Desenhando limites e a arte da empatia

Desenhando limites e a arte da empatia

Eu tinha acabado de voltar de licença maternidade do meu segundo filho, e assumi uma nova posição no trabalho. A colega que estava até então naquela posição me contou que o chefe, apesar estar fisicamente distante, era muito próximo e falava diariamente com todas as pessoas do seu time. Ótimo! – pensei, vou ter o apoio que eu preciso para passar pela curva de aprendizagem na nova função.

Eram 19hs, eu estava em casa dando o jantar para os pequeninos, quando tocou o meu celular. Atendi no susto, era meu novo chefe. Fiquei preocupada, o que poderia ter acontecido? Ele me disse que queria saber como eu estava. Agradeci, disse que eu estava bem. Dia seguinte ele me liga de novo, por volta de 19hs mais uma vez.

Resolvi perguntar para minha colega se eles se falavam sempre este horário, ela me disse que ele ligava do viva-voz do carro enquanto fazia o percurso do escritório para a casa dele. Que bom que ele queria saber como eu estava e como estava meu trabalho, mas para mim este horário não funcionava. Eu tinha que desenhar os contornos dos meus limites, independente do mundo super conectado em que vivemos, para mim era muito importante estabelecer até onde vai meu trabalho e quais são os momentos que me dedico para minha família.

Então decidi conversar com ele e explicar que depois das 18hs era o momento de dar banho e jantar para meus filhos. Será que poderíamos falar em outro horário ao longo do dia? – perguntei. Ele me entendeu e com isso passamos a não nos falar todos os dias, já que entre 9hs e 18hs a agenda dele era absolutamente lotada. Encontramos outras formas de nos comunicar, com frequências e horários que funcionavam para mim e para ele.

Comunicar quais são os limites

Eu gosto de pensar nesta história como um lembrete para mim mesma, de sempre estabelecer meus próprios limites e também comunicá-los. É importante que eu saiba quais são os limites saudáveis para mim, e que eu compartilhe estes limites com as pessoas ao meu redor, em conversas claras para dar a chance de as pessoas conhecerem e respeitarem meus limites.

Para a minha colega que estava antes na posição, este horário de ligação às 19hs funcionava muito bem, como forma de repassar o que tinha acontecido durante o dia de trabalho e alinhar próximos passos, então ela estava satisfeita com esta dinâmica. No entanto, para mim seria um sofrimento diário ter que interromper o tempo com meus filhos para falar com meu chefe.

Um exemplo de empatia

Meu novo chefe felizmente foi bastante empático, entendeu que para mim era muito importante preservar o tempo com a família e concordou em adaptar a nossa forma de comunicação, nos falando em outros horários e de outras maneiras.

Empatia sempre foi uma habilidade crítica para líderes, mas em um passado não muito distante, a empatia era considerada uma “soft skill”, quase vista como uma qualidade “fofa e simpática”. Agora, com crescentes casos de burnout e cada vez mais destaque para as questões de bem-estar no trabalho, eis que a empatia finalmente está assumindo o destaque que eu acredito que ela merece ter na construção das culturas das organizações.

Mas afinal, o que é empatia?

Para ajudar a cultivar e desenvolver a empatia, acho interessante citar a regra de ouro e a regra de platina. A primeira se aplica à empatia afetiva, ou seja, a conhecida regra de “tratar o outro como você gostaria de ser tratado”. O problema com esta forma de empatia é que somos pessoas diferentes. A minha colega e meu chefe estavam felizes em falar todos os dias às 19hs. Mas para mim isto seria um grande sofrimento. Então tratar os outros como você gostaria de ser tratado nem sempre é a melhor solução.

A regra de platina se aplica à empatia cognitiva, ou “tratar o outro como ele gostaria de ser tratado”, compreendendo a experiência emocional da outra pessoa. O mais interessante é que a forma de tratar o outro como ele gostaria de ser tratado não é adivinhando, é escutando. Se tenta adivinhar, o risco é voltar para a posição anterior.

Para aplicar a empatia cognitiva é fundamental conversar, praticando a escuta ativa, fazendo perguntas abertas, com interesse genuíno e sem julgamento. Isso é tomar perspectiva, com atenção no que a pessoa está te transmitindo, para que a pessoa se sinta realmente escutada e depois você possa escolher as suas atitudes positivas com base nisso. É claro que uma organização precisa dar resultados, e nem todos os pedidos são factíveis, mas muitas vezes entendendo as necessidades que estão latentes é possível chegar a uma solução bastante efetiva.

A arte da empatia e o bem-estar

A arte da empatia contribui para construção de relacionamentos positivos e culturas organizacionais que geram resultados consistentes ao longo do tempo. Empatia não é uma nova habilidade, mas a sua relevância se tornou ainda maior em um cenário com preocupações crescentes em se criar condições para mais bem-estar no trabalho. Considerando sempre que o significado de “bem-estar” na prática é diferente para cada pessoa, já que cada um tem seus próprios limites, necessidades e valores.

Então, eu agradeço meu chefe por ter me escutado e praticado a empatia cognitiva, entendo e respeitando meus limites, para que eu pudesse ter o tempo tão precioso para me dedicar exclusivamente aos meus filhos depois de um dia intenso de trabalho.

Espero sinceramente que cada vez mais pessoas possam deixar claros seus limites saudáveis de trabalho, conversando com líderes que escutem e se interessem de forma genuína, líderes que pratiquem a empatia e cuidem das pessoas como elas querem e merecem ser cuidadas.


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JULIANA CAIUBY é fundadora da Ancoragem, com o propósito de encorajar pessoas nos seus processos conscientes de desenvolvimento, através de coaching e mentoring. Tendo passado por muitos desafios e experiências durante mais de 15 anos como executiva, Juliana acredita que todas as pessoas merecem viver com mais harmonia e significado.

Este artigo faz parte dos princípios de Liderança Ancoragem, aprofundando sobre a Empatia, a segunda onda para desenvolver a sua Liderança Interpessoal.

Priscila Piatto

Gerente de Supply Chain | Planejamento de Demanda e Produção | Customer Services | Projetos

3 a

Muitas vezes nos sentimos desconfortáveis para desenhar estes limites, temendo ser mal interpretados. Isto com o tempo vai minando nossa energia, reduzindo nossa produtividade e podendo desencadear uma série de problemas psicológicos. Líderes e liderados precisam desenvolver este diálogo de forma efetiva.

Este artigo faz parte dos 12 Princípios de Liderança Ancoragem: ⚓5 práticas para ancorar sua Liderança Pessoal 🌊4 ondas para inspirar sua Liderança Interpessoal 🧭3 bússolas para direcionar sua Liderança Coletiva Segunda onda: EMPATIA

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