Decolonização, Consciência de Classe e o Futuro Político do Brasil
Sempre fui fascinada pelo contexto político, porque para mim, é inconteste o peso das decisões políticas no intercurso histórico do fazer mundo. Tanto para o bem, quanto para o mal. Desde pequena, nos bastidores, quietinha, me desafiava(desafio) a acompanhar e mais, a compreender as nuances, as tendências, as conjunturas.
Sou uma trabalhadora, filha de trabalhadores, e, a partir desse lugar, fui desenvolvendo algo que para mim, é inegociável: consciência de classe.
As escolhas que fiz na vida, tem muito a ver com o “Como” eu sinto o mundo, a partir do lugar de onde venho. Inclusive, as escolhas sobre em quem votar. E isso é só uma parte do que eu entendo que seja a política. Uma parte importante, é claro, mas uma parte.
Neste ano, temos eleições. E eu estou me preparando para votar. Como? Estudando.
Sim, estudando, porque eu lembro, lembro de coisas ruins que eu vivi e que eu não vivi. E eu temo. E qualquer pessoa que se dedique a estudar um pouco, e refletir sobre a conjuntura política dos últimos 10 anos, também compreenderá que a democracia brasileira tem sido uma dança frágil sobre um fio tênue, ecoando um fenômeno global de erosão democrática que nos faz questionar a solidez de nossas instituições e o rumo de nossa governança.
E isso é inquietante para mim. Por isso, eu estudo. Porque eu quero uma forma de ver com mais nitidez. Pois sei das armadilhas das narrativas ideológicas que sustentam os políticos e que os levam ao poder. Se desvencilhar disso, é bem difícil.
Debruço-me agora, no livro "Como as Democracias Morrem", Steven Levitsky e Daniel Ziblatt. Estes autores nos oferecem uma análise inquietante e reveladora: líderes eleitos, com sorrisos e promessas, podem gradualmente corroer as fundações democráticas. Eles nos alertam sobre os perigos sutis convertidos em estratégias dos demagogos “pós-modernos”, para poderem chegar ao poder, pelas próprias regras do jogo democrático. E quando lá, convertem-se nos principais inimigos do contrato social.
Ao lado dessa análise, o pensamento decolonial emerge como um sopro de ar fresco, uma crítica feroz às narrativas dominantes que perpetuam estruturas de poder, ainda, coloniais. No Brasil, onde as desigualdades são profundas e enraizadas, essa perspectiva é não apenas bem-vinda, mas necessária.
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Ademais, a crise climática, talvez o desafio mais urgente de nosso tempo, nos desafia a superar os paradigmas hegemônicos, e construir um mundo onde a sustentabilidade da vida humana, a vida de todos os humanos, seja uma prioridade. E isso é pensar o Planeta como a fonte dessa vida.
Por isso, entendo a necessidade de reivindicarmos políticos intelectualmente engajados. Não tenho dúvidas de que as transformações necessárias e importantes, serão resultados de uma práxis coletiva, profunda e situada.
Estou cansada de ver a democracia e a política sendo protagonizadas por indivíduos tão despreparados, tão desconectados com as necessidades reais do território em que habitam.
Engels escreveu seu clássico “A situação da classe trabalhadora na Inglaterra”, com 24 anos. Isso mesmo, 24 anos. Depois de 21 meses, sentindo o que sentia um trabalhador britânico no século XIX. Um sentir orientando, epistemologicamente estruturado.
Precisamos disso. Precisamos de líderes que sintam, e reflitam sobre o seu sentir, a partir de ontologias e epistemologias que elevem as suas consciências, e que lhes oportunizem a virtude.
Ah, meus amigos e minhas amigas, eu creio, creio em uma política virtuosa! Essa é, para mim, a verdadeira democracia.
Janaina Marchi.