Os desafios de um tradutor
Traduzir um artigo, um texto, um livro, uma fala, etc parece ser uma tarefa fácil e que "todo mundo sabe fazer, pois é só dominar dois ou mais idiomas e pronto". Infelizmente não é assim que funciona. O processo de tradução vai muito além de "somente" saber dois idiomas e ser fluente ou ter um bom domínio de ambos. Quando decidi fazer o curso para tradutores profissionais, eu tinha duas características: (1) eu sabia os dois idiomas, dava aulas de inglês já há um certo tempo, mas (2) não sabia "transitar" entre um idioma e outro. Nas minhas aulas, meus alunos me perguntavam "e como se fala isso em português?" e muitas vezes eu não tinha a resposta. Aprendi inglês numa época em que era "proibido" falar português em sala de aula - eu achava até válido adotar essa prática, mas é difícil desvincular do seu "idioma de segurança" para aprender outro, o qual você nunca experimentou falar antes. Consegui! Tanto consegui, que não sabia relacionar os termos entre um idioma e outro, nem fazer a tradução correta - eu só entendia o contexto naquele idioma, e pronto! Foi aí que decidi colocar meus conhecimentos em prática numa outra esfera - a de tradução.
Além de aprender as técnicas para realizar uma boa tradução, esse processo exige muito mais do futuro tradutor do que "só" frequentar as aulas - é preciso ler, ler e ler. Meu professor costumava dizer que "vocês devem ler 1 jornal por dia, uma revista por semana e um livro por mês". Pensei comigo, "como vou fazer isso?" Enfim, abracei o desafio e foram dois anos de muitos estudos. Ao final do curso vem o diploma, e você descobre que precisa aprender a colocar o preço no seu trabalho. E agora? Pesquisas de mercado, valores praticados, formas de pagamento - tudo é preciso saber.
Além dos valores, do computador que você precisa ter para poder trabalhar, e do domínio dos dois idiomas, hoje em dia tradutores utilizam as CAT Tools (Computer Assisted Translation Tools) que auxiliam na produção diária do tradutor. No entanto, muitos clientes não sabem do que se trata, e pensam que "a máquina realiza a tradução" e a produção do tradutor só aumenta - bem como a sua receita financeira. Não é bem assim.
Além de mensurar a quantidade de pilhas de textos de um cliente para fins de orçamento, uma CAT tool tem a função de armazenar os termos que determinado cliente prefere que o tradutor use em seu trabalho; assim, quando o termo aparece no texto original, o tradutor avalia se aquele termo traduzido pode ser usado ou não. Um trabalho realizado num software de tradução exige 100% de atenção do tradutor, pois um termo pode ser sugerido, mas não necessariamente utilizado daquela forma - precisa estar em sincronia com o contexto e atender às exigências do cliente. Há clientes que pensam que o tradutor "joga" o texto no software e ...voilá - vem a tradução num piscar de olhos, e o tradutor só clica para salvar o trabalho e pronto! Não! (Isso quem faz é o Google Translator que, diga-se de passagem, tem melhorado sua Inteligência Artificial significamente nos últimos anos para resolver o problema do usuário, mas ainda "não chegou lá"). O tradutor faz toda a digitação da tradução, todas as consultas de termos - em livros, glossários, sites, etc - e tem por obrigação, entregar um trabalho exemplar - e digno de elogios - para o cliente.
Antes de oferecer um orçamento, o tradutor precisa estudar o texto a ser traduzido. Isso demanda tempo; ou seja, nem sempre é possível estipular o valor de um serviço sem antes ler o conteúdo e estudar a sua complexidade.
Então, vejamos. O tradutor recebeu o texto, estudou, estipulou preço e prazo (a não ser que o cliente já tenha informado o prazo que precisa para ter o documento de volta e traduzido), e o cliente aceitou. Mãos à obra!
A tradução é feita. Chegou a hora da revisão. É preciso ter um olhar muito clínico e muito conhecimento das regras gramaticais (verbos, concordância verbal e nominal - lembram disso dos tempos de escola?) e, acima de tudo, a leitura precisa fluir e não, empacar! Empacou, é porque tem dúvidas ou algo não está certo ali.
Quando o tradutor estiver confiante de que seu trabalho está coerente com aquilo que o cliente espera, é a hora certa de entregar.
Por fim, é de extrema importância que o tradutor esteja sempre atento às atualizações e práticas de mercado, participando de workshops e cursos de reciclagem, além de manter contato com seus colegas, pois esses podem trazer boas colaborações tanto na forma de compartilhamento de conhecimento, como no aumento da carteira de clientes.
Em tempos onde a informação corre mais rápido do que a velocidade da luz, é preciso estar atenado sempre!