Degustando textos

Degustando textos

Escrever é mais complicado do que parece. Não digo isso pela gramática complexa e extraordinária probabilidade que a língua portuguesa nos dá para formular sentenças. Escrever é difícil porque toda sua essência está desnuda para que qualquer um possa desfrutá-la. A carne é deixada em segundo plano. As mãos que viram as páginas são os talheres daqueles que degustam faminta leitura.

Num aglomerado de criatividade que exala de variáveis maneiras dentro da cabeça do escritor, existe, lá no fundo, o medo do julgamento. Observe: o medo é diferente da covardia. O covarde tem medo e se esconde atrás dele. Não publica suas obras, deixa sua chama se apagar pelo primeiro que passar e assoprar. Já o bem-sucedido sabe que o medo tem contrato vitalício com o sucesso. O medo será sua motivação. É o primeiro passo antes da inovação. A ousadia não deve ser apagada na primeira tentativa frustrada. O frio na barriga só passa quando você se expor e sua ideia for aceita. Só aí saberá as consequências do seu potencial.

Por muito tempo tive certa vergonha de publicar alguns textos. Podando minha mente criativa, a frustração chegou sem aviso prévio. É que ninguém fala o que você tem que fazer, afinal, só você viveu suas experiências e questionamentos.

Num momento de total incomodo e estagnação, resolvi virar o jogo. Naquela época, que não foi há muito tempo atrás, via-me tão conformado com meu estilo de vida que não almejava muita coisa. Acreditando na lenda do “deixa a vida me levar”, acabei me deixando levar por uma correnteza de incertezas para longe da terra firme.

Me vi sem emprego e sem estudo. Sabia que minha saúde mental não estava lá essas coisas, como se estivesse numa eterna procura do que fazer sem saber o que, de fato, fazer. Ainda borbulhando ideias, me questionava em como tinha chegado ali e o que fazer para sair. Como farei para lucrar com esse conhecimento? A arte não delimita preço. A arte não dá dinheiro. A liberdade faz surgir as mais belas obras. Toda liberdade é rebelde. Então a rebeldia não serve para ganhar dinheiro?

Sempre fui adepto do esporte desde moleque. E foi no esporte que me tratei. Se minha mente não estava sã, meu corpo teria que estar são pelo menos. E foi assim que dei fim na estagnação.

Me sentindo bem com meu corpo, aos poucos vislumbrei milhões de opções que a área da comunicação podia me dar. Entrei num curso técnico público de Rádio e Televisão e lá dei de cara não apenas com as matérias, mas com uma realidade da qual havia tempo que não convivia.

É incrível como a gente tenta se manter a todo momento fora da caixa e, quando saímos de conceitos pré-estabelecidos e do nosso ambiente comum, vemos o quanto podemos ser mais empáticos com o próximo e o quanto isso agrega pessoalmente e profissionalmente.

Oportunidades foram naturalmente surgindo e as agarrei. Voltei a trabalhar na TV. O ambiente de trabalho era ótimo, fiz amigos por lá, assim como em qualquer lugar. Porém, vi me assombrar novamente um velho fantasma. Em todos os empregos anteriores, chegava com total empenho, mas, com o passar do tempo, via que aquilo não era pra mim.

A culpa recaía novamente sobre meus ombros. Meu pensamento já flutuava para outros lugares fora dali. Estava presente, porém, me perguntava por que aquele lugar já não me fazia mais feliz.

A resposta não poderia ser mais clara e eu sabia que isso ia acontecer desde o início. É como entrar em um relacionamento sem acreditar no amor. Não estava exercendo minha criatividade de fato. Trabalhava com pessoas excepcionais, aprendi muito, mas, como nos outros empregos, minhas ideias se acumulavam. A falta de projeção profissional me agoniava, principalmente por não ser aproveitado com toda minha potencialidade. Novamente me via no lugar errado. Sem paixão. Sem ânimo.

O filme se repetia. A ansiedade subia. Fazendo de tudo para controlar a sanidade e não chutar tudo pelos ares. Acumulando desejos, pressionado por regras, limitado por quem nem sabe quem eu sou. E foi por conta disso que tudo melhorou.

No centro da boemia da cidade de Vitória eu me encontrava. Amenizando o estresse, aliviando a pressão. Ouvindo música boa na rua e uma loira gelada na mão. Num ambiente totalmente improvável, encontrei um velho amigo que havia perdido contato, que fora próximo no início da juventude. ‘Como vai a vida?’ ‘O que cê tá fazendo?’ ‘É mesmo? Anima de passar lá na empresa?’. E foi assim. Sem perspectiva surgiu o convite para trabalhar no lugar onde minha liberdade criativa é aproveitada e respeitada na potência máxima.

É irracional o desejo de pensar em melhorar. De polir o conhecimento. De ser melhor todos os dias. De fazer dinheiro e aproveitar esse dinheiro para realizar os meus desejos, os meus anseios. Encontrar uma empresa da qual me ajuda a ser melhor, aprender, fazer o que gosto, só aumenta minha produtividade. As horas passam rápido. O céu muda de cor enquanto estou criando. As relações ficam melhores com o bom humor das metas batidas.

O medo ainda é meu companheiro diário em cada texto, todos os meses em que a produção é demasiada. E vai ser assim sempre! Mas eu gosto. Gosto do gosto. Degusto do sucesso com garfo e faca, assim como gosto quando degustam do que escrevo.

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