Desafios do TDAH nas Profissões de Alto Risco

Desafios do TDAH nas Profissões de Alto Risco

Na semana passada falamos de Atenção e seus distúrbios mais voltados para as situações corriqueiras da vida.

Hoje vamos falar um pouco mais sobre o tema, mas como foco voltado para o trabalho. Farei isso, com humor, porque nada melhor do que aprender se divertindo, concorda?

Começarei com uma pergunta: o que seria de nossa vida se não fosse pelos distraídos e descuidados, que hoje chamamos de portadores de TDAH ou de ADHD?

Aliás, estes distraídos ainda existem, hoje, por sorte. Porque a maior parte de seus antepassados primitivos foi devorada.

Brincadeiras a parte, cientistas têm fama de distraídos, e isso deve ser verdade pelo número de descobertas que foram feitas por essa razão.

Alexander Fleming, por exemplo, grande violinista, saiu apressado na sexta-feira para uma performance. Esqueceu de guardar as placas de Petri com as bactérias stafilococus cultivadas.

Na segunda-feira, viu que as placas tinham sido invadidas por fungos que acabaram com as bactérias. Fleming era um distraído. Porém, um otimista. Ele viu no fungo invasor um amigo contra a infecção. Foi assim a descoberta da penicilina em 1928, cuja purificação só foi possível nos anos 40.

Outros exemplos de "distraídos" daquela época: , a partir de distrações e erros, Wilhelm Röntgen desenvolveu o raio-X; Roy Plunkett esqueceu a panela no fogo e, tentado criar uma cola, acabou criando o teflon; Charles Goodyear desenvolveu a vulcanização da borracha.

E, embora estas sejam histórias romanceadas que, excepcionalmente, a distração deu bons resultados, o comum mesmo é que pessoas com TDAH acabem sempre com resultados que dão errado e muito errado.

Na nossa vida, e especialmente no trabalho, a atenção é um recurso cognitivo vital que nos permite focar em tarefas específicas, ignorar distrações e tomar decisões informadas. Quando a atenção é comprometida, chamamos de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ou ADHD, a sigla em inglês para Attention Deficit and Hyperactivity Disorder.

Isto porquê, no trabalho, quase tudo o que fazemos é baseado em processos, protocolos que definem uma sequência de ações. Imagine um operador de máquinas que precisa seguir uma sequência específica para garantir a segurança. Se ele se distrair ou agir impulsivamente, o risco de acidentes aumenta.

Em algumas profissões, esses riscos não são apenas financeiros. Mas podem ser fatais. Pense em um especialista em explosivos. A desatenção pode resultar na ativação prematura de um explosivo.

Começando pelo motorista. Aliás começando com você mesmo. Confesse. A tentação de dar uma olhada no celular enquanto dirigimos é muito grande. No engarrafamento e no sinal fechado, mais ainda. Mas se você está em velocidade, uma pequena distração e pumba, você está em cima do meio-fio ou beijando o para-choque do carro à sua frente. Para motoristas de ônibus, pilotando um ônibus lotado, ele não vai conseguir frear. E é a vida dos passageiros que estará em jogo.

Um amigo me descreveu seus dois filhos, com características totalmente diferentes no que concerne à atenção. Um focado em objetivos, comportamento estável desde o início. O segundo com uma personalidade mais aberta, facilidade de fazer amigos, inconstante no namoro. Quando ambos começaram a dirigir, o segundo manifesta sua dificuldade em localização espacial. Esbarra, arranha, tromba. O carro é largo e a rua estreita para ele.        

E por que isto acontece? Porque ele tem dificuldade no ONDE que é nossa noção de espaço. Útil para calcular o tamanho da vaga de estacionar. Ou saber calcular, antecipar a chegada do outro carro que vem em direção perpendicular. Já para a tomada de decisão com o carro em movimento, como por exemplo, mudar de faixa, é orientada pelo QUANDO: Entro agora ou espero?

Como já disse em artigos anteriores, a atenção está dividida entre estas duas vias: Onde e Quando.

E, por isso, precisamos de um equilíbrio do ONDE e QUANDO para nos concentrar no que estamos fazemos. Chamamos esta de atenção focal, principal, de trabalho. Mas se surge um perigo, algo fora do padrão, eu preciso interromper minha atenção focal e alternar para minha atenção para o outro foco. Se tenho somente atenção focal, me esqueço do mundo. Por outro lado, se qualquer coisinha desvia minha atenção, não consigo me concentrar no trabalho.

