vai travar a inovação, se os grandes do mercado querem avançar.
Imagine a disposição de um profissional da boleia quando for chamado a montar piquete à beira da estrada e lembrar que tem um robô querendo tirar o lugar dele.
Faz pouco que passamos por uma revolução parecida. E toda vez que taxistas se organizavam para proibir aplicativos, o número de downloads do Uber duplicava.
Agora, o motorista do Uber me pergunta se são os caminhoneiros que vão dirigir o país.
Eu respondo: - Não. Logo, nem os caminhões eles vão dirigir.
Ele retruca: - Então, quem vai dirigir este país?
Esse caminhão, simpático motora 5 estrelas, me parece um pouco mais desgovernado.
Gerente Comercial da Questor Sistemas S/A
6 aAs mudanças são inevitáveis. Ótimo texto. Parabéns!!!
Mestrando em Ciências da Computação em Internet of Things (IoT) at Universidade Federal do Rio Grande do Sul
6 aTexto muito interessante. Aliás de quem as ilustrações.