A democratização da leitura

A democratização da leitura

Inegavelmente, o período de alfabetização é parte preponderante no processo de desenvolvimento do hábito da leitura. Ao descobrirmos as letras, a sensação é de que entramos em um novo universo léxico visual, onde o alfabeto se torna um motivo de inspiração e suas respectivas combinações um processo evolutivo estimulante e interminável. Um processo que contribui para o desenvolvimento da criatividade, da comunicação, da imaginação e, não menos importante, da habilidade da escrita. Além disso, ao desenvolvermos o hábito da leitura estimulamos o raciocínio, aguçamos o nosso senso crítico e a nossa capacidade de interpretação e reflexão.

O problema é que somos uma sociedade mais oral e visual do que textual. No aspecto visual, quem nunca escutou a frase “uma imagem vale mais que mil palavras”? Ela é a demonstração clara de que fomos criados em um modelo que valoriza de forma excessiva a imagem e nos induz às interpretações e preferências guiadas pela percepção, dificultando a análise crítica desse impacto visual que somos diariamente expostos. No aspecto oral, é só observarmos os fatos históricos e os investimentos realizados até então. Ignoramos a alfabetização em boa parte de nossa história e, para exemplificar, só no final da década de 1910 que o termo “alfabetização” começou a ser utilizado de forma sistemática para se referir a ensino inicial da leitura e escrita. Um Brasil que acabou se desenvolvendo muito mais pela cultura da oralidade do que pela cultura letrada.

O estímulo à leitura, independentemente de situações econômicas e/ou políticas e as consequentes dificuldades geradas, precisa partir de dentro de casa. Porém, como esse estímulo pode ocorrer em um país que sempre teve dificuldade de criar políticas públicas efetivas para a Educação? Um país que tem dificuldade na distribuição de obras para escolas públicas através do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), apesar de pesquisas recentes apontarem que 48% dos estudantes do ensino básico, principalmente no Fundamental II, dependem da biblioteca escolar para ler. Um país que tradicionalmente nunca teve o hábito da leitura, se fizermos uma análise do volume de livros anualmente lidos versus a sua população.

As consequências de um país que não lê são desastrosas, pois isso dificulta a reflexão e a discussão aprofundada de questões mais complexas. Como disse inicialmente, o processo da leitura aguça o senso crítico, promove debates mais éticos, estimula o pensar criativo, o pensar comunitário e contribui para a formação de uma sociedade mais justa e humana. Ou seja, não ler é uma contribuição efetiva para que o Brasil seja cada vez mais raso.

Ainda bem que as entidades privadas da sociedade civil têm procurado minimizar essa deficiência através de múltiplas iniciativas, como feiras, atividades culturais, festivais de literatura e, em especial, bibliotecas comunitárias. Na contramão dos índices preocupantes de leitura e de todas as dificuldades de acesso, as bibliotecas comunitárias têm crescido exponencialmente e ocupado um espaço importante nas mais variadas regiões do Brasil, seja de forma real ou virtual. Inclusive, através da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias, que proporcionou o lançamento recente de uma ferramenta que possibilita conectar os leitores às múltiplas bibliotecas comunitárias espalhadas pelo país. Um mecanismo que proporciona uma contribuição efetiva no processo de democratização de leitura.

Por fim, em um sentido amplo, para que uma democratização de leitura realmente ocorra, será preciso trabalhá-la em um novo modelo, com o desenvolvimento de políticas públicas específicas para o setor e inseri-la como uma prática social e cultural recorrente.

Apesar das polêmicas envolvendo Monteiro Lobato em razão de trechos de sua obra entendidos como manifestações de racismo, não dá para deixar de encerrar esse texto sem sua citação, que evidencia a importância da leitura na formação de valores: “Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê”.

Francisco Guarisa - Artigo de 08/04/2022 - Jornal Correio da Manhã - Opinião

Marina Mantega

Brazilian TV Show Hostess and Reporter @jetsettersbr Exclusive Travel Agency Luxury Travel Lover and Digital Influencer. contato@marinamantega.com.br

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👏👏👏

Saulo Battesini

Músico e engenheiro de som.

2 a

Um país fica sempre para trás quando não se investe em educação. E o nosso Já faz um bom tempo...

Lucimar Reis

Comércio Exterior / Estratégia de Crescimento/ Conselhos / Consultoria -

2 a

Além de que, um bom livro é também uma ótima companhia, alimentando mente e alma 😉 !

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