Culpa e autocrítica
E quando nossos heróis e heroínas morrem somos convidados a nos lamentar. Mas a lamentação não é um sentimento necessariamente ruim, só não podemos parar nesse ponto. Precisamos, com o tempo, fazer florescer no solo árido das lamentações as boas lembranças, as grandes lições e a atitude positiva que aprendemos com as pessoas importantes e amadas que se foram. Pois é exatamente como elas reagiriam, ou é como elas gostariam que ficássemos: positivos e serenos.
É na perda, nessa ruptura implacável, neste momento confuso e de emoções violentas que seremos convidados a nos culpar, a nos arrepender e a criar soluções alternativas “muito eficazes” para os infortúnios do passado. Nos sentiremos culpados porque idealizaremos que poderíamos ter feito um pouco mais em quase todas as situações por aquela pessoa que se foi. Poderíamos tê-la protegido mais, tê-la orientado melhor, ter insistido, ter estado mais com essa pessoa, com mais afeto e amor.
Pensaremos que poderíamos ter sido mais perfeccionistas com as ameaças e com os desafios. Até poderemos polarizar suspeitando que a pessoa teria ficado melhor se não tivéssemos existido em sua vida ou se tivéssemos existido só para ela. Mas, quase que de forma masoquista, nos esqueceremos de supor que poderiam também ter havido cenários muito piores se não estivéssemos ali, como estivemos.
Agora que os fatos estão postos é fácil cometer a injustiça, com nós mesmos, de viajar ao passado e propor uma estratégia diferente. Mais fácil ainda é acreditar que a alternativa seria eficiente, pois jamais poderemos colocá-la a prova para testar nossa hipótese.
Sim, principalmente nesse início confuso da perda, nos arrependeremos de não termos feito um pouco mais. Mas eu estou certo do que acontece. As pessoas mais próximas e que amam são aquelas que fazem tudo o que podem - e geralmente são as que mais se cobram. Elas dão o seu melhor. E quem se foi sabe disso. Se você é essa pessoa, então que você venha reconhecer o mérito próprio de ter dado o seu melhor. Pois isso é tudo o que você pode exigir de si mesmo(a).
(continua)