Da Fotografia (II) Fotografia=a Arte?
Com o advento da fotografia digital muitos dos paradigmas da fotografia foram subvertidos. Confesso que tive algum pejo em aderir à fotografia digital…
Além da fotografia digital ser mais simples de manipular, a existência de um meio onde é fácil e barato armazenar imagens, transformar e gerir imagens, a internet, tornou o acto de obter imagens muito mais acessível, barato e popular. Actualmente, basta possui um simples telefone para poder fotografar.
Esta nova realidade veio tornar presente uma questão antiga: a fotografia é uma arte ou um processo de documentar e guardar “momentos”? A minha opinião, abundantemente expressa, é de que fotografar não é somente ter um meio que permita registar imagens e produzi-las e arquivá-las. A fotografia está na cabeça e nos olhos de quem é fotógrafo. Independentemente do “meio” e do “suporte”. A fotografia é uma interpretação da realidade, não uma mera cópia.
Embora reconheça que há fotografia documental (que pode ser mais ou menos “artística”) “fotografia”, para mim, é um meio de expressão artística. No seguimento destes posts, vou ter oportunidade de desenvolver o tema, para quem tiver paciência de ler.
Desde que, em 1990, a Kodak lançou a primeira câmera digital comercialmente disponível (DCS 100) que se iniciou a viragem embora o custo alto do equipamento, na altura, tenha dificultado a sua rápida divulgação.
A incorporação de câmara (ou câmeras) fotográfica em diversos equipamentos electrónicos, com especial incidência nos chamados “smartphones”, integrados com os processos informáticos, democratizou o uso da imagem fotográfica, facilitou a prática da fotografia a quem tenha um equipamento, um olho e um dedo.
Um sensor digital CCD/CMOS que transforma a luz em um mapa de impulsos eléctricos, que serão armazenados como informação em um cartão digital de armazenamento e que pode ser reutilizado ao infinito, tornou barato o processo por não necessitar de película, revelações e outros processos morosos e caros.
Assim sendo, a generalidade das pessoas pensa que para fazer uma fotografia basta… apertar o disparador! E ver de imediato. Se achar que não está bem…aperta outra vez o disparador!
Um fotógrafo deve recriar a realidade externa através da realidade estética. A fotografia “está” no olho do fotógrafo. Na sensibilidade que este deve ter de interpretar a realidade e encontrar o momento certo para a ”fixar”. O fotograma deve ser um momento único, singular, que vale a pena eternizar.
A fotografia exprime a visão que o fotógrafo tem do mundo. Depois, a partir do momento em que a fotografia “sai”, quem a vê acrescenta-lhe o seu sentido e sentimento. Cada observador recria a imagem fixada pelo artista.
Roland Barthes afirmava que muita gente não considerava a fotografia como uma arte porque podia ser facilmente produzida e reproduzida.
Não subordino a Arte à velocidade com que é produzida e quanto à possibilidade de reprodução, basta pensar nos múltiplos em arte (serigrafias, gravuras, etc.).
A fotografia anterior ao digital tinha tanto de ciência como de arte, Mas disso irei falar noutro post.
A arte está na intenção com que o fotógrafo faz a fotografia e a sua capacidade de “contar uma história” através de uma série de símbolos que o artista organiza, utilizando uma “gramática visual”, quando escolhe o ângulo e compõe a imagem, trabalha a luz e o enquadramento, utiliza o seu sentido de oportunidade e o sentido estético. A imagem produzida destina-se a perpetuar o momento e a provocar sentimentos no observador que é livre de “completar” a imagem com o seu próprio reportório de símbolos.
E por aqui fico, hoje.