Currículos que odeio!

Recebo e analiso currículos diariamente e admito que, além da dificuldade normal da tarefa de decidir quem chamar para uma entrevista, me impressiona muito como os profissionais se apresentam. Algumas vezes fico com a certeza de que o candidato que mandou aquele currículo não quer ser chamado. Está apenas cumprindo o dever que alguém impõe de mandar o currículo, ou só pra poder lamentar (mentir para si mesmo) “mandei vários currículos, mas ninguém me chama!”

Algumas coisas são ruins para quem seleciona, mas eu até entendo. Por exemplo, recebo muitos currículos que não tem relação alguma com a vaga aberta. Diria que estes são sempre uns 30%. Beleza! Nestes eu aperto o delete e ok. Se eu estivesse desempregado, mandaria meu currículo até para o draft da NBA! Mas mandaria o meu currículo com cuidado, e não uma fantasia criada por mim ou sem várias revisões.  

Mas tem currículos que são inadmissíveis.

O mais comum na minha área (arquitetura e engenharia) é o “profissional” que nunca trabalhou, mas tem a pretensão de ser Gerente “alguma coisa”. Caros, pra liderar uma equipe, ou gerenciar uma tarefa, tem que ter trabalhado no “chão da fábrica”. Pra ser gerente de projetos, precisa ter desenhado uma planta baixa, ter feito especificações. Você pode entrar para uma empresa e por uma qualidade natural acabar virando um líder e ser promovido, mas pra começar, por favor, tenham a pretensão de ser arquiteto ou engenheiro. Nem estou falando no famoso “começar por baixo”. Você pode ser arquiteto de uma grande obra e ganhar muito dinheiro com isso. Pela minha experiência, a maioria das pessoas que mandam currículo com a pretensão de gerente sem nunca ter trabalhado são aquelas que não saberiam me responder qual o melhor piso para determinado local, ou como especificar a armadura de uma viga, e acham (muito erradamente) que gerenciar é mais fácil pois sabem usar o MS Project.

Aliás, esse é outro currículo muito comum: o “profissional” que sabe tudo de um software e acha que sabe tudo da profissão. Essa competência é até básica para escritórios já bem estruturados. Eu preciso me policiar para lembrar de garantir nas entrevistas que o candidato sabe desenhar em CAD, pois considero tão básico que é possível que nem pergunte. Excel e Word eu me recuso a perguntar! Mas ser professor de CAD em um curso técnico não garante que você seja engenheiro. Coloquem isso no currículo, mas garanta que as suas competências de engenheiro ou arquiteto aparecem no currículo.

Tem também o “profissional” com uma vida acadêmica muito grande, mas que nunca trabalhou e se candidata a qualquer vaga. Juro, já recebi currículo de pessoa com pós-graduação no exterior para estagio! No início eu ficava intrigado com a quantidade de currículos com MBA e pós-graduação que recebíamos, mas acabei me convencendo que na situação que vivemos, (mais escolas superiores, facilidades de acesso a esses cursos e jovens que entram no mercado de trabalho mais tarde) currículo com essas características serão cada vez mais comuns. Como estes títulos não garantem mais que um candidato atenderá a demanda, apresente isso da forma correta, como formação, e não como experiência.

Acredito que em outras áreas acontecem as mesmas coisas.

E existem os currículos que me irritam!

Vamos ser sinceros, quem manda currículo com erro de português grotesco, não quer trabalhar. Nem leram o que foi escrito!

Os sites com banco de currículos normalmente têm um formulário para o candidato preencher montando com as informações um currículo, mas tem “profissionais” que não preenchem ou escrevem coisas que não tem relação alguma com a pergunta! Por quê? Se o enunciado é “comente sua experiência”, qual o objetivo em responder “sim”?

Agregado a estes, tem aqueles que não consigo saber onde o candidato está. Nossa empresa atende boa parte do Brasil, e recebo currículo que não tem a informação de onde o candidato mora. Ou não tem um telefone, ou e-mail! Já fiquei com um currículo na mão sem saber como chamar.

E os piores são os currículos com mentiras. Tenho uma piada interna no escritório: “Recebi mais um currículo do cara que tem inglês avançado, mas escreveu Fotochop!” Uma vez recebi um currículo de uma engenheira com experiencia de 10 anos com cálculos estruturais, mas isso não batia com sua data de formatura. Mas tudo bem! Ela poderia ter estagiado bastante (apesar de não citar no currículo), então liguei pra ela. Depois de uma conversa em que ela me citou vários softwares de cálculo estrutural sem eu ter perguntado sobre isso, comentei sobre os 10 anos de experiência e ela me disse que nunca tinha trabalhado nisso, mas que sempre trabalhou em empresas que faziam isso. Ela era secretária de uma construtora e acabara de se formar em engenharia. Era só informar isso no currículo, talvez conseguisse vaga mais rápido! Não façam isso, por favor.

Termino pedindo:

1.      Não escrevam mentiras no currículo. Você só vai perder tempo. Vai viver sendo chamado para entrevistas, mas não para trabalhar. Se for chamado para trabalhar, vai ser demitido logo.

2.      Coloquem todas as informações necessárias e pertinentes. Se a vaga é clara, foquem nela.

3.      Coloquem todos os contatos. Colocar o RG e CPF não garante que o contratante vai te achar!

4.      Entenda a fase profissional que você está. Pense grande, mas suba um degrau de cada vez! Se você está começando, mande currículos para começar. Vai se recolocar? Apresente realmente o que você já fez e procure alguma coisa similar. Está na hora de subir mais um degrau? Parabéns! Mostre isso no currículo!

Se você cometeu os erros acima, ou algum deles, e foi chamado para trabalhar, cuidado! Talvez essa empresa não seja boa. Neste caso, sua carreira está contando com a sorte!

Obrigado por ler até o fim, isso indica que possivelmente eu leria o seu currículo!

Gilson Cabalheiro

Diretor Executivo na Cabalheiro Consultores

4 a

Parabéns Diego, você retratou a mais pura realidade de quem precisa lidar com a análise de currículos, os candidatos esquecem que o primeiro contato dele com a empresa é através do seu currículo, é um currículo bem construído (claro e realista) que vai servir de passaporte para a tão desejada oportunidade de conseguir uma entrevista.

Ana Lúcia Machry

Psicopedagoga Clínica Terapêutica e institucional - Pedagoga

4 a

Ótimo texto amor! Segue valendo até os dias de hoje...

Diego, muito boa a publicação.

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