Depois do teto de vidro, vamos falar do armário de vidro?
Terror em Orlando. Uma cidade que muitos brasileiros já conheceram durante as férias, foi palco da maior tragédia por armas de fogo dos Estados Unidos, um país onde os tiroteios em massa, infelizmente acontecem com uma triste frequência.
O assassino era homofóbico. Entrou em uma boate gay e abriu fogo. Matou 49 pessoas, deixou mais 50 feridas e traumatizou dezenas de milhares. O pai do assassino explicou que "ele viu dois homens se beijando em frente à sua mulher e ao seu filho e ficou muito irritado".
Já ouvi de gente que eu considerava minimamente inteligente absurdos parecidos com esse como “não tenho nada contra os gays, mas como vou explicar dois homens se beijando para o meu filho?”, ou “tudo bem ser gay, mas precisa ficar esfregando na nossa cara?”.
É chocante, é absurdo, mas por que falar de homofobia no LinkedIn, um lugar destinado a falar de carreira e mercado de trabalho? Porque o preconceito também existe dentro da empresa em que VOCÊ trabalha.
Existe naquele “quanta viadagem”, que algum funcionário disse. Ou no “ele é tão bonito, que pena que é gay, quanto desperdício” que alguém solta por aí. Ou no homossexual ou transexual que trabalha ao seu lado, mas precisa esconder sua orientação sexual porque sente que não seria acolhido – ou até prejudicado se tornasse sua vida íntima pública.
A revista Fortune, que lista os 500 CEOs mais importantes do mundo tem apenas um abertamente gay: Tim Cook, da Apple. Você acha mesmo que ele é o único homossexual naquela lista? Não. Ele é apenas o único que fala sobre isso. Os outros são obrigados a esconder. Lord John Browne, CEO da inglesa BP entre 1995 e 2007, por exemplo, escondeu durante anos sua homossexualidade e renunciou ao cargo meses antes de se aposentar para impedir que um tabloide noticiasse seu relacionamento com outro homem. Ele perdeu 30 milhões de dólares em ações e benefícios com a saída repentina. Tudo por medo de sofrer represálias no trabalho. Ele, depois, escreveu o livro The Glass Closet: why coming out is good business, que pode ser traduzido como O armário de vidro: porque se assumir é bom para os negócios. Gostei tanto do termo, emprestado do teto de vidro, a barreira invisível que impede as mulheres de chegar ao topo nas empresas, que o peguei emprestado para o título desse artigo.
Em 2013, conversei com o Arjan Dijk, vice-presidente de marketing para PME do Google. O executivo participa do Gayglers, um grupo de interesse criado há 10 anos por funcionários da empresa de tecnologia para tratar de assuntos de diversidade e falou também sobre os preconceitos inconscientes (falei mais sobre isso em outro post aqui do LinkedIn).
Arjan, homossexual assumido, aceitou a missão de falar sobre diversidade dentro do Google porque se sentia como um modelo para outros funcionários. “Quando eu tinha meus 20 e poucos anos, não conhecia nenhum líder que assumisse ser homossexual e fosse modelo para mim. Eu precisava pesquisar sobre isso em livros na biblioteca, porque não dava para jogar no Google naquela época. Hoje, posso mostrar aos jovens que não importam o histórico e a orientação, eles podem chegar a ser VPs de uma grande companhia”, disse.
Um dos seus funcionários, de 22 anos, graduado em Stanford, uma das melhores universidades dos Estados Unidos, contou para ele que, pouco antes de começar a trabalhar, seu pai o chamou e disse: “Filho, cuidado, não diga a eles que você é gay porque pode prejudicar sua carreira”.É triste que haja jovens recebendo essa mensagem, a de que é errado ser você mesmo. Mas é mais triste ainda que esse pai estivesse minimamente correto em alertar o filho.
O preconceito, muitas vezes, não vem junto com uma agressão ou xingamento. Ele aparece em pequenas ações e palavras ditas “sem pensar”. O próprio Arjan, já VP do Google, contou que, uma vez, estava visitando um escritório do Google em outro país e ouviu dois homens usando termos depreciativos para falar de gays. “Eu disse: 'Com licença, sinto interromper, mas estou sentado aqui e não estou gostando do que ouvi'. Eles pediram muitas desculpas e disseram que não tinham a intenção de ofender ninguém. Acredito neles, mas também acho que certas palavras não podem ter espaço no local de trabalho. Temos de ser cuidadosos quanto a isso, porque cada um recebe e sente esses comentários de forma diferente.”
A questão não é só essa. O simples fato de poder estar inteiro no trabalho, ser quem você é, não precisar se esconder ou viver uma mentira pode fazer com que as pessoas sejam mais produtivas. E maior produtividade, veja só, representa maior resultado.
Mas preconceito e homofobia são assuntos delicados. Como abordar, então, esses assuntos no trabalho? Como saber se estamos ofendendo alguém ao fazer uma brincadeira? Perguntando! Conversando, falando, transformando em um hábito o ato de se colocar no lugar do outro. “Na minha equipe, por exemplo, há uma pessoa transgênero. Quando ela voltou de férias, a chamei e perguntei como queria ser identificada (porque a pessoa havia passado por uma cirurgia de mudança de sexo durante as férias). A pessoa disse que queria ser chamada por um nome masculino. Antes da reunião semanal, avisei a todos da equipe e, pronto, tiramos esse problema da sala”, contou Arjan.
E aí, vamos tirar esse problema das nossas salas também?
Gostou do texto? Então leia mais. Eu também já escrevi sobre:
- Todo mundo é preconceituoso. O que faz a diferença é como você lida com isso
- O que aparência tem a ver com competência?
- Errou no trabalho? Pare de chorar pelo leite derramado!
- Planejar a carreira é como planejar a viagem de férias
- Um passo, sem salto, para a igualdade de gênero
[A íntegra da entrevista que fiz com o Arjan Dijk, VP do Google, você pode ler neste link]
MEDICA, POS-GRADUADA EM SAUDE DA FAMIMIA, POS-GRADUADA EM MEDICINA ESTETICA
8 aGOSTEI MUITO DE SEUS TEXTOS E INSIGTS QUE NOS TRAZEM...AJUDAM-NOS COM ALGUMAS DUVIDAS SOBRE NOS MESMOS;E PRINCIPALMENTE..NOS SUGERE EXCELENTES FORMAS DE NOS POSICIONAR SOBRE OS "PROBLEMAS" do outro...muito legal!!!
Estilista
8 asensação boa de visualizar esses lápis de cores
CHEFE ECONOMATO & GESTOR DE STOCK
8 aMariana mais uma veis elucidas as mentes com os teus comentários, obrigado.
MSc. em Governança | Certificado em Compliance | Controle Interno | Gestão de Riscos| Docente de Administração e Gestão
8 aTenho lido seus pulses aqui no Link, depois desse virei seu fã. Perfeito!