A boa notícia é que hoje conseguimos mapear essas duas habilidades e até mesmo corrigir grande parte dessas dificuldades. Especialmente aquelas relacionadas com a via do ONDE e QUANDO, que até há pouco tempo não tinham correção.

Estas são notícias boas para as pessoas e ótimas para as empresas, que podem e devem selecionar seus colaboradores em trabalhos de alto risco usando este conhecimento.

Continuaremos a falar de atenção nos próximos artigos.

Até a próxima!


Thiago Sixel

Especialista de Produtos | Gestão de Produtos

6 m

Recebi meu diagnóstico oficial de TDAH há cerca de seis anos. Passei a vida inteira achando que perder coisas, esquecer itens em casa e não terminar atividades era totalmente culpa minha. Ouvia de todos que eu era distraído, vivia com a cabeça nas nuvens, não prestava atenção no que os outros diziam e que meus problemas com matemática eram pura preguiça. Ou seja, achavam que ser assim era uma questão de escolha. Depois do diagnóstico, tive acesso à psicologia neurocomportamental e à medicação adequada, ajustada às minhas necessidades. Minha vida mudou. Como o Dr. sabe, eu queria ser piloto de avião. Mas TDAH e aviação? Agora, conhecendo-me melhor, tenho certeza de que seria um excelente piloto, mas nunca um piloto de linha aérea. Apesar de saber que não decolaria sem revisar o checklist duas vezes, jamais conseguiria me adaptar à rotina monótona de um piloto de linha aérea. Sobre a matemática: segundo a análise de neurofeedback que fiz em uma das sessões de terapia, o comportamento do meu cérebro quando confrontado com uma questão matemática produz a mesma resposta que a dor física.

Janis Peters Grants

Jānis-Pēters Grants - Analista de Sistemas Web Java Full Stack e Desktop, Gestão e Fiscal (JAVA Angular/Spring, Delphi)

6 m

; Sim. Eu postei um Tópico no meu #LinkedIn - e aqui - onde o FOCO central da dissertação, do "artigo", é apenas aquele insignificante ponto-e-vírgula ali acima. - VOCÊ o enxergou ?! Para você que não é um Desenvolvedor, um Programador, isso PRESENTE e/ou AUSENTE, lugares certos ou errados, não significa absolutamente nada. Mas quando trata-se de Análise de Requisitos, Estudo de Viabilidade, Design, Codificação, Teste, Instalação, Deploy e Manutenção de SOFTWARES com qualidade, com prazos rígidos, atividades que exigem muita leitura e extrema atenção - em folhas de papel ou telas de celulares, desktops e servidores, em trabalhos como autônomo ou integrante de equipes, presenciais ou home office, A PRODUTIVIDADE comprometida certamente "despertará a lebre", ou a fúria do PATRÃO, do CONTRATANTE, principalmente quando de um com perfil de um #TiranossápiensLex ... Pois é. Cada um com seus monstros; com seus problemas; Nem sempre, uma simples questão pontual. 🤔 😮 😡 👎 "... história de ceratotomia radial, evoluindo com complicações tardias apresentando córnea com deformidade central, leucomas e neovascularização, com visão subnormal com AV CC 20/100 e 20/60". #CID H18 H542 #Oftalmologia 😡 👎

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José Alexandrino Machado

Conselheiro Consultivo Certificado, Gerente Geral em Refino e Mineração, Gerente de SSMA e Segurança Operacional, Gerente de Operações, Consultor em Gerenciamento de Riscos Operacionais, Auditor SGSO ANP, SGI e Barreiras

6 m

Excelente texto Dr Ricardo. Realmente os portadores de TDAH podem conviver com o distúrbio através dos recursos e estratégias atuais da medicina e serem destaque em muitas atividades profissionais como destacado ao longo do seu texto. Vários artigos descrevem que muitos que tem o TDAH podem ter maior concentração que os demais em atividades que eles gostam muito de fazer. Talvez essa seja a explicação para termos tantos portadores de TDHA entre cientistas, artistas , empresários e outros profissionais. Excelente abordagem!

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