Da Era Digital à Sustentabilidade

Do Conforto à Consciência

A era digital nos seduziu com a promessa de um mundo mais conveniente. Com um simples clique, podemos comprar produtos, pagar contas e comunicar-nos com pessoas de todo o mundo. Nossa vida, em muitos aspectos, tornou-se mais fácil, mais eficiente e mais conectada. E-mails substituíram cartas, lojas online tomaram o lugar de centros comerciais, e pagamentos digitais passaram a ser a norma. A velocidade com que nos adaptamos e adotamos essas mudanças foi impressionante. A revolução digital trouxe um nível de conforto sem precedentes. 

Em contraste, à primeira vista, uma transição para práticas mais sustentáveis parece exigir mais de nós. Enquanto a era digital nos permitiu permanecer em nossos sofás para realizar tarefas que anteriormente exigiam exercício físico, a era da sustentabilidade nos pede para levantar, sair e fazer um esforço adicional. Isso pode significar carregar nossa própria sacola reutilizável, caminhar até um ponto de coleta de resíduos recicláveis ou passar um tempo adicional pesquisando o nível de maturidade ESG de produtos e empresas. 

Não podemos esquecer que todo esse bônus da era digital, nos trouxe ônus, como por exemplo, os smartphones que transformaram nossas vidas em menos de duas décadas. Em todo o planeta, mais de 5,1 bilhões de pessoas usam algum tipo de aparelho celular, o que representa 67% da população mundial, segundo relatório da GSMA. Só no Brasil, há mais aparelhos do que habitantes. E isso deve nos levar a refletir sobre duas questões: Em primeiro lugar, sobre o descarte destes resíduos eletrônicos quando nossos aparelhos já não nos servirem mais. E em segundo, se fomos capazes de aprender a usar, em tempo recorde, uma ferramenta tão complexa, certamente podemos aprender a utilizar aplicativos que nos ajudem a encontrar pontos de coleta para este e outros resíduos, rastrear e reduzir nossa pegada de carbono ou nos informar sobre iniciativas individuais e coletivas que podemos adotar para melhorar nosso nível de maturidade. 

No entanto, é fundamental considerar que, embora a era da sustentabilidade possa parecer exigir mais esforço imediato, ela responde a uma necessidade muito mais profunda e urgente. Não é apenas uma questão de conveniência ou conforto, mas de sobrevivência. Estamos lidando com um planeta em crise, onde cada ação consciente conta. A era da sustentabilidade, embora possa parecer mais trabalhosa, é impulsionada pela necessidade de preservar nosso planeta, já não mais, para as gerações futuras, como os discursos ambientalistas costumavam ser. Mas para a nossa própria, pelos recursos naturais que precisamos para sobreviver, pela segurança fortemente abalada pelos desastres climáticos que estamos enfrentando e pelo próprio ar que respiramos. 

Por que não unirmos o melhor das duas eras? Já que na era digital tornou-se hábito o uso de redes sociais para expressar opiniões, se informar ou trabalhar, por que não usá-la também para avaliar produtos, serviços ou cobrar ações políticas? A mesma energia que dedicamos a expressar nossas opiniões online pode ser canalizada para exigências de políticas ambientais mais rigorosas e práticas empresariais sustentáveis. 

E, da mesma forma que a era digital nos trouxe ferramentas que nem sabíamos que precisávamos, a era da sustentabilidade pode trazer benefícios inesperados. O esforço adicional para praticar a sustentabilidade pode nos conectar mais profundamente às nossas comunidades, ao meio ambiente e ao nosso próprio sentido de propósito. 

Nunca foi tão fácil acessar informações e aprender novas habilidades quanto na era digital. Da mesma forma que muitos de nós buscamos tutoriais online para usar um novo software ou dispositivo, por que não buscamos conhecimento sobre práticas sustentáveis, descarte correto de resíduos, reciclagem ou o impacto ambiental dos produtos que consumimos? 

O que a era digital nos mostrou é que somos extremamente adaptáveis. As mudanças que enfrentamos na transição para uma sociedade mais sustentável são, em muitos aspectos, semelhantes às que enfrentamos na revolução digital: requerem uma mudança de mentalidade, uma vontade de aprender e a determinação de se adaptar. 

A pandemia de COVID-19 pegou o mundo de surpresa, e muitos de nós nos sentimos impotentes diante de sua rápida propagação, sem a capacidade de mitigar os riscos ou minimizar os erros iniciais. No entanto, enquanto a crise sanitária nos mostrou a nossa vulnerabilidade, ela também revelou a nossa resiliência e capacidade de adaptação. Agora, com as questões ambientais emergentes como uma crise global iminente, temos a vantagem da previsão e a oportunidade de agir. Temos a chance de unir esforços, colaborar e trabalhar proativamente para mitigar riscos e reparar danos. A lição da pandemia é clara: o futuro é moldado pelas ações que tomamos hoje. E juntos, temos o poder e a responsabilidade de moldar um futuro mais verde, justo e sustentável para todos.