Diário de Carreira: Quem é mais apto a traduzir documentos: um profissional com formação linguística ou um técnico no assunto?

Diário de Carreira: Quem é mais apto a traduzir documentos: um profissional com formação linguística ou um técnico no assunto?

Rio, 23 de agosto

Quais são as principais qualidades de um tradutor? A resposta, claro, não é simples e, com certeza, há controvérsias. Que um tradutor deve ser apaixonado por idiomas, leitor compulsivo e perfeccionista, não se discute. Mas, um debate antigo, e que, até onde eu saiba, não levou à conclusão alguma, diz respeito a quem seria mais indicado para traduzir: um profissional com formação linguística ou um técnico no assunto a ser traduzido? Um texto na área de medicina, por exemplo, seria mais bem traduzido por um tradutor com formação em letras ou por um médico que conhecesse o idioma? De um modo geral, as agências acabam utilizando os dois profissionais, um para traduzir e o outro para revisar.

As pessoas costumam ignorar outro aspecto relevante para quem quer ser tradutor: mais do que o idioma estrangeiro, é essencial dominar o português. Normalmente, com honrosas exceções, pede-se ao tradutor que traduza para a sua língua natal. Até podemos encontrar profissionais brasileiros traduzindo do português para outros idiomas, mas, como disse antes, isso é raro. Certos organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), por exemplo, sequer cogita a contratação de um tradutor brasileiro para traduzir para qualquer idioma que não o português.

Existe, ainda, a questão relacionada à remuneração do tradutor. Os trabalhos normalmente são cobrados em função do número de laudas. Aliás, lauda é uma invenção brasileira, pois não existe em qualquer outro lugar. O que é uma lauda? Nos tempos da máquina de escrever, a lauda ainda se justificava, a página era tabulada e o número de palavras datilografadas praticamente se repetia de página para página. Hoje, com o computador, isso não se justifica.

Temos a lauda juramentada, a lauda jornalística, a lauda literária e por aí vai. No mundo inteiro cobra-se pela palavra e esse é um critério bastante justo, desde que você não traduza para o alemão. Nesse caso, cobra-se pelo número de caracteres, pois as palavras podem ser quilométricas.

Na outra ponta está o cliente, que normalmente não faz ideia do processo tradutório e entrega um texto com 20 mil palavras e espera a tradução pronta e revisada no mesmo dia. Isso quando o cliente não explica ao telefone que o documento que precisa ser traduzido é muito fácil e possui apenas duas páginas. O total de palavras contidas em duas páginas pode variar muito.

Basta pensar no trabalho que daria traduzir duas páginas da Bíblia ou do Diário Oficial da União (DOU). Essa é uma questão que atinge os freelas. No início da carreira, minha sugestão é que o tradutor menos experiente busque as agências de tradução. Mas, as principais diferenças entre o trabalho do freela e do tradutor de agência serão abordadas no post de amanhã.

Paulo Macedo é tradutor juramentado e sócio do Flash! Idiomas

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