Demissões humanizadas não existem em empresas DESumanas. Não se iluda.

A quantidade de layoffs vêm aumentando todos os meses, e um dos temas do momento é a demissão humanizada. A forma como as pessoas vêm saindo das empresas, seja nas demissões coletivas ou mesmo isoladas, vêm abrindo o debate sobre a forma e o conteúdo de como elas ocorrem. E diante de tantos casos de rompimentos de vínculos agressivos, com pouca empatia ou mesmo cercadas de crueldade, o tema vem provocando líderes e RHs a se posicionarem. Então, vamos lá.

Antes de mais nada é importante assumir que o processo de demissão dificilmente será prazeroso.

A maior parte dos líderes e até mesmo os RHs têm dificuldade imensa em conduzir esse processo. Além disso, nossa cultura assemelha o fim do ciclo de trabalho ao fim do ciclo da vida biológica. Para nós, é (quase) tudo a mesma coisa. É o luto, a perda, a dor.

Quem demite tem medo de levar bronca do demissionário na frente do RH. O RH têm medo do funcionário começar a chorar. E líder e RH tem medo do funcionário se tornar agressivo e sair distribuindo tabefes.

O funcionário também tem seu medo de não saber lidar com as emoções do momento. Tem medo de não receber seus direitos, de não poder retirar seu porta-retrato da mesa de trabalho ou de se despedir dos colegas. Tem medo de virar piada ou de passar vergonha.

Todos os envolvidos ficam desconfortáveis.

Então, paremos de romantizar as mensagens do tal: "acabou meu ciclo nesta empresa". A minoria sai sorrindo. E sabemos que nas redes sociais há uma dificuldade enorme de assumirmos os tombos da vida. Por isso, sempre desconfio de quem tenta transformar a demissão em uma experiência agradável.

Outro aspecto a ser comentado é sobre a falta de humanidade dos gestores no processo demissional. Mas não nos iludamos.

Ora, a empresa ou o gestor nunca deu feedback, tem uma quantidade enorme de reclamações no Reclame Aqui e uma infinidade de ações trabalhistas. Neste cenário, você realmente acha que sua companhia deixaria passar esse momento em branco?

Acha que na última oportunidade de interação com o colaborador conseguiriam demonstrar aquela atitude humanizada que não acreditam? Empresas desumanas nas rotinas de trabalho promovem demissões desumanas. E isso não deveria surpreender ninguém.

É fácil falar em demissões humanizadas nas empresas inspiradoras. Mas as empresas inspiradoras têm grande chance de já aplicarem demissões humanizadas. Com líderes que demonstram sua preocupação com o colaborador em todo o ciclo de gestão de pessoas.

Ser genuíno na última etapa do ciclo é muito mais fácil para empresas que valorizam e acreditam na Humanocracia. Agora tente amolecer aquele líder egoísta e despreparado, que nunca deu bom dia, nunca dedicou tempo de sua agenda para formar pessoas e nunca compartilhou conhecimento a demonstrar humanidade. Não vai rolar!

Portanto, amigos colaboradores, para não se iludirem no momento mais duro do ciclo de gestão de pessoas, avalie hoje, diante de tudo o que você vem vivendo e observando na sua empresa. Como será sua demissão? Não sejamos mais realistas que o Rei.

Alberto Roitman - Chief Chaotic Officer na Escola do Caos e Armazém. Autor dos Livros: Adeus mundo VUCA - Bem vindo mundo BANI. Podcaster no Caos Corporativo (Spotify).