Cuidados Perioperatórios em Oncologia sob a ótica do Especialista - Fisioterapeuta
Profissional exemplar e de um propósito gigante pelos nossos pacientes oncológicos, com a qual tive o prazer de trabalhar durante minha jornada na Prevent Senior , a estrela de hoje é a fantástica Débora K. Gomes Candeias . Fisioterapeuta com Especialização Lato Sensu em Oncologia pelo Centro Universitário São Camilo e em Reabilitação Cardio-Pulmonar pelo Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, além de também especialista em Oncologia pela Associacao Brasileira De Fisioterapia Em Oncologia - Abfo / COFFITO - Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional . Atualmente é a Referência Técnica em Fisioterapia Oncológica e Vascular no Núcleo de Reabilitação da Prevent Senior e fisioterapeuta na Clínica Ana Paula Oliveira Santos .
Marcos G. Adriano Jota, MD, TSBCO, TCBC, FACS : Ninguém melhor do que você para abordar esse assunto. Bem vinda! Como conceituar cuidados perioperatórios em Oncologia sob a ótica de uma fisioterapeuta? Cite exemplos de como a sua especialidade pode e deve intervir nesta jornada cirúrgica de cuidado.
Débora K. Gomes Candeias : Cuidado perioperatório se trata de um plano terapêutico que busca potencializar as melhorias nos desfechos pós-operatórios. Dividimos em 3 fases:
1- Pré-habilitação (que ocorre entre o momento do diagnóstico do câncer até a cirurgia) - tem como objetivo avaliar o status performance funcional, detectar e tratar disfunções cinético-funcionais, identificar e reverter fatores vulneráveis como baixa capacidade funcional, perda da massa magra e descondicionamento aeróbio, tendo como objetivo principal melhorar o nível funcional basal.
2- Cuidados hospitalares após a cirurgia - que visa a prevenção de complicações pulmonares, TVP, úlcera de pressão, intervir em sintomas tratáveis pela fisioterapia como dor localizada, fraqueza, hipersecreção, reduzir os danos da síndrome do imobilismo, reduzir tempo de internação, entre outros.
3- Reabilitação pós-operatória, buscando restabelecer o nível funcional basal, identificar as disfunções e complicações e restaurar a capacidade física dos pacientes para que eles retornem, com qualidade de vida, à realidade em que se inserem.
Marcos G. Adriano Jota, MD, TSBCO, TCBC, FACS : Essa visão global "cirurgicamente" pontuada por você, semelhante a um drone, possibilita enxergar toda a jornada cirúrgica da equipe de fisioterapia desde o diagnóstico oncológico até após a alta. É fato que essa linha de cuidado que você explicou apresenta algum grau de interseção com o restante da equipe de saúde. Como a colaboração entre as diferentes especialidades da equipe de saúde impacta no plano de tratamento perioperatório e nos resultados após cirurgias oncológicas?
Débora K. Gomes Candeias : Gosto da comparação dos cuidados perioperatórios oncológicos a uma corrida de fórmula 1. Precisamos preparar o paciente em um curto espaço de tempo, melhorando sua taxa basal para que tenha uma boa performance durante o processo cirúrgico e, posteriormente, uma recuperação pós-operatória acelerada, para que continue os demais tratamento oncológicos que forem necessários, assim como retornar a sua rotina habitual. Desta forma, reconheço que a fisioterapia sozinha não é capaz de manter os cuidados integrais ao paciente, tendo em vista a necessidade de manter a equipe multi, inter, transdiciplinar inserida nesse contexto. É necessária uma atuação conjunta entre médico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, enfermeiro, psicólogo e farmacêutico na busca por soluções efetivas no cuidado do paciente. Um exemplo interessante é o nosso trabalho junto com a equipe de nutrição. Muitos pacientes já apresentam risco nutricional no momento do diagnóstico, tais como a desnutrição e a sarcopenia. Para que a reserva muscular e cardiovascular seja possível, é necessário uma adequada intervenção nutricional com suplementação em conjunto com o exercício físico que é prescrito pelo fisioterapeuta especializado.
Marcos G. Adriano Jota, MD, TSBCO, TCBC, FACS : E dentro do cenário dessa atuação conjunta transdisciplinar citado, na busca por soluções efetivas na jornada de cuidados perioperatórios, quais são os principais desafios que os Fisioterapeutas enfrentam e como você acredita que podemos superar essas dificuldades?
Débora K. Gomes Candeias : Acredito que uma das principais lacunas é o encaminhamento tardio à reabilitação, muitos profissionais desconhecem o trabalho da fisioterapia oncológica fora do contexto hospitalar, ainda mais quanto à atuação pré-operatória. Muitas vezes a necessidade de fisioterapia pré-operatória é subestimada, ou mesmo negligenciada, e o paciente só é encaminhado para reabilitação em busca de tratar ou minimizar disfunções já instaladas, apresentando impacto negativo na capacidade funcional e qualidade de vida. Diante de tantas evidências na literatura quanto a importância dos cuidados centrado no paciente, é emergente a necessidade dos serviços de saúde criarem planos terapêuticos perioperatório, buscando identificar todas as necessidades relacionadas a manutenção e melhora da saúde do paciente oncológico, assim como a construir equipes de saúde (multi, inter, transdisciplinar) que tenham comunicação transparente, comprometimento, cooperação e dedicação conjunta com foco no paciente.
Marcos G. Adriano Jota, MD, TSBCO, TCBC, FACS : Você está coberta de razão. Faz-se necessário uma política institucional de conscientização e educação continuada sobre a importância da avaliação com fisioterapeuta ao diagnóstico para todo paciente oncológico ou, pelo menos, algum mecanismo de triagem funcional e de fragilidade com o intuito de selecionar aqueles pacientes que mais serão beneficiados com as intervenções de cuidado da equipe de fisioterapia. Precisamos desenhar jornadas de cuidado com foco no paciente e, aproveitando o ensejo, como você avalia a importância da experiência do paciente dentro do contexto dos cuidados perioperatórios em Oncologia e de que maneira isso influencia sua abordagem clínica?
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Débora K. Gomes Candeias : Essa é uma preocupação que trago para minha prática clínica diariamente, afinal o paciente experimenta uma série de sentimentos desde o pré-diagnóstico, no processo de exames até o pós-operatório, quando retorna para sua casa. Quanto melhor for desenhado a linha de cuidado e respeitado o processo junto a uma equipe motivada e envolvida com foco no paciente, melhor será a experiência dele ao longo da jornada. A ideia é que mesmo em um momento crítico e de fragilidade de sua saúde, o paciente tenha uma boa experiência nesse contato com toda a equipe e serviços. Devemos levar em consideração que a experiência do paciente é aquela que faz com que ele participe das decisões acerca do seu cuidado, com base nas suas necessidades. Um paciente bem informado com todas as informações necessárias é capaz de optar pelo melhor tratamento, dentro daquilo que faz mais sentido para a sua realidade e seus aspectos familiares, sociais, físicos, emocionais e espirituais. Quando se fala em fisioterapia, temos que pensar principalmente em evitar e/ou minimizar eventos indesejáveis durante a jornada perioperatória. Desta forma, minha abordagem clínica se baseia em três pilares: evidência clínica, experiência clínica e valores e expectativas do paciente. No contexto oncológico, acredito na importância de manter o paciente engajado e no centro de todos os processos da sua jornada de cuidado, criando uma relação de parceria, educando esse paciente recém-diagnosticado com câncer a uma melhor aderência ao tratamento, gerando possíveis efeitos positivos nos desfechos de sua saúde.
Marcos G. Adriano Jota, MD, TSBCO, TCBC, FACS : Maravilhosa colocação. Eu sou testemunha e vivi na prática esse seu excelente acolhimento com nossos pacientes oncológicos. Para finalizar, deixo agora o espaço livre para as suas considerações finais.
Débora K. Gomes Candeias : Primeiramente, gostaria de agradecer ao convite. Amei responder a suas perguntas, fico feliz em saber que o Doutor, como médico, tenha interesse em conhecer mais o papel do Fisioterapeuta no contexto dos cuidados perioperatórios. Quanto mais profissionais da equipe de saúde conhecerem o nosso trabalho, melhor serão os desfechos ao protagonista dessa linha de cuidados, que é o paciente oncológico. Temos evidência na literatura que fisioterapia em oncologia contribui na redução da mortalidade e no aumento da sobrevida, uma vez que auxilia na redução das complicações e favorece a adesão do paciente ao tratamento oncológico como um todo, além de impactar na melhora da qualidade de vida em todos os domínios de função e sintomas. Mas para alcançarmos esses resultados, é importante garantir aos pacientes ao acesso à fisioterapia a partir do diagnóstico e durante todas as etapas do tratamento.
Marcos G. Adriano Jota, MD, TSBCO, TCBC, FACS : A satisfação foi toda minha em receber você e, sem sombra de dúvidas, seu posicionamento e respostas ajudarão nosso leitores a entender, de uma vez por todas, o papel crucial da fisioterapia nos cuidados perioperatórios. Muito obrigado Débora K. Gomes Candeias . Que o futuro reserve mais uma chance para dividirmos os mesmos pacientes com o mesmo propósito de acolhimento e cuidado ao paciente oncológico. Nós podemos fazer, juntos, mais e melhor, sempre!
Até a próxima meus amigos.
Marcos G. Adriano Jota, MD, TSBCO, TCBC
CREMESP 147737 / RQE 40999
Surgical Oncology, São Paulo (Brazil)
Brazilian Society of Surgical Oncology (BSSO) - National Director
Advogada | Controladoria Jurídica | Controller
9 mSensacional 👏🏻